Agropecuária

Debatedores questionam realocação de verbas do Funcafé

Projeto em análise na Câmara dos Deputados prevê destinação de recursos do Funcafé para um fundo garantidor de risco aos cafeicultores. Por causa de divergências sobre a proposta, relator decidiu retirá-la de pauta e estudar melhor o assunto

05/11/2015 - 19:20  

Antonio Augusto/Câmara
Audiência pública para discussão sobre o PL n.º 1.655/2015 que
Silas Brasileiro: projeto poderá desvirtuar o Funcafé

Deputados e representantes do setor cafeeiro e do governo manifestaram preocupação com a criação de um fundo garantidor de risco para cafeicultores com recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé). A medida está prevista no Projeto de Lei 1655/15, do deputado Carlos Melles (DEM-MG), e foi debatida nesta quinta-feira (5) na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.

O projeto prevê um limite de R$ 200 milhões do Funcafé para a formação do fundo garantidor. Tal fundo garantiria até R$ 2 milhões por produtor ou R$ 20 milhões por cooperativa.

A audiência foi sugerida pelo deputado Silas Brasileiro (PMDB-MG), que também é presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), temeroso de que a proposta desvirtue o Funcafé. Ele reclamou ainda de o Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), órgão gestor do fundo, vinculado ao Ministério da Agricultura, não ter sido ouvido.

“O recurso do Funcafé é oriundo do confisco de produtores. É um fundo intocável, é a única cultura no Brasil que tem um fundo. Sua finalidade é gerar renda, gerar lucro para o produtor. A partir do momento em que não tenha mais esse fundo, o produtor ficará em dificuldade”, observou Brasileiro.

Pelas regras vigentes, o Funcafé destina-se prioritariamente à compensação dos incentivos concedidos à exportação de café e à formação de estoques reguladores.

Recursos da União
Silas Brasileiro sugeriu uma modificação no projeto para que a União também entre com recursos no socorro ao cafeicultor. “O endividamento crônico do produtor é falta de política. Como o governo é responsável pela falta de política, quem tem de arcar com esse prejuízo é o Tesouro Nacional, e não um fundo que é recurso próprio do produtor”, ponderou.

Outros participantes do debate demonstraram a mesma preocupação de Silas Brasileiro. “Um dos objetivos do fundo é financiar a estocagem do café. O Brasil é um grande produtor, mesmo colhendo uma safra pequena. Se não tiver um ordenamento da oferta, não há mercado que resista”, disse o coordenador do CNC, Maurício Miarelli.

Assessor da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Pedro Silveira questionou a utilização de recursos do Funcafé sem uma proposta de realimentação. “Fala-se somente na retirada de recursos de um fundo que vai se tornando mais escasso”, disse.

A sugestão do governo também vai no sentido de a União entrar com recursos, caso exista gestão de riscos, como afirmou o diretor do Departamento de Crédito, Recursos e Riscos do Ministério da Agricultura, Vitor Ozaki. “A política de gestão de risco rural do ministério subvenciona parte do prêmio do seguro agrícola. Se o produtor tem que pagar de prêmio R$ 1 mil e a se a subvenção for de 50%, o produtor paga R$ 500 e o governo, outros R$ 500, com recursos do Tesouro”, explicou o diretor.

Governo quebrado
Na avaliação de Carlos Melles, os debatedores estão transferindo o risco para o governo. “Nós temos um fundo para isso. Matar o projeto é dizer: ‘não, o recurso vem do governo’. O governo está quebrado. O governo deve 120 bilhões de dólares”, disse o autor da proposta.

Diante do argumento de envolver o Conselho Deliberativo da Política do Café no debate, Melles acusou o órgão de não fazer reuniões no governo do PT. Silas Brasileiro, no entanto, disse que o CDPC está mais ativo na atual gestão da ministra Kátia Abreu (Agricultura). “As sucessivas trocas de ministros – foram quatro em quatro anos – dificultaram as deliberações do CDPC sobre a política cafeeira”, justificou Brasileiro.

O relator da proposta na comissão, deputado Evair de Melo (PV-ES), anunciou a retirada de seu relatório de pauta para discuti-lo mais e levar o assunto ao CDPC. No parecer inicial, Melo havia sugerido a aprovação do projeto com emenda que autoriza a participação da União no fundo garantidor.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Pierre Triboli

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