Reportagem Especial

Multidões lotavam praças pelas eleições diretas (06'34'')

13/04/2009 - 00h00

  • Multidões lotavam praças pelas eleições diretas (06'34'')

Era assim, inspirados pela voz de Fafá de Belém, que milhares de pessoas que assistiam aos comícios das Diretas Já cantavam o Hino Nacional. Um canto sempre carregado de emoção.

Uma pomba nas mãos, solta ao final dos discursos, era o símbolo do que acontecia naqueles tempos, entre 1983 e 1984.

A emenda Dante de Oliveira já havia sido apresentada no Congresso Nacional, tentando restabelecer a eleição direta para Presidente da República.

E o povo começou a ir para as ruas pela sua aprovação. No início, em tímidos comícios, com pouco mais de 10 mil participantes. Mas, de repente, o Brasil mergulhou no espírito das Diretas e, em cada cidadezinha, rua ou praça, juntava gente para pedir eleições presidenciais.

O jornalista Ricardo Kotscho é autor do livro "Explode um novo Brasil: Diário da campanha das Diretas". Ele era o repórter oficial da Folha de São Paulo nos comícios das Diretas Já e conta o que presenciou nessas andanças pelo Brasil.

"Rodei o Brasil inteiro, acho que fui o único repórter que acompanhou o líder daquela campanha, que foi o dr. Ulysses Guimarães, indo a praticamente todos os comícios. E o primeiro grande que eu lembro fez 25 anos agora, foi na Praça da Sé, no dia 25 de janeiro de 1984. A partir daí, a campanha ganhou uma força. E uma coisa curiosa é que só a Folha de São Paulo realmente abria espaço para a cobertura. A grande mídia, em sua maioria, ignorava. Só com o passar das semanas e com o crescimento do movimento é que outros órgãos também começaram a fazer cobertura. E a gente sempre diz que a mídia é que faz a cabeça do povo, nesse caso acho que foi o contrário. Foi o povo que fez a cabeça da mídia."

Em fevereiro em 1984, os partidos de oposição organizaram uma caravana pelas diretas, liderada por Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB; Lula, que estava à frente do do PT; e Doutel de Andrade, presidente do PDT.

Aliás, Ulysses Guimarães e Luís Inácio Lula da Silva eram figuras presentes em todos os comícios, lembra Ricardo Kotscho.

O jornalista ia junto com eles no avião e ouvia e presenciava muita coisa durante aquelas viagens.

"Uma coisa que eu achei engraçada, um dia, no avião, dr. Ulysses reclamou com Lula: 'Nós do PMDB pagamos tudo, pagamos palanques, som, iluminação, música, as viagens, e no fim você é que é o mais aplaudido, nos comícios das Diretas'. Eles ficaram muito amigos, os dois, apesar da diferença de idade, das diferenças políticas. Até o final da vida de Dr. Ulysses eles tiveram uma relação muito boa, muito fraternal."

Em cada comício, fosse num grande centro ou numa cidade do interior, as pessoas se juntavam para exigir eleições diretas.

Ricardo Kotsho lembra uma ocasião em que marcaram um comício em Teresina, bem próximo a um quartel militar.

"A prefeitura de lá, que era ligada aos militares, como todas quase, tirou de circulação o transporte coletivo, mas mesmo assim foi muita gente nesse comício. A maioria foi a pé ou foi de bicicleta, tinha muitas bicicletas, acho que foi o comício que teve mais bicicletas no Brasil. A partir daí, a gente não teve mais dúvidas de que pegou no breu e que a campanha seria vitoriosa, até o final a gente acreditava na vitória da emenda Dante de Oliveira, que propunha a volta das eleições diretas para presidente, que acabou não acontecendo."

A música Coração de Estudante foi feita para um filme sobre Jango. Wagner Tiso conta que a melodia foi composta por ele, com letra de Milton Nascimento, numa parceria que culminou na música que encantou multidões e virou o hino das Diretas Já.

Wagner Tiso revela que foi emocionante fazer parte daquele momento:

"Ela teve um acompanhamento histórico daquele momento. Uma música que participou daquele momento, o que me deixou muito feliz, porque eu fiz despretensiosamente para um filme e a música acabou ganhando um grande espaço no Brasil. Para mim foi muito bom isso. Eu ficava muito emocionado de fato. Toda vez que a música tocava no jornal, na televisão, eu ficava muito emocionado. Depois nos colégios as crianças cantavam. Essa música teve um momento muito importante e um momento histórico do Brasil".

No dia dez de abril de 1984, uma manifestação das Diretas no Rio de Janeiro, na Candelária, reuniu um milhão de pessoas.

Seis dias depois, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, aconteceu a maior manifestação da história do Brasil, com cerca de 1 milhão e setecentas mil pessoas.

No dia 18 de abril, foram decretadas Medidas de Emergência, por 60 dias, no Distrito Federal, Goiânia e nove municípios de Goiás, em função da votação da emenda Dante de Oliveira. Mesmo assim, as pessoas saíram às ruas em Brasília, em manifestações pela aprovação da emenda. O dia 25 de abril de 1984 foi marcado pela votação da Emenda Dante de Oliveira. Mas essa é uma história para o reportagem especial de amanhã.

De Brasília, Adriana Magalhães.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

Sábado e domingo às 8h30, 13h e 19h30. E nas edições do programa Câmara é Notícia. Mande sua sugestão pelo WhatsApp: (61) 99978.9080.