Da descrença ao orgulho: ex-deputados lembram primeiros anos
19/04/2010 - 16:39

No dia 17 de abril de 1960, um jovem deputado transferiu-se definitivamente para a cidade que seria, quatro dias depois, a nova capital do País. Carlos Murilo tinha 29 anos e já estava certo do que essa mudança representava - que o olhar de toda a nação começaria a se deslocar para o interior do País.
Murilo é sobrinho de Juscelino Kubitschek e acompanhou a construção da nova capital desde o início das obras, em 1956. No princípio, não acreditou que um projeto tão ambicioso poderia ser executado em tão pouco tempo: "Quando eu cheguei aqui pela primeira vez foi um espanto. Era mato só".
O ex-deputado lembra com detalhes o momento em que o presidente, em pé onde seria hoje a Praça dos Três Poderes, disse: "Ali será o Congresso, ali será o Palácio da Justiça e ali será o Palácio do Planalto". Murilo surpreendeu-se com tamanha determinação.
"Era como se ele estivesse vendo tudo pronto ali, logo à frente". Passados 50 anos, Murilo envaidece-se: "Quando vejo Brasília, essa metrópole que é hoje, essa cidade linda, a cidade mais bonita do mundo, eu sinto orgulho, como brasileiro, de saber que temos esta capital".
Plenário à luz de velas

Os deputados federais foram alguns dos primeiros moradores de Brasília, devido à transferência do Congresso do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Nesse período, as dificuldades não foram poucas, disse Nestor Jost, então deputado e segundo vice-presidente da Câmara. "Não era raro que acabasse a luz no meio das sessões plenárias. Nesses casos, a gente acendia velas e votava assim mesmo."
Jost também foi responsável por acompanhar a construção das residências funcionais e a transferência da mobília pelos 1.200 quilômetros que separavam o Rio de Brasília. "A acomodação dos deputados em Brasília foi complicada. Os móveis chegavam quebrados por causa da viagem e o abastecimento da cidade com alimentos, logo no início, era precário", contou Jost.
"Trocar o Rio de Janeiro, o litoral, pelo Cerrado foi um negócio que não agradou à imensa maioria dos parlamentares, mas eles cumpriram o seu dever, viram que era um dispositivo constitucional e se dispuseram ao sacrifício", afirmou o jornalista Carlos Chagas, que acompanhou a construção de Brasília. "Os deputados se mudaram de cara feia, mas aceitaram", disse.
Reportagem - Carolina Pompeu e Rodrigo Bittar
Edição - Ralph Machado