Especialistas apontam soluções para crise no mercado financeiro

27/05/2009 - 22:56  

Para representantes da indústria e do comércio é preciso reduzir ainda mais os juros.

A comissão especial criada para analisar os efeitos da crise global no sistema financeiro realizou audiência pública, nesta quarta-feira, para ouvir sugestões das principais entidades do comércio e da indústria que possam ajudar no combate à crise.

O gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), André Marques Rebelo, lembrou que o México, o Canadá e os Estados Unidos foram os primeiros a entrar em crise, no fim de 2007. O Chile e o Brasil só foram afetados no segundo semestre deste ano. No entanto, o economista ressaltou que nesses pouco mais de oito meses, o Brasil já aparece entre os que sofreram maior retração econômica.

O chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, citou um ranking da revista The Economist, que coloca o Brasil como segundo país mais prejudicado pela crise, atrás apenas da Coréia do Sul, com um recuo de 13,6% no PIB.

Freitas acusou o governo de ter dado uma resposta lenta à crise. "As medidas foram tomadas atrasadas. O Banco Central aumentou a Selic em setembro e depois demorou a baixar os juros." Segundo ele, enquanto o Chile cortou os juros de 8,25% para 1,25%, no Brasil a queda foi de 13,75% para 10,25%. O presidente da comissão, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), também considerou a redução "tímida".

A queda dos juros foi uma das saídas apontadas pelo economista da Fiesp André Rebelo para debelar a crise. Na opinião de Rebelo a taxa de juros deveria ser reduzida dos atuais 10,25% para cerca de 7%. Além da redução dos juros, Rebelo sugeriu outras soluções para minimizar a crise como o controle dos gastos de custeio, a redução dos impostos cobrados sobre empréstimos e a criação de fundos de aval - como o Fundo Garantidor, anunciado recentemente pelo governo.

O representante da CNC, no entanto, mostrou-se pessimista quanto ao Fundo Garantidor. "Esse fundo ainda vai demorar muito e talvez chegue já tarde para combater a crise. Mais eficiente seria condicionar a liberação dos compulsórios a empréstimos para empresas." Em sua avaliação, foi um erro da política econômica liberar o chamado compulsório a prazo que, em sua opinião, deveria ter sido acompanhado da liberação dos compulsórios à vista e condicionados à concessão de empréstimos a pequenas e médias empresas. "Essa vinculação é o mais importante e aqui não foi feita. Caso contrário os bancos vão sempre preferir comprar títulos públicos", reclamou.

Saídas
O gerente da Fiesp, André Rebelo, também apresentou outras saídas para a crise: investir em exportações, reforçar o mercado interno e os investimentos. Quanto às exportações, ele afirma que, apesar de um tímido aumento no comércio de produtos básicos (ferro, carne, café e soja), houve redução de 35% nas exportações de produtos industrializados. "Em 2003 as vendas para o mercado externo alavancaram o Brasil para fora da crise, desta vez não poderemos contar com elas", afirmou.

No caso do mercado interno, ele explica que, apesar do bom desempenho até agora, o acesso a crédito e a evolução da renda apresentam sinais de estabilização. Por isso, não poderão auxiliar outros setores.

Para Rebelo, restam, portanto, os investimentos privados, que em épocas de crise sempre se retraem e os investimentos públicos, que já estão ameaçados com a queda da arrecadação. "A China compensou a queda de demanda externa com pesados investimentos estatais em infraestrutura, mas, no nosso caso, a receita pública ficou muito engessada para fazer a diferença", comparou.

Continua:
Fiesp reclama de desemprego e CNC, da falta de crédito

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Reportagem – Juliano Pires
Edição - Natalia Doederlein

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