Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Nutrição 4 - Benefícios e riscos dos suplementos alimentares ( 06' 21'' )

07/07/2005 - 00h00

  • Especial Nutrição 4 - Benefícios e riscos dos suplementos alimentares ( 06' 21'' )

Você troca um filé de abadejo por uma pílula de proteína? Muita gente troca. Os suplementos alimentares estão cada vez mais freqüentes. O problema é que muitas pessoas não consomem esses suplementos como uma complementação da alimentação, mas acabam substituindo a comida por eles. O nutricionista esportivo Leonardo de Sousa Costa não concorda com a substituição pura e simples de alimentos por suplementos. Ele destaca que esses produtos geralmente representam uma substância isolada, que nunca vai substituir todos os nutrientes de um alimento. E dá exemplos.

"Caroteno é o que dá cor amarela aos vegetais. Ele é excelente para a pele, para a visão, e é anti-oxidante. Então, eu vou lá e compro um suplemento de betacaroteno. Só que, quando eu como o mamão, que tem betacaroteno, no mamão eu vou ter papaína, que é uma enzima, a gente encontra as vezes mais de 25 mil substâncias diferentes que têm a mesma ação do caroteno, e você nunca vai conseguir isso numa suplementação. O alimento é muito mais rico. O alimento, além de ser mais rico, tem nutriente de melhor qualidade e o organismo reconhece aquilo perfeitamente. A vitamina, não. A vitamina a gente fez um estudo que uma vitamina simples, a C, você pode dar um grama de vitamina C no suplemento que ela não dura mais do que 4 horas no organismo. A vitamina C de uma laranja dura 8 horas. Então até a absorção e a utilização do corpo é mais eficiente a partir do alimento."

Outro nutricionista, Julio Aquino, tem a mesma opinião e dá outro exemplo de como o alimento é muito mais rico do que os suplementos.

"Todo mundo começou a suplementar com isoflavona. Aí já saiu um estudo dizendo que isoflavona depende de outros fatores intrínsecos à própria soja para serem absorvidos por nosso intestino. Então não é só tomando uma substância isolada, porque ela funciona em conjunto com outras e não vai funcionar sozinha."

Então, porque as pessoas insistem em tomar suplementos? Existem casos em que a pessoa tem realmente deficiência de determinado nutriente, o que pode ser observado em exame clínico ou em testes laboratoriais. Leonardo Costa alerta que a suplementação é usada em casos muito específicos.

"Você pega um triatleta que treina 3 horas por dia, ele não pode almoçar um pratão de macarrão e dali a uma hora estar treinando de novo. Então, ele sim vai precisar de um suplemento. Agora, tem gente que, matriculou na academia, e na mesma hora passa numa loja de suplementos, fala: ´vou começar a malhar, vou tomar alguma coisa´. Não tem ainda nem a capacidade de treinar, ainda precisa se condicionar, ainda precisa passar pelo processo adaptativo do treino, dormir cedo, comer direito, se hidratar. Aí sim. Então é muito importante que a gente pense primeiro que o certo é ter uma boa resposta fisiológica, fazer uma boa alimentação. Fazer um descanso adequado, uma boa hidratação. Aí não está funcionando, aí sim é hora de colocar um suplemento."

O chamativo dos suplementos é realmente a busca do corpo perfeito. E na busca desse corpo malhado, o uso de anabolizantes é disseminado nas academias. Com as bombas, que são hormônios anabolizantes, os malhadores conseguem chegar a esse corpo perfeito de uma forma rápida. O nutricionista Leonardo Costa alerta que as pessoas pensam no efeito estético e se esquecem das consequências da utilização dessas substâncias, que causam um desbalanço completo no sistema hormonal. Ele diz que uma ampola é capaz de causar estragos no organismo como a dificuldade para ganhar massa, problemas no fígado, aumento de colesterol. Leonardo destaca ainda que a pessoa pode ter uma hepatite fulminante, um problema cardíaco ou uma trombose venosa profunda, resultando num derrame. E por que as pessoas continuam tomando? A busca de um corpo invejado, alcançando em semanas resultados que, normalmente, seriam atingidos em meses, até anos de malhação. Os efeitos das bombas são plenamente visíveis para a maioria das pessoas, mas poucos admitem seu consumo. Leonardo Costa diz que agressividade e aumento da libido são apenas alguns dos sintomas que indicam o uso dessas substâncias.

"E os traços masculinizantes, a voz altera, e a voz não volta. Então se uma menina tomou uma quantidade de hormônio, ela já vai ficar com uma voz um poquinho mais grossa e nunca mais a voz dela volta ao normal, crescimento de buço, porque a testosterona aumenta a produção de pelos. Aumento de algumas partes do corpo, mãos, pés, maxila, na parte ginecológica, tem muita coisa."

Mas o uso de alguns anabolizantes tem recomendação médica, explica Leonardo.

"Anabolizante é usado quando a criança tem uma deficiência na produção de hormônio e está tendo um raquitismo, ou é uma pessoa que sofreu acidente e precisa recuperar muita massa muscular. Eles são extremamente agressivos para o corpo."

Por isso, ele critica veementemente o uso apenas estético dos anabolizantes. E reforça os efeitos maléficos, que serão sentidos somente a longo prazo.

"Se você tomou com 20 anos, você só vai sentir o efeito maléfico com 30. Então, uma hipertensão, que só ia chegar aos 60, chega aos 25. Um ataque cardíaco, que está na genética da família, um problema de coração, às vezes você nunca ia ter, e você pode ter."

No ano passado, vários jovens de cidades próximas a Brasília foram internados em estado grave após tomar anabolizantes usados em cavalos. Um rapaz de 21 anos acabou morrendo.

De Brasília, Adriana Magalhães.

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