Especialistas defendem continuidade da alfabetização
24/03/2009 - 14:57
Participantes de seminário sobre alfabetização e educação de jovens e adultos listaram nesta terça-feira (24), na Câmara, os desafios a serem superados na luta contra o analfabetismo na América Latina. A meta mais mencionada foi a necessidade de transformar o aprendizado dessas pessoas em um processo contínuo, que ultrapasse o período destinado à aprendizagem da leitura e da escrita e tenha prosseguimento na educação fundamental. É o que os especialistas chamam de aprendizagem ao longo da vida.
"A alfabetização sozinha é insuficiente. É importante garantir que essas pessoas continuem, é preciso inseri-las nos programas de educação de jovens e adultos de estados e municípios", afirmou o especialista em Educação de Adultos da Unesco no Brasil, Timothy Denis Ireland.
Além dessa continuidade, segundo Ireland, é preciso levar para a sala de aula a experiência e a cultura das pessoas. "Muitos jovens deixam a escola sem entender a importância do que aprenderam, daí a necessidade de vincular o estudo à realidade", completou.
Problemas estruturais
O cumprimento da meta, no entanto, esbarra em problemas estruturais da América Latina, região que reúne 35 milhões de analfabetos e mais de 110 milhões de pessoas que não concluíram o ensino fundamental. De acordo com os especialistas, faltam orçamento, vontade política e adequada formação de educadores, entre outras carências.
O educador e consultor peruano José Rivero disse, no seminário, que se deve investir principalmente na escola pública, que é a grande alfabetizadora na América Latina. "Se ela [a escola pública] não funciona bem, não há futuro alfabetizador", afirmou. Ele também recomendou um melhor aproveitamento das tecnologias para fins educativos, uma vez que o analfabetismo tecnológico também é fator de desigualdade.
Conferência Internacional
Todos os problemas e desafios apontados nesta terça serão debatidos na 6ª Conferência Internacional da Unesco em Educação de Adultos (Confintea VI), que ocorrerá em maio em Belém (PA). Segundo Timothy Ireland, o evento será uma oportunidade de o Brasil mostrar seus avanços e trocar experiências com outros países.
Apesar das dificuldades, os educadores reconhecem que a situação da América Latina melhorou nos últimos anos. Em relação ao Brasil, o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, André Luiz Lázaro, lembrou que o programa Brasil Alfabetizado tem cadastrados 1,6 milhão de alunos e 120 mil alfabetizadores. O País possui hoje 14 milhões de pessoas que não sabem ler ou escrever.
Como ponto positivo do Brasil, Lázaro e Ireland citaram a inclusão da educação de jovens e adultos no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), de forma a garantir um caráter permanente a essa modalidade de ensino.
Direito humano
Também presente no seminário, o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, lembrou que a educação é um dos principais direitos humanos. Sem acesso à educação, disse, não é possível implementar outros direitos, como o direito à saúde e à justiça.
A presidente da Comissão de Educação e Cultura, deputada Maria do Rosário (PT-RS), afirmou que educação combina com democracia e com a possibilidade de que ninguém seja excluído do conhecimento produzido pela humanidade. "Ainda que tenhamos uma crise mundial, queremos que os governos preservem os investimentos na educação e na cultura. Queremos jovens e adultos plenos e conscientes de seus direitos e de sua cidadania", pediu.
O seminário ocorre ao longo desta terça-feira no auditório Nereu Ramos e é promovido pela Comissão de Educação, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Ministério da Educação e a Fundação Satillana.
Também participaram do evento, nesta manhã, representantes da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e dos secretários de Educação, além do presidente da Comissão de Educação do Senado, senador Flávio Arns (PT-PR), e do 2º vice-presidente da comissão da Câmara, deputado Lobbe Neto (PSDB-SP).
Confira a programação do evento Reportagem - Noéli Nobre
Edição - Regina Céli Assumpção
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