Governo adota medidas alternativas de combate à alta de preços
04/05/2011 - 16:41
Desde o final de 2010, o Banco Central vem usando instrumentos alternativos à alta das taxas de juros para conter a inflação, as chamadas medidas macroprudenciais. A contenção do crédito, com restrições à tomada de empréstimos, e a elevação do depósito compulsório (parte das captações de bancos comerciais e outras instituições financeiras que devem ser depositadas junto ao BC), entre outras, vão ao encontro do debate internacional sobre a condução da economia desenvolvido após a crise de 2008. Desde então, analistas destacam os riscos do enfoque excessivo na gestão dos juros para controle da inflação.
O aquecimento do mercado de trabalho, o aumento da renda e a alta nos preços internacionais de matérias-primas, alimentos e energia são citados como algumas das causas para a pressão inflacionária no Brasil. Para o deputado Cláudio Puty (PT-PA), a combinação de medidas variadas, que vem sendo adotada pelo BC, é o caminho correto para o controle da alta dos preços.
Puty lembra que os grupos alimentação e transportes foram os principais responsáveis pela inflação medida no último IPCA-15, uma espécie de prévia do IPCA de abril. “O item alimentação é composto principalmente pelas commodities, e o item transporte pelos combustíveis. Nem sempre as medidas tradicionais de aumento de juros impactam esses tipos de preço”, argumentou.
O deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) também concorda com política adotada pelo BC e pediu cautela na análise dos seus resultados. “No Brasil, temos movimentos econômicos complexos e as reações às ações implementadas não são imediatas”, disse.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já anunciou esperar que a inflação atinja a meta de 4,5% apenas em 2012. Neste ano, a expectativa da autoridade monetária é de que a inflação feche o período em 5,6%.
Juros em alta
Em abril último, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto, para 12% ao ano. A medida, segundo o deputado Audifax (PSB-ES), sinaliza que o governo ainda conta com a taxa de juros para conter a inflação. Sua elevação, segundo o deputado, é um “mal necessário” que deve ser combinado com outras estratégias.
O risco da elevação dos juros é a excessiva valorização do real, o que barateia os produtos importados. A facilidade para a compra dos bens produzidos no exterior, em última instância, pode gerar danos para a indústria nacional. “O Brasil está em uma encruzilhada. O dólar baixo ajuda a conter a inflação, mas promove a desindustrialização, o que é muito preocupante”, resumiu o deputado Guilherme Campos (DEM-SP).
Contas públicas
Para conter a alta dos preços no País, Audifax destaca a necessidade de ajuste nas contas do governo. Segundo ele, é preciso diminuir despesas e aumentar receitas. Já para Guilherme Campos, o importante agora é cortar gastos: “As ações adotadas ainda são insuficientes. O governo tem de cortar custos, impedir os gatilhos salariais. Estamos pagando o preço das benesses dadas na gestão anterior”.
Neste ano, o governo decidiu cortar R$ 50 bilhões nos gastos públicos, mas deve manter os investimentos programados. A decisão, aliada ao aumento na arrecadação de impostos, repercutiu nas contas públicas: o superavit primário alcançou R$ 13,6 bilhões em março último, o melhor resultado para o mês desde 2001, segundo o BC. No primeiro trimestre deste ano, chegou a R$ 39,3 bilhões.
Reportagem – Carolina Pompeu
Edição – Ralph Machado