Campanha enfatiza violência sutil contra mulheres
18/11/2009 - 19:26
A campanha "16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres", lançada na Câmara nesta quarta-feira, terá como foco a chamada violência sutil - atos de violência moral, psicológica e de controle econômico, entre outros, considerados "normais" ou "naturais" pelo fato de estarem arraigados na sociedade e de não serem claramente percebidos como violência pelas próprias mulheres.
O movimento acontece desde 1991 em 159 países e é coordenado pela organização não governamental Ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento (Agende). A diretora da ONG, Marlene Libardoni, explica que a violência sutil é quase imperceptível e geralmente é banalizada tanto por homens como por mulheres.
Ela citou o exemplo da estudante da Uniban, hostilizada pelos colegas porque usava um vestido curto. "Esse episódio choca tremendamente porque, neste século, uma mulher é vista desta maneira porque andou com uma minissaia, quando muitas de nós usamos minissaias iguais à dela. É intolerável que um grupo tão grande de alunos, de colegas, homens e mulheres tenham tomado esta atitude contra ela."
A campanha conta com o apoio da bancada feminina da Câmara. Coordenadora da bancada, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) disse que as parlamentares estão especialmente empenhadas na luta contra a flexibilização da Lei Maria da Penha.
Cestas básicas
Segundo Alice Portugal, a bancada feminina vai convidar a farmacêutica Maria da Penha para um debate sobre o tema no mês que vem. A ideia é impedir que o agressor pague por seu crime com cestas básicas. "É uma lei que de fato coloca em ordem e criminaliza o agressor, mas infelizmente a Lei Maria da Penha vem sofrendo agressões terríveis, agora no Senado, no processo de reforma do Código de Processo Penal."
A representante da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres Kátia Guimarães ressaltou que a Central de Atendimento à Mulher (número 180) registrou, neste ano, cerca de 116 mil ligações. "Isso significa que ainda temos estatísticas elevadas de mulheres que se encontram nessa situação (de violência). A tentativa de dar visibilidade à campanha dos 16 dias tem, sobretudo, a finalidade de mostrar que existem hoje, no governo federal, canais de serviços que atendem a essas mulheres."
Coragem para denunciar
Para a deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) a campanha é uma forma de encorajar a mulher a denunciar situações de violência.
Luiza Erundina (PSB-SP) destacou que faz sentido a edição anual da campanha porque a luta para eliminar a violência contra a mulher é um processo lento. "A campanha deve ser fortalecida e a compreensão da sociedade sobre sua importância deve ser ampliada."
A campanha é desenvolvida no Brasil por meio de uma rede de parcerias nacionais, estaduais e municipais, entre os dias 20 de novembro a 10 de dezembro; e em mais 158 países de 25 de novembro a 10 de dezembro.
Números
Uma pesquisa do Data Senado, feita neste ano, aponta que 62% das entrevistadas disseram conhecer mulheres que já sofreram violência doméstica e familiar. Entre os tipos de violência sofrida, as mais citadas foram a física (55%), a moral (16%) e a psicológica (15%). De acordo com um levantamento promovido em 2002 pela Fundação Perseu Abramo, no Brasil a cada 15 segundos uma mulher é espancada pelo marido ou companheiro.
Notícias relacionadas:
Violência doméstica poderá ser apurada sem denúncia da vítima
Lei Maria da Penha está sob ameaça, alerta deputada
Reportagem - Idhelene Macedo/ Rádio Câmara
Edição - Regina Céli Assumpção
(Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura `Agência Câmara`)
Agência Câmara
Tel. (61) 3216.1851/3216.1852
Fax. (61) 3216.1856
E-mail:agencia@camara.gov.br