Rádio Câmara

Reportagem Especial

Pesquisa do Ibge revela: brasileiro vai mal de Saúde, mas acredita que é saudável

28/05/2005 - 00h00

  • Pesquisa do Ibge revela: brasileiro vai mal de Saúde, mas acredita que é saudável

O brasileiro tem uma boa opinião sobre a própria saúde, mas isso pode não refletir uma boa situação de saúde.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou, na última quarta-feira, um suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios na área de saúde.

A pesquisa sobre o Acesso e Utilização de Serviços de Saúde, feita em 2003, revelou que o brasileiro tem um bom índice de avaliação do próprio estado de saúde. 140 milhões de brasileiros, ou 78,6% da população, avaliaram seu estado de saúde como bom e muito bom, contra 3,4%, ou cerca de 6 milhões de pessoas com a avaliação de "ruim ou muito ruim".

Mas os dados revelaram alguns aspectos preocupantes, especialmente no que diz respeito às desigualdades sociais. O índice de avaliação positiva do estado de saúde é de 91,6% na classe que recebe mais de 20 salários, enquanto que na que recebe apenas até um salário mínimo é de 72,7%. Oito em cada dez pessoas declararam ter acesso a algum serviço de saúde de uso regular. especialmente os postos de atendimento. O dado é positivo, mas significa que cerca de 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a nenhum serviço de saúde de uso regular. O conceito de serviço de saúde de uso regular exclui casos de emergência.

Em relação aos cuidados com a saúde bucal, a pesquisa mostra um dado assustador: 28 milhões de brasileiros nunca foram ao dentista, ou 15,9% da população. Entre os mais pobres, o problema é maior: 3 em cada 10 nunca tiveram atendimento odontológico, enquanto que na população mais rica, essa carência atinge 3 em cada 100 brasileiros.

O ministro da Saúde, Humberto Costa, esteve presente ao lançamento da pesquisa na última quarta-feira. Ele explicou os planos do governo para melhorar o atendimento odontológico:

"O que nós temos é que intensificar. Nós temos que fazer com que o número de equipes de saúde bucal aumente, nós já tivemos um crescimento significativo, saímos de 4 mil para 10 mil, queremos chegaraté o final de 2006 com algo em torno de 20 mil equipes, isso já vai dar uma cobertura bastante razoável."

A pesquisa sobre Acesso e Utilização de Serviços de Saúde revelou, ainda, um crescimento nos atendimentos feitos pelo Sistema Único de Saúde. Em 2003, o SUS pagou 57% dos atendimentos realizados nas duas semanas anteriores à pesquisa. Na edição anterior do estudo, em 1998, o SUS pagou 49% dos atendimentos. O crescimento revela uma maior participação do SUS nos atendimentos, mas ainda é grande a parcela da população que recorre aos planos de saúde. Segundo a pesquisa, um quarto dos brasileiros têm um plano. O deputado Henrique Fontana, do PT gaúcho, é médico. Ele criticou o fato de 43 milhões de brasileiros recorrerem aos planos de saúde para serem atendidos:

"É um índice alto. Na minha opinião, é alto demais. Porque tem muita gente que pensa que comprou um plano de saúde que vai garantir o atendimento a todos os seus problemas, e na verdade quando precisar de coisas especialmente mais sofisticadas, caras e complexas, vai ver que o plano de saúde não atende, não inclui. Tem gente comprando gato por lebre"

O diretor do Hospital Universitário de Brasília, Cláudio Freitas, também criticou o grande número de brasileiros com planos de saúde. O médico acredita que o número de pessoas que contratam esse tipo de serviço demonstra que o SUS não vem exercendo seu papel como sistema único. O diretor citou o exemplo da Inglaterra, em que pessoas de todas as classes sociais utilizam o serviço público de saúde. Freitas criticou o fato de que, no Brasil, os governantes e a classe média não utilizarem os serviços do SUS:

"Se ele e a família dele se precisarem ele sabe que vão ser atendidos ali, a própria classe média, que tem um poder de pressão, de crítica maior, de educação, de capacidade dese articular politicamente, se essas pessoas dependem muito do sistema público, sem dúvida nenhuma que não vai faltar nada, não vai acontecer isso de não ter antibiótico, não ter fio cirúrgico num hospital público"

Essa edição da PNAD investigou, pela primeira vez, o acesso das mulheres brasileiras aos serviços de saúde preventiva da mulher. O foco do estudo voltou-se para os exames que detectam o câncer do cólo de útero e o câncer de mama. A pesquisa revelou que quase metade das mulheres acima de 50 anos nunca fizeram um exame de mamografia na vida. Um dado mais impressionante é que um terço das mulheres acima de 40 anos de idade nunca foram submetidas a um exame de toque de mamas feito por um profissional. Outro dado revelado pela pesquisa é que 1 em cada 5 brasileiras nunca fez exame preventivo de colo de útero, o exame da lâmina. No Maranhão, a situação é pior: 3 em cada 5 mulheres nunca fizeram o exame. Para Cláudio Freitas, que é também ginecologista e obstetra, esse último dado é o mais impressionante:

"A assistência ao câncer do colo uterino, essa está estagnada, eu acho que nós temos que ficar até assutados, alarmados, com o baixo atendimento nessa área, porque a cobertura, nesse caso, ela tinha de ser, já há muito tempo, de 100%. Essa busca tinha que ser ativa, tinha que procurar as pessoas que não fazem, fazer o preventivo, e dar resposta. Isso realmente me decepcionou."

De acordo com o médico, o exame papanicolau, mais conhecido como exame de lâmina, pode detectar o câncer no estágio inicial, e as chances de cura podem chegar a 100%.

A pesquisa sobre o Acesso e Utilização de Serviços de Saúde ouviu 385 mil pessoas, em mais de 133 mil domicílios. A pesquisa foi divulgada na última quarta-feira, mas os dados são de 2003.

De Brasília, Paula Bittar

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