Christina diz que presidente do PL concebeu o “mensalão”

20/07/2005 - 22:57  

Em depoimento nesta quarta-feira no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, a publicitária Maria Christina Mendes Caldeira afirmou que o suposto esquema do “mensalão” foi concebido pelo ex-marido dela, o presidente nacional do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), em parceria com o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) e com o tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares. Ela revelou, também, uma operação de empresários ligados ao governo de Taiwan para obterem influência no governo brasileiro, por meio de uma suposta doação de dois milhões de dólares (cerca de R$ 5 milhões) para Costa Neto e Delúbio.

Existência do “Mensalão”
Christina disse ter chegado às suspeitas sobre o “mensalão” com base em trechos de conversas de Costa Neto com Rodrigues, ouvidas por ela na casa onde morava com o deputado em Brasília. Essas conversas aconteceriam, segundo Christina, por telefone e também durante cafés-da-manhã na residência do casal. “Quando eu era casada com ele (do início de 2003 a julho de 2004), não existia o nome mensalão; mas, agora que os fatos estão surgindo na imprensa, eu percebi que era disso que as conversas se tratavam”, explicou. “Eu presenciava muitos fatos estranhos que agora começam a fazer sentido”, completou, fazendo a ressalva de que não acredita num envolvimento do presidente Lula com o “mensalão”.

Malas cheias
“O mensalão existe e Valdemar recebia”, afirmou Christina. Ela citou o endereço onde Costa Neto buscaria “malas cheias de dólares”: o escritório de uma pessoa chamada Alípio Gusmão, na Rua Gomes de Carvalho, 1306, oitavo andar, em São Paulo. De acordo com Christina, depois de ir a esse local o deputado voltava para Brasília, na maioria das vezes, em aviões particulares fornecidos pelo empresário Fernando Simões, transportando malas de dinheiro.
Christina deu a entender que Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, também participava do suposto esquema, pois era encarregado por Costa Neto de buscar malas de dinheiro em Belo Horizonte. “Ele também deveria ser chamado para depor na Conselho de Ética”, sugeriu.
Na capital mineira, fica a sede das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do suposto “mensalão” pago pelo PT a parlamentares da base aliada. Mas Christina afirmou que jamais viu Marcos Valério.
Ainda segundo o depoimento, Costa Neto também teria entregado uma pasta com dinheiro ao deputado Remi Trinta (PL-MA), num flat em São Paulo. Mas, de acordo com Christina, esse dinheiro não faria parte do “mensalão”. “Eu presenciei a entrega, mas não sei quanto dinheiro havia na pasta”, contou.

Compra de partidos
Outra denúncia de Christina refere-se à suposta “compra” de uma legenda pelo PL: o Partido Social Trabalhista (PST). Segundo ela, o PST foi incorporado ao PL em janeiro de 2003 mediante o pagamento de 500 mil dólares (cerca de R$ 1,25 milhão) ao seu então presidente, Marcílio Duarte.
De acordo com o relato de Christina, ela e Costa Neto estavam voltando para São Paulo, num jato particular, de uma festa na fazenda do pai de Delúbio Soares, em Buriti Alegre (GO), quando em Congonhas, o avião deles ficou sem freio e fez um cavalo-de-pau na pista; “o Valdemar me disse, então, que o Marcílio teria um enfarte se ele (Valdemar) morresse no acidente, pois ainda não havia recebido os 500 mil dólares”, contou.
Na festa do pai de Delúbio, segundo Christina, estavam também o publicitário Duda Mendonça (que foi o responsável pela campanha do presidente Lula na eleição de 2002) e um dos integrantes da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano (ela não soube precisar qual deles).
De acordo com Christina, o deputado Carlos Rodrigues seria o protagonista, junto com Costa Neto, de uma “estratégia financeira” para transformar o PL no “maior partido do País”. Por isso, segundo ela, Rodrigues foi escolhido para presidir o diretório do PL no Rio de Janeiro, em lugar do senador Marcelo Crivella (PL-RJ).

Encontros
De acordo com Christina, Costa Neto “detestava os petistas”, mas era íntimo de Delúbio Soares, apesar de negar essa relação. “Eles sempre se encontravam em hotéis de São Paulo e Brasília”, afirmou.
Costa Neto, segundo ela, também costumava se encontrar com o secretário-geral licenciado do PT, Sílvio Pereira. “O Valdemar dizia que o Sílvio tratava apenas da distribuição de cargos no governo; Sílvio recebia currículos que precisavam ser aprovados antes de as pessoas irem para o governo, mas não tinha nada a ver com o mensalão”, explicou.
Quanto ao deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) – de quem ela foi testemunha no depoimento de hoje –, Christina disse tê-lo encontrado apenas uma vez (numa churrascaria de Brasília).

Questionamentos à depoente
A publicitária falou, também, sobre a existência de um “grande cofre” na casa de Costa Neto, onde ele guardaria dólares. O deputado Edmar Moreira (PL-MG), porém, informou que o cofre pertencia ao PL e não era tão grande quanto Christina havia falado no depoimento. “Não se trata de um cofrão, como ela disse, e sim de um cofre normal”, contestou.
Outro que rebateu os argumentos de Christina foi o deputado José Carlos Araújo (PL-BA). Segundo ele, as acusações da ex-mulher contra Costa Neto poderiam ser frutos de uma retaliação pessoal, já que os dois tiveram uma separação conflituosa e o deputado entrou com seis queixas-crime contra ela. “Se a senhora tinha conhecimento de todos esses fatos tão graves, deveria tê-los denunciado antes”, disse Araújo. “Eu tentei, mas ninguém me dava atenção”, respondeu ela.
O advogado de Christina, Fernando José da Costa, disse aos parlamentares que o objetivo do depoimento não era apresentar provas, mas dar um testemunho dos fatos presenciados por ela.

Ex-mulher detalha Operação Taiwan

Reportagem - João Pitella Junior
Edição - Regina Céli Assumpção

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