Rádio Câmara

Reportagem Especial

HIV/Aids - Capítulo 3

16/09/2019 - 07h40

Bastaram pouco mais de 30 anos para que a Aids deixasse de ser uma doença sem tratamento para se tornar uma enfermidade que, apesar de ser grave, tem um método mais moderno que dá uma sobrevida grande ao paciente. Especialistas relatam essa evolução.

Em 1991, surgiu o AZT, primeiro medicamento para as pessoas que tinham o vírus HIV e desenvolviam a Aids. No final da década de 90, o número de remédios aumentou, formando o que se chamou de "coquetel". O Brasil foi um dos primeiros países a garantir a distribuição do coquetel na rede pública de saúde.

O infectologista Alexandre Cunha faz um histórico dos medicamentos utilizados desde que o HIV foi identificado:

"A gente não tinha tratamentos eficazes, os pacientes tomavam AZT e mais uma outra droga, mas rapidamente as drogas falhavam e os pacientes faleciam. Do meio da década de 90 pra frente, a gente tinham bons medicamentos mas muito tóxicos - eram muitos comprimidos, muitos efeitos colaterais, os pacientes tinham diarreia, tinham pancreatite, tinham vômito, e muitos abandonavam os tratamentos por causa dos efeitos colaterais. Depois a gente conseguiu medicamentos que já não tinham tantos efeitos colaterais e agora a gente tem medicamentos que, além de não terem efeitos colaterais, são tomados uma vez por dia em uma ou duas pílulas diárias, e isso consegue um ótimo controle do vírus, sem efeito colateral, quase nenhum e com uma adesão muito melhor, por serem poucas pílulas e poucas vezes ao dia".

Ele aponta uma dificuldade para os portadores do vírus HIV, que é comum a quem tem doenças crônicas: o tratamento é contínuo e não pode ser interrompido de jeito nenhum.

"Tem que tomar remédio todos os dias: é chato, é trabalhoso, não pode esquecer... Às vezes os pacientes têm que viajar, esquecem de levar o remédio, (isso) causa uma série de transtornos".

O coordenador do Polo DST/Aids do Hospital Universitário de Brasília, Mario Angelo da Silva, salienta a eficácia do tratamento retroviral. Mas também ressalta a importância do empenho do paciente.

"Os medicamentos antirretrovirais são disponibilizados gratuitamente pelo SUS e estão dentro de um segmento de acompanhamento terapêutico que pressupõe o envolvimento total da pessoa nesse tratamento. Se a pessoa faz o tratamento de forma correta, o vírus fica indetectável e ela tem uma qualidade de vida que possibilita a ela viver normalmente, como qualquer outra pessoa, trabalhando, estudando, namorando, tendo filhos".

O tratamento antirretroviral faz com que a carga viral fique indetectável. Traduzindo: a partir de um certo momento, a pessoa que vive com o vírus HIV não o transmite mais por via sexual. Mas os protocolos de saúde recomendam que, mesmo assim, essas pessoas continuem usando camisinha durante as relações sexuais, para evitar a contaminação por outras doenças sexualmente transmissíveis.

Segundo o diretor do Departamento de Aids e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Gerson Mendes Pereira, até 2014, só os casos diagnosticados de Aids eram tratados pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. A partir desta data, o programa incluiu obrigatoriamente todas as pessoas que convivem com o vírus HIV. Com a mudança, quem ganhou foram os pacientes.

"Antigamente quando você diagnosticava e esperava ter Aids, você tinha uma ocorrência de doença oportunista que era o diagnóstico para você iniciar o tratamento. Hoje não, eu não preciso ter nenhuma infecção oportunista para iniciar o tratamento, então a probabilidade dessa pessoa ter uma doença, uma infecção oportunista é menor, porque na hora em que ele começa a tomar o medicamento ele vai aumentar o CD4 dele e diminuir a carga viral dele. Então a possibilidade de ele ter infecções oportunistas é muito pequena. E consequentemente se não adoece, não hospitaliza e você tem uma qualidade de vida melhor"

Cleiton Euzébio, diretor interino do Unaids Brasil, tem uma visão global sobre o tratamento para quem vive com HIV Aids. O Unaids é o programa das Nações Unidas de combate à epidemia. Ele lamenta que nem todas as pessoas que têm o vírus consigam receber os medicamentos que podem dar mais qualidade de vida. A situação da África, segundo ele, é crítica.

"Houve um avanço nos últimos anos como um todo no acesso ao tratamento, em vários países conseguiu-se aumentar de maneira bastante importante o número de pessoas que hoje acessam o tratamento, mas ainda há um número grande de pessoas, por exemplo, no continente africano, que têm HIV e que não tem acesso ao tratamento. Então esse talvez seja um dos grandes desafios"

Hoje em dia, quem vive com HIV toma, normalmente, um ou dois comprimidos, que concentram três ou quatro fármacos, substâncias que compõem o tratamento. Até a expressão "coquetel" não é mais utilizada pelos profissionais de saúde, já que o número de medicamentos vem diminuindo, outra providência para dar mais qualidade de vida a quem tem o vírus HIV ou convive com a Aids.

No quarto capítulo, vamos mostrar algumas entidades que apoiam pessoas vivendo com HIV/Aids e detalhes sobre o trabalho do Unaids, o programa das Nações Unidas de combate à epidemia.

Trabalhos técnicos – Tony Ribeiro

Produção – João Paulo Florêncio

Edição e Reportagem – Cláudio Ferreira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h