Relações exteriores

Celso Amorim critica novas sanções ao Irã impostas pela ONU

Entre as medidas aprovadas hoje pela ONU estão restrições a bancos iranianos no exterior e o embargo de armas enviadas ao país islâmico.

09/06/2010 - 20:29  

Saulo Cruz
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Celso Amorim defende o acordo do Brasil e da Turquia com o Irã em entrevista à Rádio Câmara. Para ouvir a reportagem completa clique aqui.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, criticou a aprovação pela Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira de uma nova rodada de sanções ao programa nuclear do Irã.

Segundo Amorim, os países que votaram a favor da resolução podem ter sofrido pressão dos cinco integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e China). "Há nações que são mais frágeis. No passado, havia coisas que nós também não podíamos dizer porque dependíamos do Fundo Monetário Internacional (FMI)", comparou.

Reação
Para o ministro, que participou de audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional poucas horas após a decisão das Nações Unidas, as novas punições representam uma reação dos países do Conselho de Segurança à assinatura, em maio, da Declaração de Teerã.

Por meio deste acordo, que foi mediado por Brasil e Turquia, o Irã se compromete a trocar urânio levemente enriquecido por combustíveis nucleares. "Passou a haver pressa de aprovar a resolução com sanções, pois a opinião internacional passou a ver méritos cada vez maiores no acordo", defendeu.

O deputado Nilson Mourão (PT-AC) ressaltou que a política externa do governo Lula é contestada por algumas autoridades por romper com o padrão de dependência dos Estados Unidos. "Alguns setores agem como na Guerra Fria, querem ter o monopólio das soluções. Agora estão incomodados", sustentou.

O deputado José Genoíno (PT-SP) também declarou apoio à “ousadia” brasileira de propor uma nova agenda internacional.

Melhor caminho
Na opinião de Amorim, a proposta mediada pelo Brasil representa o melhor caminho para restabelecer o diálogo com o Irã. "O acordo cria uma situação nova e ajuda a estabelecer confiança. Pela primeira vez, os países que negociavam com o Irã reconhecem o direito do país de enriquecer urânio", disse.

Para o ministro, a nova rodada de represálias ao país islâmico não surtirá efeitos, assim como ocorreu com as três anteriores. A atual resolução da ONU prevê, entre outros pontos, restrições a bancos iranianos no exterior, caso haja suspeita de ligação com programas nucleares ou de mísseis. Além disso, amplia o embargo de armas contra o país islâmico.

Interesse nacional
Autor do requerimento para a realização da audiência, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) atacou o engajamento brasileiro no problema nuclear do país islâmico. "Não temos fronteira com o Irã e o intercâmbio comercial com o país é modesto. Não há interesse nacional nessa atuação brasileira", sustentou.

Por sua vez, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) contra-argumentou que não é possível dissociar o interesse nacional dos conflitos internacionais. "Com o crescimento de sua economia, o Brasil conseguiu ampliar seus espaços e teve de ampliar sua atuações em crises externas ", ressaltou.

Reputação
O deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP), outro proponente da reunião, concordou com Jungmann que não há razão para o envolvimento brasileiro no problema do Irã. "Está havendo uma contaminação inadequada e desnecessária [da diplomacia brasileira] quanto a aspectos ideológicos", sustentou.

Jungmann disse ainda que o Brasil compromete sua reputação ao aliar-se ao país presidido por Mahmoud Ahmadinejad. "Estamos associando nossa imagem a uma ditadura que viola direitos humanos. Não gostaria de ver o mundo nos acusar de possibilitar ao Irã realizar um teste atômico", declarou.

Celso Amorim rebateu que o Brasil não fez nada para legitimar o regime do Irã. "Tudo que fizemos foi conseguir aprovar a proposta dos países do Conselho de Segurança", disse.

Reportagem – Maria Neves
Edição – Marcelo Oliveira

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