Reportagem Especial
Especial Clima 4 - Brasil é um dos principais emissores de gases que causam efeito estufa (07' 39")
17/11/2005 - 00h00
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Especial Clima 4 - Brasil é um dos principais emissores de gases que causam efeito estufa (07' 39")
Nesta semana a ONU divulgou informações preocupantes acerca do desmatamento no Brasil. O fundo para Nações Unidas para a agricultura e alimentação estima que mais de três milhões de hectares de áreas florestais brasileiras foram devastadas por ano entre 2000 e 2005. Esse número coloca o Brasil como o campeão em devastação de florestas. E o que isso tem a ver com mudanças climáticas? A queima e o corte de florestas responde por 25% das emissões de gases que causam o chamado efeito estufa, que é o fenômeno causador do aquecimento global no planeta. E se a temperatura aumenta vem um monte de mudanças climáticas de carona, como enchentes, secas e furacões.
E o desmatamento já faz do Brasil um dos grandes emissores de gases de efeito estufa, como destaca o deputado Sarney Filho, do PV do Maranhão, que faz parte Comissão de Meio Ambiente da Câmara.
Sonora: Hoje a Amazônia já faz com que através da sua queimada o Brasil seja o terceiro emissor de gases do efeito estufa. Ou seja, quando se fala em internacionalização da Amazônia, a gente pode até dizer que a Amazônia já está sendo internacionalizada, porque o efeito estufa, que é global, uma grande parte dele já vem das queimadas da Amazônia.
Sarney Filho destaca que a seca atípica que a região amazônica experimentou nos últimos meses já é uma demonstração dos efeitos do aquecimento global. O deputado aponta que neste ano, pela primeira vez, existiram focos de incêncio dentro da mata, sendo que, normalmente, o fogo fica mais restrito às bordas da floresta.
Hoje 17% da vegetação original da Amazônia já foi desmatada. E porque quando se queima ou se retira a madeira do solo a emissão de gases aumenta? As plantas são constituídas basicamente de carbono, e é justamente um composto de carbono o gás que mais provoca o efeito estufa. Quando acontecem queimadas ou a derrubada de árvores, o carbono das plantas não desaparece, ele sofre algumas reações químicas e se transforma em dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa.
TRILHA
Pedro Bruzzi Lion é engenheiro florestal da organização não governamental Centro dos Trabalhadores da Amazônia. A ong foi fundada em 1983 e trabalha com a comunidade amazônica nas áreas de educação saúde e manejo florestal. Ele enfatiza que a própria sociedade brasileira, empresas e governo contribuem com a destruição das matas, pois não se oferece alternativas de renda e inclusão social a partir da floresta.
"Para o pequeno, como não existem alternativas de geração de renda a partir da floresta, para ele o mais fácil é desmatar para implantar ali a pecuária ou a produção de grãos. Isso para ele, a princípio, gera um retorno econômico mais rápido. O boi é visto como a grande poupança dos pequenos".
Como as áreas de pastagem para o gado valem mais do que as árvores em pé, é mais vantajoso derrubar a floresta em vez de tentar uma produção sustentável, como o acaí e o palmito, por exemplo. Essa situação só vai mudar quando a população enxergar a floresta preservada como fonte de renda.
Nos últimos meses a região amazônica atravessou uma das piores secas dos últimos anos. Só no estado do Amazonas foram 61 municípios em estado de calamidade pública. Pedro Bruzzi conta que no Acre, Rondônia e Amazonas choveu muito menos que o normal e a umidade do ar baixou bastante. Tudo isso facilita a propagação do fogo, e alguns produtores da região aproveitaram a situação para incêndiar áreas propositalmente.
"Foi uma decisão de alguns produtores de vários locais diferentes, que resolveram incendiar suas pastagens ou os seus roçados para justamente plantar com o início da chuva. Isso se propagou, foram queimando propriedades vizinhas, o fogo realmente se espalhou numa área bastante significativa. Aconteceram prejuízos muito significativos, perda de gado, casas incendiaram, produtores ficaram sem casa, alguns perderam tudo".
TRILHA
O Brasil é signatário do Protocolo de Quioto, um acordo internacional que prevê a diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Como 75% das emissões brasileiras são decorrentes do desmatamento, é necessário uma ação imediata para diminuir a derrubada de árvores e, desse modo, evitar mudanças climáticas que ainda são desconhecidas. Para o professor da UFRJ e secretário geral do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, o Brasil precisa olhar com mais atenção para as nossas florestas por diversas razões.
"Isto não é só por causa do protocolo de Quioto. É também em nome do interesse nacional, em nome do bem estar das famílias que habitam aquela região e que são prejudicadas pela destruição da floresta, feita em geral por atividades econômicas de caráter predatório como criação de gado, plantação de soja, mineração e desmatamento para exportação de madeira."
E o que o cidadão pode fazer para evitar o desmatamento ilegal no Brasil? Uma boa dica é exigir que a madeira que você compra seja certificada, pois isso mostra que ela não vem do corte de floresta nativa. Mas o principal é cobrar políticas consistentes para o desenvolvimentos sustentável das nossas florestas. Se algo não for feito, a perda será imensa, como lembra o engenheiro Pedro Bruzzi.
" A cada ano a gente vai perdendo muita riqueza, vai perdendo muitos recursos. E infelizmente fica aquele sentimento: ah, estão roubando a Amazônia, os americanos, os gringos estão roubando a Amazônia. Mas de fato, a análise que a gente faz aqui no dia-a-dia com as pessoas, com a comunidade é que quem está realmente perdendo a Amazônia é o Brasil."
De acordo com organização ambientalista Grrenpeace, 90% de toda a madeira exraída na Amazônia são ilegais. Desse total, 64% são consumidors no mercado interno.
De Brasília, Daniele Lessa