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Reportagem Especial

Jorge Amado - O legado do escritor e os livros preferidos (06'31'')

13/09/2010 - 00h00

  • Jorge Amado - O legado do escritor e os livros preferidos (06'31'')

Qual a dimensão da obra de Jorge Amado? Ele é um grande escritor ou um escritor popular muito vendido? O escritor gaúcho Moacyr Scliar considera Jorge Amado o criador de um modelo.

"A começar por essa literatura intrinsecamente nacional, ele é um representante de um regionalismo muito autêntico. Para o mundo literário. durante muito tempo o Brasil era a Bahia."

Ao ser perguntada se o pai dela era um cânone da literatura brasileira, Paloma Amado achou graça. Ela afirma que o pai não gostava dessa ideia de ser maior ou pior. E, para responder à pergunta, ela contou uma história que ocorreu neste ano quando ela e o marido aguardavam o fim de uma chuva em um bar em Roma.

"Na mesa ao lado havia um casal. E eles, de repente, começaram a falar com a gente. Conversa vai, pergunta de onde eram. Aí disseram que estavam felizes em conhecer sul-americanos e eram do Cazaquistão. Aí comentei que meu pai tinha conhecido o Cazaquistão. Perguntaram por que ele tinha ido e eu expliquei que ele era escritor, que tinha circulado muito. E perguntaram ´como é o nome do seu pai?´. Eu disse e foi um reboliço dentro do restaurante. Simplesmente era o maior fã, tinha uma estante com livros do meu pai. O pai, o tio, a família inteira era leitora dele. Isso um rapaz de 36 anos do Cazaquistão. Então você me pergunta a posição dele na literatura. Ele é uma pessoa que conseguiu levar o Brasil até o Cazaquistão."

TRILHA "Ascanio no Jeguinho"

Jorge Amado é um escritor que costuma marcar gerações. Moacyr Scliar, na infância, foi marcado profundamente pela primeira fase da obra de Jorge Amado.

"Eu era menino, eu lia Jorge Amado e acreditava profundamente naquilo que ele dizia e as lágrimas corriam pelo rosto quando lia aquilo. Mesmo porque, eu tenho que te dizer, era um sonho generoso."

Ao morrer, Jorge Amado deixou um livro incompleto. Na verdade. estava bem no início, chamado "Boris, o Vermelho´, como explica a pesquisador Elizabeth Hazin.

"É um livro que, segundo ele, saiu de um outro romance que ele estava escrevendo muitos anos atrás, e de repente essa história atravessou o romance e descobriu que era outro e nunca conseguiu ir adiante."

Eu perguntei a todos os entrevistados: qual livro de Jorge Amado você prefere? As respostas são variadas. Com a palavra, a filha Paloma Amado.

"O que eu prefiro, sem dúvida se chama "Velhos Marinheiros", o livro do sonho, que mostra que o homem, por pior que seja sua condição, pode sonhar e levar isso avante. E foi uma das grandes lições que papai me deu."

Agora, a pesquisadora Elizabeth Hazin.

"Tocaia Grande. Porque eu acho o mais bem estruturado. Ele tem uma ordem de capítulos que foi visivelmente organizada. Ele me parece o mais bem organizado dos romances de Jorge Amado."

A diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, Mirian Fraga, prefere "Tenda dos Milagres".

"É um livro que me toca muito. A história se passa no Pelourinho, aborda questões bem importantes sobre a miscigenação, sobre vários temas, eu gosto muito desse livro."

E qual o livro que Jorge Amado mais gostou de ter escrito? Duas testemunhas afirmam: é "Tenda dos Milagres". Paloma Amado diz que era um livro sempre citado pelo pai.

"Ele falava muito de ´Tenda dos Milagres´, acho que ´Tenda dos Milagres´ reflete muito o que ele pensava contra o preconceito, contra a desigualdade social, quanto à capacidade do homem de conseguir seus objetivos independente de sua origem. É um lindo livro."

O escritor Moacyr Scliar recebeu uma recomendação de Jorge Amado para ler "Tenda dos Milagres".

"E um dia ele até me surpreendeu porque ele recomendou um livro dele. Ele falou que se fosse para eu ler um livro dele apenas que eu lesse ´Tenda dos Milagres´. Eu gostei, como leitor, como brasileiro e gostei como médico, os conflitos da medicina. Eu dei um curso nos Estados Unidos sobre esse livro. É um Jorge Amado diferente e mostrando assim que não é uma literatura popular, mas é grande literatura."

TRILHA "Tieta e Ascânio"

A série sobre Jorge Amado começou com uma declaração do amigo Eduardo Portella. E vai terminar também com escritor e imortal Portella.

"Porque os escritores, quando morrem, têm um pequeno período de esquecimento. Se bem que, no caso de Jorge, esse pequeno período não está sendo cumprido porque ele está sendo levado ao teatro, ao cinema, está sendo reeditado, estão sendo descobertas novas coisas dele. De maneira que nós vamos conviver com Jorge pelo resto da vida."

Em 2011 serão lembrados os dez anos da morte de Jorge Amado. E em 2012, também no mês de agosto, será celebrado o centenário de nascimento de Jorge Amado.

De Brasília, Luiz Cláudio Canuto

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