Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Energia Nuclear - Usos da tecnologia nuclear e as controvérsias sobre o assunto (07' 45")

24/04/2006 - 00h00

  • Especial Energia Nuclear - Usos da tecnologia nuclear e as controvérsias sobre o assunto (07' 45")

CHAMADA: NESTA SEMANA EM QUE O MUNDO LEMBRA OS 20 ANOS DO ACIDENTE NA USINA DE CHERNOBYL, O CÂMARA ABERTA EXIBE UMA SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS SOBRE A ENERGIA NUCLEAR.

NA PRIMEIRA MATÉRIA DA SÉRIE, A REPÓRTER ANA RAQUEL MACEDO FALA DOS USOS DA TECNOLOGIA NUCLEAR E DAS MAIORES CONTROVÉRSIAS QUE ENVOLVEM A QUESTÃO

TRILHA

O uso da tecnologia nuclear é bastante variado. Na medicina, por exemplo, a radioatividade é usada no tratamento de câncer e no diagnóstico de doenças a partir do chamado raio-X. Na agricultura, as técnicas nucleares são bastante usadas para estudar solos, plantas e animais e também na conservação de alimentos. Já na indústria, os materiais radioativos podem ser usados, por exemplo, para medir a espessura de folhas de papel ou de tecido.

Mas, apesar da utilização variada desse tipo de tecnologia, é no campo das usinas nucleares que as maiores controvérsias do tema são encontradas.

A produção de energia elétrica a partir da matriz nuclear vem desde a década de 50, quando na Inglaterra foi inaugurado o primeiro reator comercial de eletricidade. A pesquisa sobre o tema, no entanto, é anterior. Já na década de 30 cientistas procuravam controlar a energia vinda dos átomos, nome dado a minúsculas partículas que formam os elementos químicos. Descobriu-se que alguns minerais, como o urânio, possuíam uma intensa atividade nuclear e, por isso, poderiam ser usados como combustível para usinas.

Mas os estudos não ficaram apenas nos fins pacíficos. E a mesma tecnologia serviu de base para a construção das bombas. Em 1945, o mundo conheceu o poder devastador da energia atômica, quando os Estados Unidos jogaram duas bombas sobre as cidades japonesas de Hirohima e Nagasaki. Desde então, não se lançaram mais bombas atômicas. Mas, nos últimos anos, com o terrorismo, aumentou o risco de que a tecnologia nuclear empregada na geração de eletricidade pudesse servir novamente como meio de produção de material bélico. Nos últimos meses, uma das grandes discussões é se o programa de enriquecimento de urânio anunciado pelo Irã servirá realmente para fins pacíficos, como alega o governo daquele país.

TRILHA MUSICAL

As críticas quanto ao uso da energia nuclear não se resumem ao campo bélico. Alguns acidentes com reatores nucleares também provocam questionamentos em relação à segurança desse tipo de tecnologia. Um dos acidentes mais emblemáticos foi o da usina de Chernobyl, ocorrido há exatamente vinte anos. No dia 26 de abril, a explosão de um reator de Chernobyl varreu a região de Pripiat, na Ucrânia, inutilizando uma área equivalente ao tamanho de um Portugal e meio. O governo ucraniano reconheceu a morte de sete mil a dez mil pessoas. Outras tantas adquiriram sérios problemas de saúde em decorrência da radiação produzida no acidente.

Para o físico nuclear e coordenador do programa de energia da ONG WWF, Márcio Maia, ainda hoje, o risco de acidentes é grande. Para ele, não existe usina nuclear segura. Outro problema, segundo o físico, são os rejeitos resultantes da atividade nuclear, já que eles permanecem radioativos por muitos anos.

"Os rejeitos radioativos, como não se conseguiu ainda encontrar uma solução definitiva, em geral o que se faz é guardar o rejeito dentro da própria usina. Se você tem uma usina que não é intrinsecamente segura, que você não pode garantir que ela será sempre segura para guardar o material radioativo e mesmo para geração de energia, como é que você pode dizer que esssa questão está resolvida?"

O astrogeofísico e professor da Universidade de São Paulo Luiz Gylvan Meira Filho concorda que os rejeitos nucleares são um dos grandes problemas que envolve o uso da energia nuclear. Mas, segundo ele, existem hoje reatores seguros. Atuante na área da pesquisa sobre mudanças climáticas, o professor destaca, ainda, que a matriz nuclear não libera gás carbônico, um dos responsáveis pelo aquecimento da terra. E, por isso, na avaliação de Gylvan Meira, a pesquisa em energia nuclear é estratégica para o Brasil.

"Eu entendo que hoje a energia hidrelétrica é mais barata que a nuclear e por causa disso há vários colegas que acham que seria preciso o brasil aproveitar melhor o seu potencial hidráulico antes de sair para a opção nuclear. De forma que, se você quer saber a minha opinião, numa certa medida eu acho correto o Brasil exercer a opção nuclear não numa escala nuclear grande, por causa do preço e porque acho que a hidráulica deve ser preferida, mas em condições de em algum momento no futuro, quando precisar, ele poder fazer isso com mais facilidade"

Para o coordenador da campanha anti-nuclear da ONG Greenpeace, Guilherme Leonardi, o argumento de que a energia nuclear não contribui para o aquecimento do planeta não serve para o Brasil.

"Realmente a energia nuclear produz menos CO² que outras fontes de energia mas ela apresenta problemas adicionais graves, como lixo radioativo. Esse material vai permanecer perigoso por milhares de anos. Seria trocar um problema por outro. Não se resolveria o problema do efeito estufa com a mudança da matriz energética porque a principal emissão de gás carbônico não é a geração de energia e sim outras fontes. No Brasil, por exemplo, o desmatamento na Amazônia, principalmente"

O Greenpeace defende que o país abandone a opção nuclear como matriz energética e invista em fontes seguras e renováveis como a solar e a eólica. Mas quando se fala em matrizes energéticas, deve-se levar em conta os custos. Segundo o professor Luiz Gylvan Meira, a opção solar, além de limitada, ainda é mais cara que a nuclear. Já em relação à opção eólica, a pesquisa está mais adiantada.

No caso da energia nuclear, a questão dos custos ainda é um dos principais argumentos contrários à utilização dessa fonte energética. Como exige altos investimentos, a construção de uma usina nuclear acaba encarecendo o preço final da energia. Além disso, para fazer um reator funcionar, é preciso enriquecer urânio, o que também é caro.

Como colocou o professor Gylvan Meira, muitos especialistas consideram que o melhor opção para o Brasil ainda é ampliar a eficiência energética de nossas hidrelétricas antes de partir para a produção em larga escala de energia nuclear. Mais barata e ainda renovável, a hidroeletricidade é responsável por mais de 92% da energia consumida no país.

Hoje o Brasil mantém em funcionamento duas usinas nucleares e ainda planeja a construção de uma terceira. Segundo a Eletronuclear, as usinas de Angra 1 e Angra 2 foram responsáveis, em 2005, por 2,5% da energia consumida no país.

De Brasília, Ana Raquel Macedo

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