Rádio Câmara

Reportagem Especial

Manifestantes na Câmara - Capítulo 3

02/09/2019 - 07h00

  • Capítulo 3: Contato com os deputados

Os grupos da sociedade civil organizada que vêm à Câmara Federal têm no contato com os deputados uma das principais ferramentas para alcançarem os objetivos das suas reivindicações. Pode ser um parlamentar do mesmo estado dos manifestantes ou um deputado que já tenha um compromisso com aquela causa específica. Além do contato político, muitas vezes o parlamentar e seu gabinete dão um apoio logístico principalmente para as comitivas que chegam de outros estados.

Todo esforço é pouco para agendar encontros com os deputados que podem se interessar por um projeto de lei. Denise Suguitani, diretora da Associação Brasileira de Pais de Bebês Prematuros, a Prematuridade.com, que o diga.

"A gente entende que esse corpo a corpo literalmente com os parlamentares, com os tomadores de decisão, com as frentes parlamentares como a gente tem a da Prematuridade, é importante. Então pelo menos duas ou três vezes por anos a gente tenta, eu como diretora da associação tento vir aqui  conversar com as pessoas que estão envolvidas e também engajar outros parlamentares, sensibilizá-los pela causa da prematuridade, principalmente em novembro, que é o mês de sensibilização pela da causa da prematuridade, a gente sempre faz uma ação aqui no Espaço Mario Covas, para distribuir material informativo, falar que a prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil e o Brasil é o décimo país no ranking de prematuridade hoje".

Denise dá um exemplo prático de como é o suporte dos gabinetes a quem vem fazer suas reivindicações.

"Agora mesmo eu estava usando o gabinete do deputado Jerônimo para falar com outros ministérios e articular com outros parlamentares, cópias também para termo de adesão de frente parlamentar. Tudo o que a gente precisa, a gente consegue o suporte deles também"

Ela se refere ao gabinete do deputado Jerônimo Goergen, do PP do Rio Grande do Sul. O parlamentar esclarece que esse apoio não envolve nada patrimonial ou financeiro, apenas político. E diz que faz parte do mandato defender categorias ou causas.

"O suporte que a gente dá é justamente na articulação legislativa, na marcação de agendas, principalmente nessa articulação, na construção de propostas legislativas, nessas reuniões, audiências públicas, tudo o que mobiliza pra termos as conquistas que o setor ou a causa precisam de nós"

Claudete Alves, do Sindicato dos Educadores da Infância da cidade de São Paulo, também descreve como o parlamentar apoia o grupo que se desloca mil quilômetros para protestar.

"Coloca a assessoria pra dizer que hora abre, qual é a sala, marcar reunião com as lideranças".

Leonardo Pinho é presidente de uma das mais de 3 mil e 500 cooperativas que formam a Unicopa, uma grande entidade cooperativista. Ele ressalta que, além de fazerem contato com deputados específicos, os grupos organizados, muitas vezes, procuram as comissões permanentes da Câmara, porque é também por meio das audiências públicas que a articulação política é feita.

"Cada cooperativa nossa tem relação com os deputados federais dos seus estados. Então a gente tem uma variedade muito grande, inclusive de partidos diferentes, em que a gente consegue interlocução. E que aí nos dão apoio, às vezes ajudam nesse processo de organização principalmente das audiências, o acompanhamento das comissões, então a gente recebe muito apoio obviamente dos deputados e das deputadas aqui".

Alisson Tenório, da federação dos trabalhadores dos Correios, lembra que, normalmente, a entidade manda antecipadamente, por e-mail, um comunicado aos deputados detalhando que atividades os manifestantes terão nas dependências do Congresso Nacional.

"Quando a gente vem fazer algum tipo de trabalho que necessite do apoio dos parlamentares, a gente vem em torno de umas 10, 15 pessoas e vamos fazer visitas com ofícios. Levamos um ofício da entidade e protocolamos esse ofício junto aos parlamentares. Aguardamos a resposta, que geralmente é dada pela maioria deles"

A deputada Sâmia Bonfim, do PSOL de São Paulo, recebe contatos das duas maneiras: antecipadamente, por telefone ou e-mail ou de maneira mais direta, quando ela é parada por algum dos grupos que encontra no corredor para apoiar alguma reivindicação.

"Eu acho que é indispensável para o trabalho parlamentar receber grupos e demandas que se organizam em entidades e sindicatos ou mesmo entidades civis, porque é o diálogo que a gente tem com a sociedade. Aqui dentro do Congresso tem uma tendência de a gente se enclausurar nos espaços de poder e garantir as negociações entre as bancadas, mas se você não tem essa conexão com o povo, você se distancia muito dos reais propósitos pelos quais você foi eleito".

Ela afirma que a sociedade civil organizada acaba funcionando como uma espécie de termômetro.

"Se não tem esse feedback da população, às vezes a gente vai por uma linha política que pode ser um descontentamento para aqueles que votaram na gente, pra aqueles que acompanham o nosso trabalho. Sem isso a gente não consegue seguir o rumo certo aqui dentro".

Os manifestantes que fazem plantão nos corredores da Câmara estão sempre alertas. Basta verem alguém com um bóton redondo - a identificação do parlamentar - e começam a repetir palavras de ordem, mostrar seus cartazes, enfim, deixarem claro porque valeu a pena enfrentar horas de avião ou de ônibus para chegar à sede do Poder Legislativo Federal.

No quarto capítulo, os detalhes de um dos principais desafios dos manifestantes que vêm à Câmara: trazer suas reivindicações controlando os gastos

Produção – João Paulo Florêncio

Trabalhos técnicos – Tony Ribeiro

Edição – Marcio Sardi

Reportagem – Cláudio Ferreira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h

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