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1963 - É constituída CPI para apurar candidatos que teriam recebido financiamento do Ibad e Ipes (07' 00")

14/05/2006 - 00h00

  • 1963 - É constituída CPI para apurar candidatos que teriam recebido financiamento do Ibad e Ipes (07' 00")

Na fase conspiratória mais aguda do movimento militar que veio a depor o presidente João Goulart foram criados três órgãos que tiveram papel de destaque na política conservadora.

O Ipes - Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais, a Adep - Ação Democrática Parlamentar e o Ibad - Instituto Brasileiro de Ação Democrática

O Ibad foi fundado em 1959 por empresários, porta-vozes do capital estrangeiro, intelectuais e políticos de direita.

Seu caráter operacional tinha o objetivo de combater uma pretensa infiltração comunista na sociedade brasileira. Seu presidente era o deputado baiano João Mendes.

O Ibad ajudou Jânio Quadros a se eleger em 1960. Celebrizou-se na eleição de 1962 por financiar candidatos conservadores, com recursos estimados em cinco milhões de dólares, que eram depositados no Royal Bank do Canadá.

Para se ter uma idéia da importância desses organismos basta dizer que a Adep contava com aproximadamente 150 membros na Cãmara dos Deputados.

Ao Ibad é atribuido um papel importante nas eleições de 1962, quando apoiou e financiou candidatos que se opunham à esquerda em todos os estados, com o objetivo de formar uma bancada atuante no Congresso.

O Ibad fornecia material impresso, veículos, apoio operacional e, dinheiro a candidatos a governador, deputados e senadores. Elegia políticos liberais como Carlos Lacerda e Ademar de Barros.

Em 1963 é constituída uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar uma lista de candidatos que teriam recebido financiamento do Ibad e do Ipes.

Para a CPI foi eleito presidente o deputado Ulysses Guimarães.

A CPI ouviu inúmeros depoimentos e apurou a participação de empresas multinacionais como Texaco, Esso, Coca--Cola, Bayer e IBM.

No dia 12 de junho de 1963, o deputado Amaral Neto, da UDN do Rio de Janeiro, fez o seguinte discurso à CPI, conhecido como "O Discurso da Mala":

" Senhor presidente, senhores deputados.
De saída quero relembrar uma conversa que tive ontem com um deputado de esquerda. que tendo lido os jornais me perguntou muito admirado.

Deputado Amaral Neto o senhor vai defender o Ibad?. Eu disse, vou. E ele me disse: - O senhor tem muito peito, porque o senhor vai ser crucificado.

Senhor presidente, com todo o respeito que tenho a esse deputado, devo dizer que no momento em que ele me diz que defender o Ibad é ser crucificado, eu vou me crucificar com muito prazer. Vou me crucificar com muito prazer com vários motivos. dos quais o principal é que são tantos os canalhas e os negocistas que se levantam contra o Ibad que ele deve ter alguma coisa de bom. Se bem que nem todos que se levantam contra o Ibad são negocistas e canalhas.

Amaral Neto faz então referência ao líder do PTB, Leonel Brizola.

"(...) Eu vi um homem acusar a UDN e levantar suspeitas sobre o pagamento de passagens dos convencionais de Curitiba. Ora, senhor presidente, este homem é líder de um partido que paga programas de televisão com notas de 500 e mil cruzeiros dentro de de maletas.

Esse homem é lider de um partido dentro do qual há maleteiros. E quando se exige do Ibad que se prove origem, eu diria desta tribuna, que o Ibad fosse como o dirigente.

Na Comissão de Inquérito diria: não deponho enquanto não souber quem é o homem do crime da mala. Enquanto não souber quem é o maleteiro, enquanto não souber quem bota o dinheiro na mala.

E porque está se dizendo isso. O moço pede satisfações à UDN. A resposta que pode ser dada ao moço não pode ser dada numa Câmara, nem dentro de uma casa de família.

E não pode senhor presidente porque é terrivelmente doloroso um Congresso assistir um espetáculo desses.

Um homem coberto de rabo de palha entrando numa fogueira com se nada houvese em torno dele."

Neste momento, o deputado Amaral Neto aumenta o tom exaltado de seu discurso e começa a dar pistas das acusações que faz.

"(...) Nós demos as satisfações. Mas se por exemplo o deputado João Calmon tivesse insisitido sem cessar como fazem conosco: Ibad. Ibad. Ibad e o diabo. Fizéssemos nós com eles: E a mala, e a mala, e a mala, e o maleteiro, e as notas de mil, e a agência nacional, e o dinheiro roubado, e a chantagem à Anderson Clayton e à Sambra para pagar o plebiscito para devolver o poder ao Presidente da República. E a chantagem de Hugo de Faria em São Paulo sobre os industriais para pagar o plebiscito.

E a mala, e a mala, eu quero saber da mala antes de explicar qualquer coisa. Eu quero saber da mala, para depois explicar outras malas se quiserem."

Antes de terminar seu discurso, Amaral Neto faz ainda alusão as sombras que ameaçavam a democracia naquele momento da história brasileira.

"O que acontece senhores deputados é que estamos conduzindo esse Parlamento para um caminho perigoso. Perigosíssimo. Muito mais do que pensam.

Eu disse uma vez nessa Câmara: não há valente que não encontre outro valente pela frente. Não há acusador que tendo rabo de palha que possa se meter a acusar ninguém."

O Ibad é fechado em dezembro do mesmo ano por atividade ilícita. Mas o complexo Ibad-Ipes seria a base para a conspiração que resultou no Golpe Militar de 1964.

Veja o discurso completo do ex-deputado Amaral Neto no site da Câmara dos Deputados (www.camara.gov.br/Radio).

Este programa teve o apoio do Centro de Informação e Documentação da Câmara dos Deputados.

Marcha - O Maleteiro

"Lá lá la lá
O maleteiro todos viram.
Eu também vi.
O povo quer saber de onde vem esse dinheiro da mala do maleteiro;
A mala, a mala, a mala
Do maleteiro só sai dinheiro.
Já fizemos uma prece aos nossos santos
Como se paga rádio e televisão
Ele disse que é de um vale só da frente
Tomar cuidado com a mala dessa gente
Existe um vivaldino por aí."

Redação:
Eduardo Tramarim.

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