Direitos Humanos

Deputado diz que a Abolição da Escravatura ainda é um processo inacabado

O jovem negro corre 130% mais risco de ser assassinado no Brasil do que o jovem branco, diz Carlos Santana, que cobra a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial.

13/05/2010 - 08:18  

Laycer Tomaz
Santana diz que as cotas foram uma gande conquista.

Os 122 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, que se completam hoje, ainda não merecem ser comemorados, na avaliação do deputado Carlos Santana (PT-RJ), que presidiu na Câmara a comissão especial que analisou o Estatuto da Igualdade Racial. "A abolição é um processo inacabado", diz Santana, ao salientar que o negro, mesmo participando ativamente da política nacional, enfrenta barreiras que fazem com que sua representatividade no Congresso seja inócua.

Para o deputado, noo Brasil de hoje, a dificuldade de inserção da população negra na universidade é semelhante à que existia há mais de meio século nos Estados Unidos, país onde a segregação racial sempre foi muito forte. Ele aponta o sistema de cotas como a forma mais eficiente para promover o acesso dos negros ao ensino superior.

Por que há pouco a comemorar em 13 de maio?
Carlos Santana
- O sistema de cotas para o acesso de negros à universidade foi uma das grandes conquistas, apesar da contestação de parte da sociedade que não assume sua face racista. Chegamos aos 122 anos da Abolição, e ela continua inacabada diante da realidade de opressão e do racismo na qual se encontram os afrodescendentes que, no Brasil, ainda estão na base da pirâmide econômica, morando nas favelas, nas palafitas, têm um péssimo ensino, salário menor e sofrem o extermínio causado pela violência. Depois de todo esse tempo, o jovem negro corre 130% mais risco de ser assassinado do que o jovem branco, e as desigualdades ainda são maiores que em 1888. As últimas aferições mostram que, a cada hora, um jovem negro é assassinado no Brasil.

Quais os principais avanços conquistados pela população afrodescendente até agora?
Carlos Santana
- A aprovação do Estatuto da Igualdade Racial na Câmara dos Deputados foi um grande passo, um salto positivo, apesar da permanente investida dos ruralistas e da indiferença do Senado Federal, que não se empenha e emperra a transformação do texto em lei. Entendo que o Estatuto é o reconhecimento de que houve 350 anos de escravidão e, entre outras conquistas, reconhecer as religiões de origem africana. No Brasil, o racismo é gritante, incubado, mas com a vigência do Estatuto da Igualdade Racial, cuja comissão especial tive a honra de presidir, teremos um importante instrumento legal para prosseguir na luta para conquistar as reivindicações da população negra. Infelizmente, a estagnação do estatuto no Senado não nos incentiva a comemorar o 13 de maio.

Quais os principais entraves para a aprovação do estatuto pelos senadores?
Carlos Santana
- Lá ainda existem integrantes dos setores conservadores da sociedade que representam a antiga visão dos senhores feudais. Para os senadores, o lobby dos ruralistas é mais forte que o clamor dos afrodescendentes. Além disso, a mídia, além de não esclarecer sobre o estatuto, também trabalha contra a aprovação do texto.

Quais mudanças na legislação ajudaram a reparar injustiças contra os afrodescendentes?
Carlos Santana
- Apesar de a luta contra o racismo ainda estar longe de seu fim, continuamos obtendo vitórias, como a definição do racismo como crime inafiançável e a criação das cotas universitárias, e temos como aliado o governo Lula, que promove a inclusão dos negros brasileiros. Com a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, que espero aconteça em breve, teremos o incentivo à contratação de negros em empresas, o reconhecimento da capoeira como esporte, a reclusão de até três anos para quem praticar racismo na internet, o livre exercício dos cultos religiosos de origem africana, o estímulo às atividades produtivas da população negra no campo e a obrigatoriedade de os partidos apresentar 10% de candidatos negros nas eleições.

Reportagem – Luiz Paulo Pieri
Edição – Wilson Silveira

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