Especialistas alertam para perigo de cheia na Região Amazônica
14/04/2009 - 16:40
O diretor-presidente do Serviço Geológico do Brasil, Agamenon Dantas, afirmou nesta terça-feira que a cheia no sistema dos rios Negro e Solimões, na Amazônia, deverá alcançar em 2009 o maior nível da série histórica. Devido à extensão e localização desses rios, a cheia poderá ser a maior já registrada em toda a Região Amazônica.
Segundo Dantas, os dados coletados em abril indicam uma probabilidade de 87% de o nível ficar entre o intervalo de 29,33 metros e 30,03 metros em meados de junho. A maior cheia foi verificada em 1953, quando as águas chegaram a 29,69 metros acima do índice normal. Caso a previsão se confirme, a população da região deverá conviver com o nível acima de 29 metros por até dois meses.
O cálculo é feito a partir da apuração pluviométrica em cerca de 300 estações distribuídas pela chamada Amazônia Ocidental. "É preciso unir os órgãos públicos a fim de discutir soluções para uma eventual emergência na região", declarou Dantas, em audiência pública sobre medidas para enfrentar enchentes em áreas de risco, promovida pela Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional.
Sem plano de socorro
Apesar do alerta, o diretor de Regularização Fundiária do Ministério das Cidades, Celso Santos Carvalho, admitiu que o governo federal não tem um plano específico para se antecipar às enchentes. Carvalho disse que, apesar de os desastres mais comuns na região serem as enchentes, a cobrança antecipada por um plano de socorro "é um problema novo" que será levado ao ministro das Cidades, Márcio Fortes.
"Há uma lacuna no governo federal, nos estados e nas prefeituras, de uma forma geral", declarou. "A ação principal de todas as nossas políticas é da prefeitura e, a partir deste momento [a audiência pública], nos foi colocado um desafio, vou levar questão ao ministro, dizer que é um problema novo, que vai acontecer um desastre daqui a dois meses, e ver o que podemos fazer", disse.
Diante dessa constatação, o deputado Antonio Feijão (PSDB-AP) criticou o governo por não ter estruturado "medidas concretas" para minimizar os efeitos das enchentes. O deputado foi um dos autores do requerimento para a audiência pública e ressaltou que mais de 2 milhões de pessoas moram em áreas de risco na região. "Estou vendo uma catástrofe na Amazônia", disse o deputado. "Se isso ocorresse no Rio de Janeiro ou em Santa Catarina, a conversa seria outra [e haveria medidas preventivas mais estruturadas]."
O 1° vice-presidente da comissão, deputado Sergio Petecão (PMN-AC), lembrou que as cheias já estão atingindo seu estado e que a eficácia de algumas medidas é afetada pela burocracia. "Milhares de famílias serão prejudicadas. A região precisa de uma operação de guerra, porque vamos viver situação jamais vista."
Plano
Já o diretor do Departamento de Reabilitação e Reconstrução da Secretaria Nacional de Defesa Civil, coronel José Luis D`Ávila Fernandes, classificou a situação como "a crônica de uma morte anunciada". Ele cobrou de municípios e estados da região a elaboração de planos de contingência para minimizar os riscos das enchentes.
Fernandes afirmou que há duas modalidades de investimento nessa área: "monitoramento", em que o poder público define, entre outras medidas, a evacuação de áreas atingidas e os locais para onde os desabrigados serão alojados; e "medidas estruturantes", de mais longo prazo, que estabeleceriam, por exemplo, as obras civis para minimizar ocorrências futuras de desastres semelhantes.
Ele afirmou que, apesar de o governo não ter um plano de prevenção específico, as instâncias de defesa civil têm condições de atender prontamente as demandas que forem apresentadas pelas prefeituras. O diretor estima que cada R$ 1 aplicado em prevenção contra desastres naturais evita o gasto de R$ 20 em ações de socorro e assistência às vítimas desses eventos.
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Reportagem - Rodrigo Bittar
Edição - Regina Céli Assumpção
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