Câmara é História
Uma homenagem a Ulysses Guimarães
11/02/2007 - 00h00
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Uma homenagem a Ulysses Guimarães
Há 13 anos, num final de tarde de domingo de outubro, desapareceu da cena política brasileira, o deputado Ulysses Guimarães.
Ulysses foi parlamentar com cadeira cativa na Câmara dos Deputados até sua morte em 1992. Eleito deputado federal por São Paulo pela primeira vez em 1950, pelo antigo PSD, Ulysses reelegeu-se por 11 mandatos sucessivos para a Câmara dos Deputados.
Ao longo de sua trajetória política, Ulysses recebeu de seus companheiros designações variadas pelo engajamento político em favor da redemocratização do país.
Foi o "Senhor Diretas" no movimento pelas eleições diretas para a presidência da República, no início dos anos 80. Foi o "Senhor Constituinte", quando presidente da Assembléia Nacional Constituinte. Mas no cotidiano, era o "Doutor Ulysses" quem atendia a políticos e jornalistas.
O paulista de Rio Claro conquistou quase tudo o que disputou no Poder Legislativo. Foi por duas vezes presidente da Câmara dos Deputados: em 1956 e 1985 e, em 1987, foi presidente da Assembléia Nacional Constituinte. Perdeu apenas a disputa pela presidência da Câmara em 1958 para o conterrâneo deputado paulista Ranieri Mazzili.
No próprio partido foi timoneiro por longo tempo. Foi eleito presidente do MDB em 1975 e 1979, e depois com a extinção do antigo partido tornou-se presidente do PMDB.
Mas, se no legislativo teve uma carreira de vitórias, Ulysses teve pouca sorte com o Poder Executivo, perdendo as eleições duas eleições que disputou.
Em 1973, quando se declarou "anticandidato", sua campanha foi simbólica, quase uma denúncia contra o regime militar. Mas em 1989, mesmo com o maior tempo de exposição na TV, recebeu, como candidato do PMDB, 3 milhões e 200 mil votos no primeiro turno, ficando apenas em sétimo lugar na disputa presidencial que elegeu Fernando Collor.
No dia 26 de novembro de 1992, o senador Pedro Simon homenageia a figura de Ulysses Guimarães, após sua morte, em discurso em sessão solene do Congresso Nacional.
Para Simon, Ulysses exerceu a política como sacerdócio e doutrina, embora não condenasse outras formas de exercê-la.
"Ulysses foi em primeiro lugar um cidadão. Um cidadão como tal consciência que se tornou político. Na política, foi sempre homem de Parlamento. Poucos como ele sentiram este recinto com a sacralidade que o envolve. Não o perturbavam as fraquezas de alguns. Por que ele sabia que a legitimidade da representação não admite qualquer restrição na escolha eleitoral. O Parlamento reflete a sociedade dentro de seu tempo."
Sujeito de voz forte e carismático, Ulysses era um nacionalista por excelência, diz o senador.
"Muito poucos homens conseguem alterar o curso de uma Nação. Ulysses mudou o Brasil. Com certeza esse Brasil não é o país dos nossos sonhos e dos nossos ideais. Mas inegavelmente é bem melhor de ele atirar-se movido pelos seus delírios patrióticos na direção das liberdades democráticas e na conscientização popular."( Destacamos como um dos maiores parlamentares da história desta nação. "
Conciliador e conservador, Ulysses aderiu inicialmente ao movimento que depôs João Goulart e resultou no Golpe Militar. Chegou até mesmo a defender as cassações de mandato de parlamentares na tribuna da Câmara. Mas logo percebeu que cometera um grande engano. Na reforma partidária de 1966 ingressou na sigla de oposição, o MDB. e radicalizou o discurso contra o autoritarismo, catalizando adesões da chamada oposição institucional.
Político de ideais, chamou para si uma tarefa e um desafio. reconduzir o Brasil ao estado de direito, afirma Pedro Simon.
"A partir de 1968, após a edição do AI-5 atirou-se às mudanças. Perante a Convenção Nacional do PMDB, ao oficializar a anticandidatura explicou: o paradoxo é o signo da presente sucessão presidencial brasileira. Na situação, o anunciado como candidato na verdade é o presidente. Não aguarda eleição e sim a posse. Na oposição, também não há candidato. Pois não pode haver candidato a lugar de antemão provido. A inviabilidade da candidatura oposicionista testemunhará perante à Nação e perante o mundo que o sistema não é democrático. Ele, no seu respeito pela representação popular, podia repetir como Cavour, que a pior das Câmaras vale muito mais que a melhor das antecâmaras. E a luta dessa nação, senhor presidente, luta pela qual se destacou o grande paulista de Rio Claro não foi outra senão de retirar o poder das antecâmaras para que esta Casa e este Congresso possam exercer a sua plenitude. "
Como anticandidato à presidência da República obteve desempenho expressivo. Fez 76 votos contra 400 do general Ernesto Geisel. E foi na andança que fez pelo país na época que disse: "Baioneta não é voto, cachorro não é urna. Sou o chefe da oposição no Brasil e exijo respeito."
Ulysses Silveira Guimarães morreu aos 76 anos no exercício do mandato, em 12 de outubro de 1992, em acidente de helicóptero no litoral norte de São Paulo, pouco após a decolagem, em meio à forte chuva. Com ele, morreram sua mulher, Ida Guimarães, mais conhecida pelo apelido de Dona Mora, o ex-ministro Severo Gomes e esposa, e o piloto do helicóptero.
Como lembrança da voz de Ulysses, as palavras finais na promulgação da Constituição de 1988, que chamou de "Cidadã".
"Termino com as palavras com que comecei esta fala. A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança. Que a promulgação seja nosso grito. Mudar para vencer. Muda Brasil."
Uma vez perguntaram ao Doutor Ulysses o que ele achava sobre o partido do Governo na ditadura, a Arena. E Ulysses respondeu: "Não acho, pois a Arena não é. Não é partido, é papel carbono. Não é voz, é eco. É vaca de presépio do serviçal e eterno "sim senhor".
Este programa Câmara é História teve como trilha musical a música "Vai Passar ", cantada por Chico Buarque.
Consultoria musical de Marcos Brochado
Trabalhos técnicos:
Produção, texto e apresentação de Eduardo Tramarim
Coordenação de Jornalismo: Aprigio Nogueira.
O Câmara é História é uma produção da Rádio Câmara retransmitida gratuitamente por centenas de emissoras em todo o país.
Produção, texto e apresentação de Eduardo Tramarim