Gravidez tardia pode acarretar problemas genéticos
Disfunções antes atribuídas apenas aos óvulos de mulheres acima de 35 anos, são agora também ligadas à idade avançada do homem. Por isso, o Conselho Federal de Medicina estuda a possibilidade de limitar a idade para casais se submeterem a tratamentos para engravidar.
03/01/2013 - 10:38
Muitos casais decidem adiar a primeira gravidez para aproveitar a vida a dois, enquanto outros preferem ter filhos somente depois de alcançar a estabilidade financeira. A popularização da inseminação artificial e da fertilização in vitro (FIV) tem reforçado junto à sociedade a impressão de que se pode deixar para mais tarde o sonho de ter filhos. O que a imprensa e o governo não têm esclarecido são os problemas que pode trazer a gravidez em mulheres com mais de 35 anos e, especialmente, acima dos 40. Por essa e outras razões, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) está propondo ao Conselho Federal de Medicina (CFM) a limitação da idade para que os casais se submetam a reprodução assistida.
“A Sociedade [Brasileira de Reprodução Assistida] vai propor ao CFM limitar a idade àquela em que a brasileira entraria na menopausa, que vai de 52 a 55 anos. Seria a maneira de aproximar um pouco mais da fisiologia da mulher”, explica o presidente da SBRA, Adelino Amaral.

O deputado João Campos (PSDB-GO) - relator do Projeto de Lei 1184/03, que trata de reprodução assistida - também defende o limite de idade. “Vou levar em conta no relatório a limitação de idade. Ela pode diminuir os riscos”, adianta.
Com o avanço da idade da mulher, aumentam muito os riscos de problemas genéticos causados pelo envelhecimento do óvulo. Pesquisas recentes mostram que a idade mais avançada do homem também pode ser responsável por problemas genéticos. “Se você for avaliar a quantidade de crianças que nasceram com síndrome de Down, a grande maioria é de mulheres acima de 40”, exemplifica Amaral.
“A idade ideal para ter filhos é 19 anos, mas não é a idade social”, diz a ginecologista e obstetra Carla Martins, também especialista em reprodução assistida. “Os casais hoje em dia tendem a postergar a maternidade em função de outros projetos de vida. Com isso a idade vai avançando e a mulher é um reloginho biológico em que a função reprodutiva dela tem prazo para se encerrar”, acrescenta.
Adelino Amaral conta que, quando analisa os embriões produzidos a partir de fertilização em sua clínica, ele observa que entre 60% e 70% dos embriões feitos com óvulos de mulheres acima de 40 anos apresentam aneuploidia, ou seja, não têm qualidade para serem implantados com sucesso no útero. “Ou se implanta e a maioria aborta. Até porque se todos se implantassem, nós teríamos muito mais essas síndromes genéticas como as de Down, de Patau (que causa má formação cardíaca e retardo mental), de Edwards (que causa malformações congênitas múltiplas e retardamento mental)”.
Sexagem
Um projeto em análise na Câmara (PL 1184/03), já aprovado pelo Senado, permite que médicos e biólogos escolham o embrião de um determinado sexo, a chamada sexagem. A técnica só poderia ser adotada, porém, quando houvesse risco de doenças relacionadas ao gênero. Atualmente, a sexagem com esse fim já é feita pelas clínicas, uma vez que está prevista na resolução de 2010 do CFM. Como não existe legislação no Brasil sobre reprodução assistida, essa é a norma seguida pelos profissionais da área.
“A síndrome do X frágil, por exemplo, é relacionada ao retardo mental em meninos. Quando o casal tem genes que a conjunção dos dois pode dar origem a uma doença, a gente escolhe. Nesse caso, por exemplo, escolheria as meninas”, exemplifica a doutora Carla Martins.
Homens
Pesquisa recente feita na Inglaterra mostra que os homens também podem ser responsáveis por problemas genéticos do feto. Existe uma relação entre homens de 40 anos em diante e distúrbios como autismo e até esquizofrenia. Uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde confirma esse fenômeno.
“A gente considerava que o homem tinha fertilidade até os 80, 90 anos, hoje a gente sabe que não é bem assim. A qualidade dos espermatozoides diminui porque existe uma grande influência dos radicais livres na produção do sêmen”, conta Carla Martins.
O doutor Adelino Amaral, porém, considera este fator muito menos determinante do que a idade dos óvulos. “Até porque a gente faz tratamento em homens com 60, 70 anos e tem uma taxa de gravidez muito boa e em mulheres acima de 43, 44 anos, é raro a mulher engravidar com seus óvulos.”
Reportagem- Mariana Monteiro
Edição – Natalia Doederlein