Direitos Humanos

Especialista defende cotas para criar elite intelectual negra

18/11/2009 - 19:47  

O papel do sistema de cotas raciais consiste em criar uma elite intelectual negra, e não em acabar com as desigualdades. Por defender essa ideia, o diretor de Estudos, Cooperação Técnica e Políticas Internacionais do Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Mário Theodoro, afirma não fazer sentido falar em cotas sociais mas sim para afrodescendentes. "As cotas servem para moldar uma elite intelectual negra. Para colorir a nossa elite que é pálida", sustenta.

Em audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, nesta quarta-feira, para discutir a política de cotas para afrodescendentes, Theodoro ressaltou ainda que as ditas cotas sociais, para estudantes de escolas públicas, são anti-republicanas.

"A escola gratuita tem de ser tão boa quanto a privada, do contrário teremos cidadania plena para alunos da escola privada e uma meia cidadania para os da escola pública", sustenta.

Equidade
Também na concepção do conselheiro do Conselho de Defesa dos Direitos dos Negros da Secretaria de Justiça dos Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal Nelson Inocêncio as cotas relacionam-se não ao princípio da igualdade, mas ao da equidade.

A função da medida, conforme acredita, é estabelecer um ponto de partida menos desigual para os diferente grupos. "Pessoas tratadas desigualmente precisam de políticas diferenciadas", ressalta.

Mário Theodoro acredita que a "virulência" na discussão das cotas raciais "só tem uma explicação - a qualidade do ensino público de nível superior". Ele lembra que o Estado brasileiro é reconhecido como péssimo provedor de serviço, mas a universidade pública é considerada excelente. "Esse é o filé que as elites brancas não querem dividir", entende.

Quanto ao argumento de que a política de cotas poderia comprometer a qualidade do ensino, Nelson Inocêncio argumenta que a finalidade desse mecanismo não é avaliar a capacidade dos indivíduos, mas garantir oportunidades.

Theodoro lembra, inclusive, que "a maior parte de nossa elite que foi se formar em universidades norte-americanas se utilizou do sistema de reserva de vagas para estudantes estrangeiros, e nem por isso se falou em meritocracia".

Desempenho
A experiência da Universidade de Brasília (UnB), que adotou o sistema de cotas raciais em 2004, atesta que o modelo não interfere na qualidade do ensino, conforme declara a coordenadora do Centro de Convivência Negra da instituição, Deborah Santos.

Embora os estudos sobre o desempenho dos estudantes que ingressaram pelas cotas ainda não estejam concluídos, ela informa que já se constatou, por exemplo, que a evasão desses alunos é muito menor que a dos brancos.

Ainda de acordo com a coordenadora, dos 3.700 estudantes beneficiados pela política, 179 já concluíram seus cursos, e outros 300 devem se formar no final deste ano. "Alguns desses alunos estão concluindo os estudos antes dos quatro anos que deveriam durar", acrescenta.

Continua:
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Reportagem – Maria Neves
Edição - Newton Araújo

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