Reportagem Especial
Especial SUS 20 Anos 1 – Conheça alguns sistemas de saúde em vigor em outros países. (05'33'')
25/08/2008 - 00h00
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Especial SUS 20 Anos 1 – Conheça alguns sistemas de saúde em vigor em outros países. (05'33'')
EM CINCO MATÉRIAS, VOCÊ ACOMPANHA COM A REPÓRTER DANIELE LESSA, AS CONQUISTAS, OS QUESTIONAMENTOS E OS DESAFIOS DO SUS.
HOJE, NA PRIMEIRA REPORTAGEM DA SÉRIE, VAMOS SABER AS DIFERENÇAS ENTRE OS PAÍSES E SEUS SISTEMAS DE SAÚDE, APONTANDO QUE LOCAIS SERVIRAM DE INSPIRAÇÃO AO BRASIL.
Frágil corpo, frágil corpo humano. Saúde e doença são preocupações marcadas na vida do homem por uma questão de sobrevivência. Nos tempos antigos, as pessoas se cuidavam com o conhecimento tradicional, ervas e ungüentos. Hoje, temos imensos sistemas de saúde. E os gastos mundiais nessa área são respeitáveis. Segundo a Organização Mundial de Saúde, são gastos três trilhões de dólares com saúde em todo o planeta, o que significa 8% de toda a riqueza mundial. O avanço da tecnologia nos tratamentos indica que os gastos tendem a aumentar. Nos Estados Unidos, nos últimos 40 anos, os gastos com saúde saltaram de 5,9% para 15,2% de toda a riqueza produzida no país. O modelo de assistência norte-americano é essencialmente privado, sendo que trabalhadores ou empregadores devem pagar por um seguro de saúde. O governo oferece atendimento aos que são considerados muito pobres, mas cerca de 45 milhões de americanos não possuem qualquer tipo de cobertura para doenças, como destaca a presidente do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde, Sônia Fleury.
"Os Estados Unidos são o país que mais gasta no mundo em atenção à saúde e têm um terço da sua população que não tem acesso aos serviços ou é atendido por caridade. Por quê? Porque adota o modelo privado de mercado, onde quem pode, pode, quem não pode se sacode. Quem tem o seguro, seja pago diretamente ou pelo seu empregador, essa pessoa está garantida. Os muito pobres, o governo cuida também. Mas tem milhões de americanos que não são nem muito pobres nem tem o seguro. E aí, faz o quê?"
O sistema de saúde norte-americano apresenta a contradição de ser o mais caro e o pior avaliado entre os países desenvolvidos. Estudos do Fundo Commonwealth apontam a Grã-Bretanha como tendo a melhor assistência à saúde. Sônia Fleury, que hoje é professora da Fundação Getúlio Vargas, esteve diretamente envolvida nos debates que deram origem ao SUS no Brasil, e lembra que o modelo inglês universalista foi uma das inspirações para a criação do Sistema Único de Saúde.
"É claro que o modelo do sistema universal de saúde da Inglaterra, que tinha sido consolidado na década de 40, ela era um modelo para todo o mundo de que era possível atribuir o direito à saúde a condições de cidadania e não como um modelo de seguro onde quem pagou tem direito e quem não pagou não tem direito à saúde."
Outros países também serviram de modelo ao Brasil. A experiência canadense de atenção básica e prevenção e o modelo cubano, com médicos de família e equipes multidisciplinares, inspiraram a criação do SUS, aprovado há 20 anos pela Constituição de 1988.
O Brasil é o único país da América Latina a ter universalizados os serviços de atendimento à saúde. Na Argentina, vigora um sistema misto, onde há investimentos do Estado para a assistência gratuita, mas os trabalhadores vinculados à previdência oficial pagam um seguro que lhes dá direito a serviços especializados, sendo que existem também os planos de saúde privados. Esse sistema misto funciona na maior parte dos países sul-americanos. No Chile,durante a ditadura militar do governo Pinochet, foi implantado o modelo privado de assistência à saúde semelhante ao sistema norte-americano. A médica chilena Pamela Diaz Bermudez chegou ao Brasil recém-formada, exatamente no ano da implantação do SUS. A médica, que hoje é professora da Universidade de Brasília, lembra como foi especial chegar ao Brasil naquele momento.
"Para quem chega no país, é a possibilidade de se viver uma expressão democrática vigorosa na perspectiva também da aquisição de novos direitos, direitos esses que começavam pela universalização, isto é, todos os brasileiros teriam direito ao sistema de saúde. Isso se consagra na Constituição como um dever do estado e um direito do cidadão."
Apesar do Brasil ser o único país da América Latina a ter universalizado o acesso à saúde pública, os valores dos investimentos brasileiros são menores do que em países que não oferecem acesso universal, como Argentina, Chile e Venezuela. Comparando os gastos de 2005, de acordo com a Fundação Instituto de Administração, Venezuela, Argentina e Chile gastaram cerca de 16% dos impostos com saúde, enquanto o Brasil aplicou somente 8,7% dos impostos.
De Brasília, Daniele Lessa
NA PRÓXIMA REPORTAGEM, VOCÊ CONFERE EM DETALHES A MOBILIZAÇÃO QUE DEU ORIGEM AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO BRASIL.