Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Consumo 4 - Quando o consumo vira um problema (05' 53")

07/08/2006 - 00h00

  • Especial Consumo 4 - Quando o consumo vira um problema (05' 53")

QUANDO O CONSUMO VIRA UM PROBLEMA.
NA MATÉRIA DE HOJE, VOCÊ VAI CONHECER PESSOAS QUE NÃO CONSEGUEM ENFRENTAR O IMPULSO CONSUMISTA E OS IMPACTOS DO CONSUMO EXCESSIVO PARA O MEIO AMBIENTE.

"Eu tenho que parar de consumir".

A frase tem sido uma espécie de mantra para Tânia, uma funcionária pública que prefere não revelar seu nome real, e que a muito custo tem tentado controlar seu impulso consumista. Ela chegou a ter, ao mesmo tempo, 15 assinaturas de revistas, sete aparelhos de jantar e perdeu as contas de quantos perfumes ainda fechados têm em casa. Mas não é só isso.

"Eu estou proibida, pela minha cozinheira, de comprar roupa de cama. No ano retrasado, 2004, comecei a fazer uma listagem assim: tal dia troquei tal jogo com tal toalha de banho. Tal dia troquei tal jogo com tal edredon, com tal toalha de banho. Eu repeti o mesmo jogo duas vezes em um ano. Se eu abrir meu armário eu passo dois anos sem precisar comprar uma roupa. Aliás, já estou há um ano e pouco"

Em 1998, Tânia precisou reformar o apartamento de três quartos para acomodar tanta coisa. Ela atribui seu impulso consumista às grandes perdas que teve na vida: depois de passar por uma separação traumática, enfrentou a dor de ter um filho assassinado. Agora, ela se recupera da morte da mãe e precisa cuidar de um irmão doente. Mas Tânia não buscou terapia e, sozinha, tem tentado superar sua compulsão.

A psicoterapeuta Patrícia de Rezende, especialista em Psicologia das Finanças, explica que o consumo é algo saudável e necessário. Mas ele passa a ser um problema quando a decisão final é tomada pela emoção.

"O consumismo é como se fosse uma tentativa de esconder tudo o que estou sentindo e que me dói"

A psicoterapeuta recebe, em seu consultório, casos diversos de pessoas com dificuldade para lidar com dinheiro, seja por falta de uma educação financeira, ou por questões emocionais. Patrícia de Rezende conta que, geralmente, os problemas aparecem quando a pessoa não enfrenta seus próprios sentimentos.

"A pessoa não sabe lidar com as emoções dela, parar e olhar o que está sentindo e ela pode jogar isso no dinheiro, comprando por exemplo. Então é uma dificuldade de olhar pros próprios sentimemtos, porque a gente não foi acostumado a isso. A nossa tendência é a seguinte: se eu estou triste, eu vou comer; quando eu fico com raiva, eu vou comprar. Se eu estou aborrecida, eu engulo aquilo e aquilo pode virar uma gastrite"

A especialista destaca que não há como explicar porque algumas pessoas escolhem o consumo como válvula de escape para suas frustrações.

Além de ser um problema para várias pessoas, o consumo exagerado traz consequências graves para a saúde do planeta. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, já afirmou que o atual estilo de vida, altamente consumista, é o maior responsável pelo esgotamento de recursos naturais do planeta. E os números são assustadores. De acordo com o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves, seriam necessários cinco planetas para oferecer a todos os habitantes da Terra o mesmo padrão de consumo dos moradores de países ricos.

Além de acelerar o processo de esgotamento dos recursos naturais, o consumismo produz um dos grandes problemas da atualidade: o lixo.
A bióloga Patrícia Blauth, da Consultoria Menos Lixo, presta assessoria para prefeituras, empresas e associações. Em seu trabalho, ela tenta mostrar que os esforços têm que ir bem além da implementação de medidas como a separação do lixo e a promoção da reciclagem.

"A gente constrói um raciocínio com as pessoas. Elas vão percebendo que dá para reciclar, mas que a própria reciclagem tem um grande impacto ambiental. Pra muita gente a reciclagem é uma coisa mágica, você manda o vidro, a indústria do vidro pega e faz de novo eternamente e sem nenhum impacto. Então a gente discute que isso consome novamente energia, consome novamente água, falamos isso pra todos os materiais. Fazemos as pessoas concluirem que o jeito é consumir menos. A gente usa inclusive exemplos de coisas que nem recicláveis são, pelo menos em grande escala, como isopor, embalagens aluminizadas e isso choca as pessoas, que acham que quase tudo é reciclável"

E Patrícia Blauth ensina que reduzir o volume de lixo produzido pode ser simples. Basta ficar atento a tudo aquilo que pode ser substituído por um similar mais durável, como trocar a sacola de plástico do supermercado por uma de tecido, por exemplo. Ou ainda levar uma caneca para o trabalho e deixar de usar copos descartáveis.

"O copinho plástico, o copo descartável que tem um consumo absurdo. Não é só o petróleo, é todo o processo de transformação do petróleo, com água, energia, esgoto, poluição. Claro que é um desafio porque por trás de alguns itens hoje descartáveis tem todo um mito que a gente chama de terrorismo sanitário. O que um copinho descartável tem de mais higiênico que a minha própria caneca? Nada. A higiene não está nos objetos e sim no uso que a gente faz deles. Você puxa um copinho do suporte, vem dois. Você põe a mão, se quiser põe de novo no suporte"

A bióloga reclama da lacuna existente na nossa legislação relativa ao tratamento a ser dado ao lixo urbano. A Política Nacional de Resíduos Sólidos tramita na Câmara desde 1991. No início de julho, a matéria foi aprovada por uma Comissão Especial, mas ainda ficaram pendentes as votações de 16 destaques. Só depois o projeto será apreciado pelos plenários da Câmara e do Senado.

De Brasília,Mônica Montenegro.

NA ÚLTIMA MATÉRIA DA SÉRIE, VOCÊ VAI SABER QUAIS AS MUDANÇAS ESPERADAS NO PERFIL DO CONSUMIDOR BRASILEIRO PARA OS PRÓXIMOS ANOS.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h