Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Jovens 1 - saiba mais sobre os desafios que os jovens enfrentam hoje ( 06' 06'' )

02/10/2006 - 00h00

  • Especial Jovens 1 - saiba mais sobre os desafios que os jovens enfrentam hoje ( 06' 06'' )

NA REPORTAGEM ESPECIAL DESTA SEMANA, VOCÊ ESTÁ CONVIDADO A CONHECER OS SONHOS E ANSEIOS DAS JUVENTUDES BRASILEIRAS. EM CINCO REPORTAGENS, A JORNALISTA DANIELE LESSA APRESENTA UM POUCO DA RIQUEZA E DOS DESAFIOS QUE OS JOVENS ENCARAM NO MUNDO ATUAL. E NA REPORTAGEM DE HOJE, ELES SOLTAM A VOZ.

Será possível definir o que é ser jovem? São tantos interesses e vontades diferentes que hoje se fala em juventudes. Não existe mais a pretensão de compreender de uma só vez toda a riqueza de sensações e sentimentos que nos rodeiam nessa fase estranha e fabulosa que dura alguns poucos anos. Hoje, 20% da população brasileira têm entre 15 e 24 anos, são jovens que se espalham em bandos ou caminham solitários, moças e rapazes que temem a violência, o desemprego, mas admitem que a melhor coisa de ser jovem é simplesmente não ter preocupação com nada. É o que aponta a pesquisa realizada pelo Instituto Cidadania, nomeada de Perfil da Juventude Brasileira. A organização ouviu 3.500 jovens de 25 estados, que disseram algo que não é novidade para quem já passou dos 24 anos: a melhor coisa de ser jovem é não ter responsabilidade e aproveitar a vida. Renato Cavalcanti tem 17 anos, é de classe média, estuda em escola particular e diz isso com todas as letras.

"O meu pai se preocupa por mim. Por mais imaturo que pareça, é a verdade. Eu não tenho muita preocupação, minha preocupação é o vestibular, e só. O resto assim não tenho preocupação, não tenho conta pra pagar, não tenho nada."

Seria muito bom se a vida fosse apenas curtição, mas para a maioria dos jovens realidade hoje é bem diferente. Mais de 85% dos estudantes de nível médio estão nas escolas públicas, e para esse meninos a alegria da juventude convive com o fantasma de competir no vestibular com os alunos das escolas particulares. Anderson Souza, estudante de uma escola pública de Taguatinga, no Distrito Federal, mostra sua preocupação com isso.

"A faculdade é um problema que a gente tá levando. A gente não tem o suporte para a faculdade, a gente não tem aquele incentivo da escola pública. A gente que vem da escola pública não tem incentivo nenhum."

Essa geração de jovens desde muito cedo conhece preocupações concretas, como o medo de não conseguir emprego. Luciana das Graças, de 16 anos, mora em Ceilândia, cidade próxima de Brasília, e estuda em uma entidade filantrópica financiada por um banco. Ela diz que é um privilégio estudar em um local que lhe dá condições de enfrentar o vestibular com mais preparo, mas lembra que fazer uma faculdade não é a única preocupação.

"O mercado de trabalho está muito acirrado, a competição está muito acirrada então a gente tem que dar o nosso melhor pra gente fazer a diferença, senão vai ter alguém que vai tomar o nosso lugar."

A pesquisa do Instituto Cidadania aponta que educação e emprego são os assuntos de maior interesse para os jovens. Esse dado tem uma explicação fácil: o índice de desemprego juvenil é quase o dobro do índice para pessoas com mais de 25 anos. Estudo do Dieese mostra que o grupo de pessoas entre 16 e 24 anos sem ocupação em seis capitais brasileiras representam 45,5% do total de desempregados. Essa situação faz com que Vanderlei Alves, morador de Samambaia, cidade satélite de Brasília, queira batalhar desde agora, com 17 anos, por um emprego bacana.

Alterar Sonora: "Se eu não procurar emprego e ficar em casa sem fazer nada, no futuro vou sentir falta. Assim, não corri atrás antes e agora estou aqui trabalhando de pedreiro e eu não quero isso pra mim. Vou começar a fazer uns cursinhos aí pra ver se eu entro em um cargo bom, arrumar um emprego pra fazer faculdade, senão não dá certo não. Tenho que ajudar minha família também, ajudar minha mãe, meu pai. E até pra curtir também, às vezes a gente vai numa festa, vai sair com a namorada à pé, de ônibus? Aí não dá certo, comprar uma carreta aí e já era."

Mas é impossível pensar em juventude sem pensar em namoros, relacionamentos ou em ficar, como se fala hoje em dia. É claro que isso foi detectado napesquisa: os relacionamentos estão em quarto lugar na lista de interesses dos jovens, sendo que eles preferem falar sobre isso com os amigos. Mas novamente a realidade aparece para incomodar. Na fase onde os jovens estão descobrindo o sexo e o desejo, a violência surge como preocupação que deixa de lado as aventuras, como explica Valber Alves, morador de São Sebastião, também no Distrito Federal.

"Minha maior preocupação não é nem isso, sexo e tudo. Acho assim que isso depende da responsabilidade. Minha maior preocupação mesmo está com a violência. Por exemplo, eu vou sair pra uma festa e não sei se vou chegar em casa vivo, se vai acontecer alguma coisa, se vão me assaltar ou me agredir. Essa preocupação tá muito grande."

Dados do Unicef indicam que em 2003, cerca de 13 mil e 200 adolescentes de
12 a 19 anos morreram violentamente no Brasil, sendo que os mais atingidos são garotos negros ou pardos. A juventude que gostaria de não se preocupar com nada, hoje teme pela própria vida.

De Brasília, Daniele Lessa

CHAMADA: NA REPORTAGEM DE AMANHÃ VOCÊ ACOMPANHA MAIS DE PERTO COMO A VIOLÊNCIA ESTÁ DEIXANDO MARCAS NESTA GERAÇÃO. VEJA TAMBÉM COMO O CONSUMO CRESCENTE DE ÁLCOOL COLOCA EM RISCO A VIDA DOS JOVENS BRASILEIROS.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h