Reportagem Especial

Senhor Diretas: a história de Ulysses Guimarães

05/10/2013 - 00h08

  • Senhor Diretas: a história de Ulysses Guimarães (bloco 1)

  • Senhor Diretas: a promulgação da Constituição (bloco 2)

  • Senhor Diretas: O fracasso da candidatura presidencial e o fim trágico (bloco 3)

O deputado Ulysses Guimarães é considerado o fiador do processo de redemocratização do Brasil, que culminou com a Constituição de 88. Reportagem especial desta semana conta um pouco da trajetória do "Senhor Diretas", deputado federal por 11 mandatos seguidos. A ausência de Ulysses, tido como referência no meio político, vai completar 21 anos em 12 de outubro. Confira o primeiro capítulo, com o repórter Mauro Ceccherini.

"A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram. Foi a sociedade mobilizada nos colossais comícios das diretas já que, pela transição e pela mudança, derrotou o estado usurpador. Termino com as palavras com que comecei esta fala. A nação quer mudar. A nação deve mudar. A nação vai mudar. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança. Que a promulgação seja o nosso grito. Mudar para vencer! Muda Brasil!"

Há 25 anos, Ulysses Guimarães promulgava a chamada Constituição Cidadã. Foi o ápice da carreira política de Ulysses Silveira Guimarães, presidente da Assembléia Nacional Constituinte. Há 21 anos, em 12 de outubro de 1992, Ulysses morria num acidente de helicóptero no litoral de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

Ulysses nasceu em Rio Claro, interior de São Paulo. Casou-se com Ida de Almeida Guimarães, a dona Mora, então viúva, já com dois filhos - Tito e Celina. Formou-se na Faculdade de Direito da USP. Foi vice-presidente da UNE, União Nacional de Estudantes, professor e advogado.

Começou a vida política em 1947, quando se elegeu deputado estadual pelo PSD, Partido Social Democrático. E Não parou mais. Foi nessa época que Oswaldo Manicardi - hoje com 85 anos de idade - começou a trabalhar com Ulysses, como secretário particular. Manicardi, fiel escudeiro de Ulysses durante 44 anos, diz que o deputado era sempre educado, amável e nunca demonstrava irritação.

"Muito dificil. E se ele se irritava não exteriorizava. Nunca. Ele até dizia que político não tem raiva. Só no discurso, que ele parece que tá bravo. Mas não está"

De acordo com Manicardi, Ulysses trabalhava de manhã, de tarde, de noite e até na hora do almoço.

"Almoço era uma reunião política. Ele nunca foi em casa. Sempre ia no restaurante. A gente ia no Piantella. Almoçava e voltava. Ulysses nunca deixou de comer, não. Ele cuidava da saúde. Ele sempre cuidava da saúde. Por quê? Porque achava que tinha de estar forte, tinha de estar bem."

De 1951 a 1992, Ulysses Guimarães foi deputado federal por 11 mandatos consecutivos. Foi ministro da Indústria e Comércio no gabinete Tancredo Neves, durante a curta experiência parlamentarista brasileira, de 1961 a 1962. Apoiou, inicialmente, o golpe militar que depôs o presidente João Goulart, em 1964, mas logo passou à oposição.

Com a instauração do bipartidarismo, em 1965, filiou-se ao MDB, Movimento Democrático Brasileiro, embrião do atual PMDB.
Durante a ditadura, foi anticandidato à Presidência da República, em 1974, como forma de repúdio ao regime militar. Ulysses Guimarães, segundo Manicardi, também era um comunicador nato. E sabia, como poucos, reconhecer a importância de lidar bem com a imprensa.

"Respondia todas as perguntas, algumas como ele queria. Aqui, com a imprensa? Passava por ai, não precisava puxar. Ele parava, falava, microfone batendo na cara dele. A Pátria só vive quando existe a democracia. A imprensa, ele respeitava muito isso. Mentir nunca. Nunca! Pode dourar a pílula, mas sobre aquilo que está sendo perguntado."

Como presidente do partido, Ulysses participou de todas as campanhas pelo retorno do país à democracia, como a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita e a campanha das Diretás Já, em 1984, que lhe valeu o apelido de 'Senhor Diretas'.

Saiba amanhã: como o "cavalo selado" da Presidência da República passou por Ulysses em 1985. E a queda-de-braço com o então presidente da República, José Sarney.

Da Rádio Câmara, de Brasília, Mauro Ceccherini

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