Reportagem Especial
Especial Sexualidade - Sexo compulsivo (08' 10")
12/06/2006 - 00h00
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Especial Sexualidade - Sexo compulsivo (08' 10")
NA EDIÇÃO DE HOJE DO REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE A SEXUALIDADE DO BRASILEIRO, VAMOS FALAR SOBRE O SEXO COMPULSIVO.
Você vive sob domínio do sexo? Mantém uma alta rotatividade de parceiros sexuais, passa o dia assistindo a filmes pornográficos ou horas a fio em frente ao computador navegando em sites de sexo? Quando tenta evitar e controlar o impulso para o sexo, sente-se ansioso ou tenso? Então, cuidado: você pode ser um compulsivo sexual. De acordo com a sexóloga Maria Helena Brandão, a questão sexual é muito complexa, e para definir se existe um quadro de comportamento sexual patológico, geralmente deve existir também sofrimento emocional e sérias consequências para a própria pessoa.
"É difícil falar de sexualidade normal, porque não existe uma sexualidade normal. Existe uma sexualidade adequada ou não adequada. Os desvios são todas aquelas patologias em que aquilo se torna compulsivo, agride à própria pessoa ou agride a um outro. Aqueles outros comportamentos que não agridem nem a pessoa nem a um outro, aquilo não é desvio, pode ser que esteja adequado ou inadequado, mas não pode se considerar desvio"
A psicóloga Sônia Furlameto explica que o sexo compulsivo faz com que a pessoa perca o controle total de seu cotidiano na busca da satisfação sexual para aliviar suas tensões. Segundo Sônia, o foco sexual dessas pessoas é deslocado: ao invés de prazer, o sexo serve para desestressar e o sentimento de culpa é comum.
"É alguém que esquece de buscar o filho na escola porque estava se masturbando. O compulsivo sexual é aquele que esquece que a mãe está internada no hospital em estado grave porque está buscando alguém para ter prazer sexual"
Sônia afirma que há mais dados de homens com compulsão sexual devido ao receio que as mulheres ainda têm de revelarem esse tipo de comportamento, mas isso não significa que o problema atinja mais o sexo masculino. A psicóloga explica que o fato de muitos não buscarem tratamento tem a ver com o modo equivocado como a sociedade encara a questão.
"Um compulsivo sexual é chamado de garanhão, aquele cara que pega todas, que sai com todas. E a mulher, ela é chamada do quê? de galinha, de sem-vergonha, de prostituta. O peso para a mulher acaba sendo maior. O homem não vê isso como problema e a mulher vê como um problema, na verdade, muito mais moral do que um problema a ser tratado"
A compulsão causa diversos prejuízos: pessoais, ocupacionais, familiares e financeiros. Entre os mais comuns estão a traição, a perda do parceiro estável e de amigos, a vergonha, o remorso, os gastos financeiros, o desinteresse pelo trabalho. As doenças sexualmente transmissíveis também estão entre esses prejuízos, assim como as complicações legais e, inclusive, alguns casos de suicídio. A psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, Dra. Carmita Abdo, alerta que existe tratamento para a compulsão sexual e que deve ser procurado o mais cedo possível.
"É como se fosse um vício por uma droga, só que ao invés de ser uma droga, o que a pessoa está viciada é em sexo. E isso passa a tomar conta do dia todo da pessoa impedindo que ela trabalhe, que ela se relacione, que ela durma e até que ela se alimente adequadamente. Deixando pela própria sorte, esse problema pode levar a sérios comprometimentos até de ordem policial. Porque a pessoa começa a ficar altamente agressiva quando não consegue uma parceria e tem necessidade e vai buscar de qualquer forma. Então saibam que esse tipo de problema requer um acompanhamento médico e que esse acompanhamento pode minimizar e controlar essa situação"
Rico é o nome fictício de um compulsivo sexual que acredita que cada um é responsável por se identificar como dependente de amor e sexo, e por reconhecer o sofrimento que isso pode trazer. Segundo Rico, a partir do momento em que a pessoa verifica que está sofrendo, deve buscar identificar padrões básicos que caracterizam a compulsão, para depois buscar o tratamento adequado.
"Eu, por exemplo, na minha história, identifiquei alguns padrões que eu já tinha feito. O sexo intrusivo, o que que é isso? Às vezes é estar na rua e estar podendo invadir o espaço do outro, soltar cantadas, ou fisicamente bulinar nas outras pessoas sem a permissão do outro. Sexo de forma anônima, quer dizer, com pessoas que mal conhecia, automaticamente já estava praticando algum tipo de sexo. Sexo voyerista ou exibicionista, com algum tipo de risco"
O tratamento geralmente inclui a psicoterapia e pode chegar até a internação. O profissional procurado é o terapeuta ou o psiquiatra. Os grupos de apoio têm se mostrado bastante úteis. No caso específico de Rico, a sua recuperação começou por meio de um processo terapêutico em grupo, na irmandade baseada no modelo pioneiro dos Alcóolicos Anônimos, conhecida como DASA - Dependentes de Amor e Sexo Anônimos. Rico explica que o DASA existe há 13 anos no Brasil e que o único requisito para frequentar as reuniões é querer se curar. Ele lembra que o DASA não cobra taxas nem presença, respeita o anonimato e se baseia na ajuda mútua. Segundo Rico, é comum no DASA pessoas viciadas em sexo e com outras compulsões.
"Existe uma múltipla compulsão. Tanto é que a gente vê que muitas pessoas que chegam no DASA são pessoas que estão se recuperando há muitos anos do álcool, ou da comida ou do jogo ou de co-dependências, que são as outras irmandades. Então, a gente tem os alcoólicos anônimos, tem de drogas que são os narcóticos anônimos, tem de jogos que são os jogadores anônimos, tem de comida que são os comedores compulsivos anônimos. A gente verifica que é muito comum que a maioria dessas pessoas que se recuperam de outras compulsões acabam utilizando o sexo e os relacionamentos de uma forma destrutiva"
Em relação às causas da compulsão, os especialistas afirmam que o problema pode ter as mais variadas origens: as raízes podem estar em alguma situação da vida da pessoa que tenha sofrido abuso; ter iniciado a vida sexual de forma inadequada; ter passado por alguma situação traumática; apresentar algum comprometimento neuropsiquiátrico ou simplesmente não ter nenhuma evidência de outra disfunção além da atividade sexual numericamente incomum.
AMANHÃ, NA ÚLTIMA EDIÇÃO DO REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE A SEXUALIDADE DO BRASILEIRO, VAMOS FALAR SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL, PREVENÇÃO E DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS.
De Brasília, Simone Salles