Marinho faz novas denúncias de corrupção nos Correios
29/09/2005 - 20:40
O ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho, pivô do escândalo de corrupção na estatal, ampliou as denúncias de irregularidades na empresa em novo depoimento prestado à CPMI dos Correios, nesta quinta-feira. Ele disse que uma série de desvios na área de franquias dos Correios provocou prejuízos de R$ 1 bilhão por ano para os cofres públicos. Esse valor, segundo ele, pode chegar a R$ 4 bilhões se forem considerados outros setores da estatal.
Ouvido em reunião fechada pela comissão, Marinho apresentou um dossiê com mais de 300 páginas sobre supostas irregularidades em contratos dos Correios. O documento teria sido enviado a ele, anonimamente, por funcionários da empresa.
Um dos contratos incluídos no dossiê, de valor superior a R$ 34 milhões, refere-se à compra superfaturada de 1.050 furgões da Fiat - o valor de referência de cada furgão seria de R$ 31.776, e os Correios teriam pago R$ 32.400 por unidade. Segundo o sub-relator de movimentação financeira da CPMI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), Marinho afirmou que, para cada furgão adquirido, houve desvio de R$ 1 mil em benefício de pessoas envolvidas no processo de contratação. "Temos que investigar essa denúncia com cuidado", disse o deputado.
Aditivo para Valério
Gustavo Fruet também destacou a denúncia de Maurício Marinho de que haveria irregularidades no contrato de publicidade dos Correios com a SMPB, agência pertencente ao empresário Marcos Valério de Souza, suposto operador do "mensalão". Segundo o depoente, um funcionário da estatal ligado ao PT teria induzido a direção dos Correios a aprovar um aditivo que elevou o valor do contrato de R$ 72 milhões para cerca de R$ 90 milhões.
Ainda segundo Fruet, esse aditivo foi definido em edital coordenado pelo então chefe do Departamento de Marketing dos Correios, Otaviano Pereira. Marinho teria dito aos parlamentares que Otaviano é um excelente técnico, mas que agia sob a orientação do então ministro Luiz Gushiken.
A informação foi contestada pelo sub-relator de contratos da CPMI, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Ele confirmou que Otaviano tinha ligação com Gushiken, mas disse que Mauricio Marinho não afirmou que supostas irregularidades nesse aditivo tenham sido sugeridas pelo ex-ministro.
Corrupção permanece
De acordo com o relator da CPMI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), Marinho levantou a suspeita de que continuaria existindo corrupção na estatal, mesmo após a substituição da antiga diretoria, em junho deste ano. "Ele dá a entender que o pessoal que está hoje lá foi colocado pela diretoria passada. Ou seja, o segundo escalão ascendeu para o primeiro", afirmou o relator.
Serraglio observou, no entanto, que até o momento a comissão não tem qualquer prova que desabone a atual diretoria dos Correios.
Esquema antigo
A senadora Ideli Salvati (PT-ES) também revelou trechos do depoimento de Marinho. Conforme a parlamentar, o ex-chefe dos Correios disse que a prática de superfaturamento e de desvios de recursos na estatal também ocorria no Governo Fernando Henrique Cardoso, quando a empresa era dirigida por Hassan Gebrim. Foi nesse período, de acordo com o depoente, que os Correios passaram pelas maiores mudanças nas áreas de tecnologia e de processos.
Para Salvati, o depoimento comprovou que as irregularidades nos Correios vêm sendo praticadas há muito tempo e beneficiaram vários partidos.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) destacou o trecho em que Marinho revelou que empresas que trabalham com os Correios costumam patrocinar o que o depoente definiu como um "esquema de agrado" (isto é, de pagamento de propinas). Os recursos seriam usados para abastecer campanhas eleitorais do PT, PTB e PMDB.
Este foi o segundo depoimento de Maurício Marinho na CPMI dos Correios. Na primeira vez, ele havia negado as denúncias de corrupção, embora tenha confirmado tudo logo depois ao Ministério Público. Por isso, a comissão resolveu ouvi-lo de novo, a portas fechadas.
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Reportagem - José Carlos de Oliveira e Fábio Pedrosa
Edição - Rejane Oliveira
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