Rádio Câmara

Reportagem Especial

Jorge Amado - A crítica e a preservação da memória (07'11'')

13/09/2010 - 00h00

  • Jorge Amado - A crítica e a preservação da memória (07'11'')

A obra de Jorge Amado não é unanimidade. Em relação à primeira fase da produção de Amado, o crítico literário Wilson Martins era um dos que criticavam a literatura zdanovista, ou seja, a literatura mais panfletária que estética, idealizada por teóricos do stalinismo, o chamado realismo socialista. Outros críticos têm um pé atrás com o caráter popular da literatura de Jorge Amado.

O pesquisador literário Eduardo Assis Duarte afirma que há um preconceito contra Jorge Amado e chama isso de um elitismo típico da universidade brasileira, que lê os autores que só ela lê. Segundo Assis, a elite acadêmica torce o nariz para qualquer escritor que venha a ter uma grande aceitação de público. Até Érico Veríssimo, segundo ele, é desprezado pela universidade e pelos intelectuais acadêmicos.

O escritor gaúcho Moacyr Scliar, amigo de Amado, admira sua obra, mas faz uma única restrição.

"Ele às vezes era um pouco desleixado, acho que ele não relia bem o que ele fazia, então, eventualmente, ele cometia alguns errinhos, o que não é inusitado, o que sempre era comentado geralmente com bom humor entre aqueles que apreciavam sua obra."

TRILHA "Ascanio no Jeguinho"

A memória de Jorge Amado está preservada no Pelourinho, em Salvador, em uma instituição chamada Fundação Casa de Jorge Amado, como explica a diretora Mirian Fraga.

"Estamos trabalhando há 25 anos, temos acervo tratado. Grande parte digitalizado e temos uma fundação que funciona no PelourinhO. Duas casas onde se fazem eventos, palestras, onde se recebem estudantes e também respondemos e-mails, pesquisadores daqui e de fora. Por outro lado, a Companhia das Letras está renovando as edições dele, com referências, fotografias, posfácios, tem colaborado com a Fundação. Trabalhamos em parceria. Está bem. Estamos fazendo nossa parte."

A editora Companhia das Letras mantém uma página na internet, www.jorgeamado.com.br , em que é possível ler a biografia, ter acesso à obra e a textos didáticos sobre as adaptações da obra do escritor no cinema e na TV. Jorge Amado é um caso raro de escritor brasileiro que tem a memória muito bem preservada.

Jorge Amado é alvo de pesquisas. Uma das mais curiosas é relacionada à crítica genética. Aplicada na literatura, ela estuda a origem dos livros e também os manuscritos para apontar como é o processo criativo do escritor. Em 1993, a pesquisadora Elizabeth Hazin organizou o arquivo de manuscritos da Fundação Casa de Jorge Amado, em Salvador. Ela comparou rascunhos com o que foi publicado, e pôde perceber as modificações e os critérios usados pelo autor. No caso de Jorge Amado, ela achou algo curioso.

"Me chamou atenção a quantidade de versões que ele tinha. Ele tem uma literatura aparentemente simples e tem impressão que ele escreveu na varanda do "Rio Vermelho". Ele tem 17 versões de um capítulo, nove versões de uma dedicatória. Ele escrevia 16 horas por dia. Ele tem um material desse tipo para crítica genética extraordinária, que dá margem a muito estudo, a muita comparação. E depois disso eu o entrevistei."

Elizabeth entrevistou ele em Roma e perguntou como era seu processo de criação. Os estudos feitos por Elizabeth orientam e permitem que o leitor entenda até melhor o livro e dá noções do processo criativo do escritor e como se dá, na cabeça dele, a construção do romance. Como por exemplo, a origem da mais conhecida obra de Jorge Amado.

TRILHA "O que será, que será"

"Ele estava passeando com um amigo e viu numa escadaria, todo de branco, um rapaz meio com jeito que ele tinha vivido. Aí ele comentou “como parece com Vadinho”... E aí mais adiante tinha uma moça debruçada. Ele juntou os elementos e começou a escrever Dona Flor e Seus Dois Maridos."

Dona Flor e Seus Dois Maridos rende histórias, como exemplifica a filha de Jorge Amado, Paloma.

"Eu, agora na Disney, fui a algum lugar em que fiz reservas de restaurante e tinha um rapaz que perguntou de onde eu era e ele falou que viu um filme maravilhoso: Dona Flor. E ninguém acreditava nisso, e ele nem sabia quem a gente era."

Atualmente, uma adaptação para teatro de Dona Flor e Seus Dois Maridos, dirigida por Pedro Vasconcelos, faz turnê pelo Brasil. No papel de Vadinho está Marcelo Faria. De Dona Flor, Fernanda Paes Leme, e no papel de Doutor Teodoro, Duda Ribeiro.

De Brasília, Luiz Cláudio Canuto

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h