Rádio Câmara

Papo de Futuro

EP#77 - Inteligência Artificial (IA), passado, presente e futuro em nossas vidas

06/08/2024 - 08h00

  • Inteligência Artificial (IA), passado, presente e futuro em nossas vidas

Se você acha que a inteligência artificial é algo novo e revolucionário, é porque você não viu a mudança da charrete para os carros. Atenção, o Papo de Futuro vai te contar um segredo: a IA já faz parte da sua vida há muito tempo.

A intensificação da sua presença em nossas vidas traz um ar de revolução, mas, na verdade, esse filme a gente já viu antes. Os robôs estão aí há décadas, as plataformas digitais transformaram os algoritmos em realidade em nossas vidas há pelo menos duas décadas, e o termo IA vem de 1953. Portanto, a música não é nova.

O que mudou é a nossa capacidade de perceber e distinguir essa tecnologia e aprender como lidar com ela tão de perto, como as IAs generativas.

Também nos assusta a eficiência dos algoritmos, em que tudo tem a nossa cara, o que dá impressão de que estamos sendo vigiados o tempo todo.

Em outras palavras, parece que a propaganda na internet nos conhece melhor do que nós mesmos.

César Taurion, economista, empresário e apaixonado pelo tema da inteligência artificial, fala sobre os mitos em torno da tecnologia, como a ideia de que robôs irão adquirir vida própria.

“Robôs inteligentes que vão adquirir vida humana é muito mais ficção científica. Porque inteligência artificial são modelos probabilísticos. Não têm intenção de vida, não têm pretensão de fazer alguma coisa. O risco não é ter uma inteligência que vai fazer algo malévolo ou destruir a humanidade. O nosso risco são coisas práticas do dia a dia, como gerar vídeos fakes, como pegar o meu rosto e sintetizar a voz e me fazer dizer coisas que eu não disse.”

Por outro lado, as IAs, com sua enorme capacidade de processar informação, podem fazer diagnósticos, estudos e nos fazer avançar muito no conhecimento científico. Isso seria uma verdade, é isso?

A IA tem a capacidade de moldar a sociedade, mas a sociedade também ensina coisas e transforma pessoas, crenças e comportamentos. É um processo que se retroalimenta, o que nos deixa mais animados quanto à necessidade de colocar pessoas envolvidas nesses processos.

“Quando qualquer tecnologia surge, ao longo do tempo, mudamos o seu propósito inicial. Quando o Facebook começou, a gente tirava fotos das férias, e hoje é uma máquina de polarização política. A tecnologia influencia a sociedade e é por ela influenciada, elas não vivem isoladas. A IA neste modelo em que estamos precisa de muitos dados, tem coisas interessantes, como análise de imagens médicas, mas quando você usa tecnologia para gerar textos ou imagens e buscar praticamente toda a informação que está armazenada na internet, está trazendo informações que podem estar sujeitas a direito autoral, como uma notícia em um jornal, que eu não posso copiar e publicar como se fosse minha.”

Como tudo na vida, trata-se de encontrarmos o ponto de equilíbrio. César lembra que golpes sempre existiram no mundo e sempre existirão. Quem lembra das propagandas na TV, prometendo fortunas do dia para a noite?

“Para cada uso malévolo, você deve ter dez, quinze usos positivos, mas eles nunca aparecem muito. É verdade que a tecnologia permite isso, mas outras tecnologias já permitiam este tipo de coisa, como na própria televisão, onde havia gente que oferecia chance de você se tornar milionário, ou até quando você recebia ligações de falsos sequestros ou depois, com golpes com criptomoedas. Os dados vazam e quadrilhas usam isso de forma negativa. A IA não criou isso, ela potencializou isso.”

A regulação é uma linha tênue entre a inovação e o controle, e a responsabilidade pelo mau uso das tecnologias. E isso será muito observado nas eleições municipais agora de 2024. O que nós acreditamos é que, se não houver regulação, a própria tecnologia perderia o rumo e o sentido, pois seus usos não seriam direcionados à uma evolução que é ditada pelos limites éticos e de valores da sociedade, o que difere completamente de Estado para Estado, de país para país.

Conforme César Taurion, equilibrar inovação com segurança, ética e responsabilidade não é fácil, sem falar na dificuldade de aplicar as leis:

“Uma coisa é que a regulação tem que ser dinâmica. Uma tecnologia em evolução muito rápida tende a se tornar obsoleta em pouco tempo. Se ela se tornar inadequada, ela deixa de ser cumprida. É importante ter uma série de considerações. O que está faltando é a aplicação da lei. A lei diz que é proibido roubar, mas as pessoas roubam, tem corrupção para todo lado. A questão é trabalhar para que a lei seja cumprida.”

 O tema desperta receio e paixões, e o debate crucial é até que ponto a sociedade quer correr risco, em troca de um uso intensivo da tecnologia. Isso para a medicina, carros autônomos, pesquisas nucleares e também a perda de emprego no mercado de trabalho.

Dessa forma, o debate avança a passos de tartaruga e as tentativas de decidir de forma menos democrática costumam fracassar. O relatório do senador Eduardo Gomes propõe que a agência de proteção de dados seja a reguladora oficial da IA no Brasil, mas esse lugar é bastante disputado, pela Anatel por exemplo. Acredito que o tema fique mesmo para o ano que vem. O que tem vantagens, de evitar precipitações, e desvantagens, de permitir que todos nós sejamos cobaias e alimentar a violação de direitos, como o da privacidade e os direitos autorais.

O equilíbrio não é fácil, e os interesses comerciais contaminam o debate. Mas é a vida, como ela é... cada vez mais digital.

Você ainda pode enviar a sua sugestão de tema, crítica ou sugestão para o WhatsApp da Rádio Câmara (61) 99978-9080 ou para o e-mail papodefuturo@camara.leg.br.

(1) LinkedIn de César Taurion

Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Carlos Oliveira

Coluna semanal sobre as novas tendências e desafios na comunicação no Brasil e no mundo, da telefonia até a internet, e como isso pode mudar a sua vida.

Terça-feira, às 8h

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