Equipe médica se defende na CPI do Tráfico de Órgãos
10/08/2004 - 22:20
A CPI do Tráfico de Órgãos ouviu nesta terça-feira os quatro cirurgiões acusados de praticar eutanásia em pacientes de hospitais de Taubaté, no interior do estado de São Paulo.
A denúncia é do ex-diretor da Faculdade de Medicina de Taubaté, Roosevelt de Sá Kalume, segundo o qual os médicos aceleravam a morte dos pacientes para retirar seus órgãos, que eram traficados para transplantes. Kalume afirma que, de acordo com os prontuários dos pacientes, dois deles não apresentavam morte cerebral, e havia dúvidas em relação à morte de outros dois.
O chefe da equipe acusada, o urologista Pedro Henrique Torrecillas, entregou à CPI parecer do Conselho Regional de Medicina de São Paulo emitido em 1988 sobre o inquérito instaurado para averiguar as denúncias. O documento constata que "não existe no processo qualquer evidência de que tenha havido por parte dos denunciados a prática da eutanásia ou de comercialização de órgãos, tendo sido a retirada de órgãos sempre efetuada após a constatação da morte encefálica".
Torrecillas negou que tenha praticado qualquer ato semelhante à eutanásia nos 18 anos em que atua na área de transplantes. Em sua opinião, a inveja e o ciúme foram os motivos para as acusações de Roosevelt Kalume. Ele lembrou à CPI que Kalume participou da tentativa de criação da equipe de transplantes na cidade de Taubaté junto ao urologista Rui Sacramento, também acusado por ele. A equipe não chegou a ser implementada na cidade. Posteriormente, uma nova equipe foi montada na Faculdade de Medicina de Taubaté, sem a presença de Kalume.
Prontuários alterados
Rui Sacramento também foi ouvido pela CPI. Ele afirma que o Poder Judiciário foi manipulado com provas falsas, mentirosas e forjadas. "Kalume retirou exames do prontuário dos pacientes", disse.
Segundo ele, esses exames provariam que os procedimentos das cirurgias foram legais. Entre os documentos desaparecidos, estaria o eletroencefalograma de um paciente.
O neurocirurgião Mariano Fiori Jr. também afirmou que foram retirados dos prontuários de três pacientes os exames que comprovariam sua morte encefálica. Ele conta que o fato foi comunicado ao delgado que apurou o caso na época; no entanto, não lhe foi dada a devida atenção.
Fiori afirma que foram adotados os procedimentos recomendados pela literatura universal para constatar a morte encefálica dos pacientes.
O neurocirurgião Antônio Aurélio de Carvalho Monteiro, que também depôs à CPI, disse que as acusações de Roosevelt Kalume foram irresponsáveis e levianas. Segundo Monteiro, os inquéritos de processo do Ministério Público apresentam várias falhas técnicas.
Enfermeiras também denunciam
O presidente da CPI, deputado Neucimar Fraga (PL-ES), apresentou à comissão matéria veiculada em programa jornalístico de TV há cerca de 15 dias na qual duas enfermeiras que faziam parta da equipe de transplantes do hospital municipal Santa Isabel, em Taubaté, onde os médicos trabalhavam, denunciam a prática de eutanásia. Na reportagem, Rita Maria Pereira e Belmira Ângela Bittencourt explicam a forma com que os médicos procediam a eutanásia em pacientes supostamente vitimados por morte cerebral. Em um dos casos, o paciente que estava sendo preparado para a retirada de órgãos dava sinais claros de vida, quando um dos médicos cortou com bisturi artéria próxima ao coração, provocando morte por hemorragia.
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Reportagem – Daniel Cruz
Edição - Patricia Roedel
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