Rádio Câmara

Reportagem Especial

50 anos da pílula - Da invenção aos dias de hoje (06'06'')

28/06/2010 - 00h00

  • 50 anos da pílula - Da invenção aos dias de hoje (06'06'')

Uma cinquentona cada vez mais moderna. Assim é a pílula anticoncepcional, lançada em 1960, em meio às intensas mudanças sociais, políticas e culturais que ocorriam pelo mundo.

Incentivado por duas ativistas do controle de natalidade, o biólogo estadunidense Gregory Pincus aprofundou suas pesquisas e confirmou a progesterona como um hormônio inibidor da ovulação. Batizado como Enovid, o primeiro comprimido passou a ser comercializado em diversos países, e chegou aqui no Brasil em 1962.

Nessa época, Luzia Álvares, hoje com 70 anos, era recém-casada e, a cada ano, tinha uma gravidez, com um intervalo de apenas três meses entre uma e outra.

Ao chegar à terceira filha, Luzia e o marido, que é médico, resolveram adotar o anticoncepcional hormonal. Mas a decisão não foi fácil, já que a pílula chegou a Belém, cidade onde ela mora até hoje, cercada de críticas.

"Eu estudei em colégio de freira e, obviamente, eu era católica. E elas foram reprovadas, porque tanto na parte científica, dizendo que ia causar mal à saúde. E a Igreja dizia que era pecado. As instituições todas eram contra, e a Igreja, porque o dom natural da mulher era ser mãe. Então foi com essa visão que eu vivi esses primeiros momentos. Primeiros momentos que me levaram a uma gravidez uma vez por ano"

Apesar de toda a pressão social, Luzia nunca escondeu de ninguém que tomava a pílula. E os seis anos sob uso do medicamento representaram uma guinada na vida dessa mulher.

"A pílula foi uma salvação pra mim. Eu era dona de casa, eu fiquei muito tempo sem empregada, cuidando de filho, lavando fralda, toda essa coisa, era um trabalho muito grande. E pra mim não ter filhos naquele momento já era uma salvação. À medida que eu passei a não ter mais filhos, passei a ter uma necessidade imensa de começar um estudo. Aí comecei a estudar, passei no vestibular, consegui meu primeiro emprego num jornal, eu fiz curso de Ciência Sociais, então isso foi uma mudança radical na minha vida, porque comecei também a planejar a minha vida profissional. Então a era da pílula representa diferentes enredos na vida de todas as mulheres"

Apesar de todos esses benefícios, Luzia admite que tomar pílula também era uma grande fonte de culpa, principalmente para quem tinha uma formação religiosa, como ela.

Cinquenta anos depois, a culpa dá lugar a dúvidas. A universitária Joana, de 22 anos, que pediu para não ter seu verdadeiro nome divulgado pela reportagem, ainda se sente insegura com o medicamento, que toma desde os 14 anos, sob orientação médica.

"Tem gente que se assusta quando eu falo que comecei a tomar muito cedo, aí eu não sei que mal que isso pode fazer, ou que pode ter feito. Eu não sei se pode ter alterado alguma coisa no meu desenvolvimento físico, porque eu estava ainda numa fase de desenvolvimento. Eu tenho umas dúvidas mais nesse sentido, aonde a pílula interfere em nosso organismo, metabolismo, no desenvolvimento do corpo"

Ainda assim, Joana enumera os benefícios da pílula.

"Primeiro, que eu às vezes achava até que ela trazia um benefício quase que físico, a princípio. Porque ela regula a menstruação, me ajudava um pouco. Além disso eu acho que é muito bom pela coisa de você sentir mais segura, porque às vezes mesmo com a camisinha você fica com aquele medo, se a menstruação atrasa um pouco, fica meio irregular, vc já fica preocupada. Te deixa mais livre, mais despreocupada, mais tranquila. Só que, ao mesmo tempo, o problema é que as pessoas acabam banalizando um pouco a coisa da camisinha, né, e acaba tirando um pouco da importância do uso da camisinha, começam a achar que a pílula pode substituir mesmo a camisinha. Isso é meio preocupante, né?"

Joana tem razão. E o problema ocorre principalmente entre os jovens, como relata a coordenadora do programa de saúde do adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Albertina Duarte.

"Na medida em que ela passa a ter mais intimidade com o parceiro, ela passa a usar o anticoncepcional oral e deixa de usar o preservativo. Uma das grandes preocupações é que os adolescentes conhecem os métodos anticoncepcionais, mas entre conhecer e usar há a distância da própria adolescência. Adolescência é mágica, tem tempos diferentes, muito tempo pode ser dois meses, então muitas vezes elas confiam nos parceiros, fazendo com que o anticoncepcional oral seja a prevenção da gravidez, esquecendo das doenças sexualmente transmissíveis. Embora ela saiba que as DSTs podem ocorrer na relação sexual, é difícil para a adolescente assumir que seu parceiro amado, que é cheiroso, que é gostoso, possa contaminá-la também"

Segundo a dra. Albertina Duarte, a incidência do papiloma vírus, mais conhecido como HPV, tem aumentado consideravelmente entre os jovens.

O HPV é sexualmente transmissível e sua presença está relacionada ao aparecimento de alguns tipos de câncer, principalmente no colo do útero, mas também no pênis e no ânus.

De acordo com pesquisa coordenada pela ginecologista, mais de 90% dos adolescentes conhecem os preservativos e algum método anticoncepcional, e 30% usam esses métodos nas primeiras relações sexuais. Mas como destacado pela doutora, a camisinha costuma ser abandonada conforme aumenta o tempo de relacionamento.

De Brasília, Mônica Montenegro

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