09/05/2019 10:30 - Agropecuária
Radioagência
Anvisa libera agrotóxico que poderia ser cancerígeno
A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável realizou audiência pública para discutir os resultados da reavaliação do glifosato realizada pela Anvisa.
Glifosato é o agrotóxico conhecido como "mata-mato", e é o herbicida mais usado no mundo. Mas sua utilização foi questionada depois que a Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer, que faz parte da Organização Mundial da Saúde, concluiu que o Glifosato é "provavelmente cancerígeno" para os seres humanos.
A partir desse questionamento, a Anvisa e agências sanitárias de outros países fizeram uma reavaliação, e a conclusão foi de que o herbicida não é cancerígeno.
Entretanto, o deputado Nilto Tatto (PT-SP), que sugeriu a reunião, criticou a Anvisa por não ter avaliado o glifosato da maneira como ele é aplicado na agricultura, e afirmou que é uma irresponsabilidade da agência divulgar que a composição não causa câncer.
"Quando você analisa, isoladamente, os componentes do glifosato, você pode ter uma avaliação. Só que quando você utilizar ele na agricultura, você usa ele numa composição, e aí é esta composição que causa câncer (...) não tem sentido você fazer uma análise de um agrotóxico se não é da fórmula como você vai utilizar esse agrotóxico no uso final. Só tem sentido você analisar ele na sua composição já avaliada para o uso."
O coordenador da Anvisa, Daniel Coradi afirma que o Brasil é um país conservador com relação à proibição do uso de agrotóxicos. Na reavaliação que a agência de vigilância sanitária fez de 15 ingredientes ativos, 12 foram proibidos e 2 tiveram alterações nas restrições de uso. Mas Daniel admitiu que a Agência não considerou o Glifosato misturado com outras substâncias na pesquisa:
"De fato essa reavaliação que a gente faz, ela não considera esse tipo de exposição ainda. Isso não é só Anvisa que não consegue considerar isso, todas as agências ainda estão caminhando no sentido de entender como é que esses agrotóxicos quando utilizados conjuntamente podem causar algum dano."
Antônia Ivoneide, assentada da Reforma Agrária, lamentou que na audiência trabalhadores da agricultura não tenham sido ouvidos, pois teriam uma outra visão sobre o uso do glifosato:
"Pra mostrar que quem está sendo intoxicado são os trabalhadores rurais, com baixa escolaridade, com baixo nível de informação. Portanto, é quem está diretamente sob o efeito dele (glifosato), porque é quem está aplicando no campo, nas lavouras que são dos outros."
A mudança recente na política de liberação de agrotóxicos também preocupa os deputados. Até abril deste ano, o governo já havia liberado o uso de mais de 150 agrotóxicos no Brasil.
A lógica seria a de que se países da União Europeia liberarem um novo agrotóxico, o Brasil faria uma liberação provisória para acompanhar a tecnologia usada na agricultura da Europa. Nilto Tatto sugeriu que a mesma lógica deve valer para produtos banidos em países desenvolvidos e que foram liberados no Brasil, apesar da alta toxidade.