13/11/2018 20:25 - Saúde
Radioagência
Ministérios da Saúde e da Educação admitem que não existem políticas públicas específicas para gagueira
Calcula-se que existam, no Brasil, dois milhões de adultos e 10 milhões de crianças que gaguejam. A falta de fluência na hora de se expressar tem base genética e acontece pelo mau funcionamento das regiões do cérebro responsáveis pela fala. O problema não tem cura, mas pode ser amenizado com a ajuda de um fonoaudiólogo.
Na audiência da Comissão de Legislação Participativa que tratou do tema, os representantes dos ministérios da Saúde e da Educação admitiram que não existem políticas públicas específicas. Além disso, o número de profissionais especializados é insuficiente. Anelise Bohnen, pesquisadora do assunto e presidente do Instituto Brasileiro de Fluência, lembra que há muito desconhecimento mesmo na área de saúde, o que muitas vezes impede a prevenção da gagueira.
"Todo adulto que gagueja foi uma criança não tratada na hora que deveria ter sido tratada, porque nós temos tratamento com crianças pequeninas, a partir dos dois anos de idade, que tem de 98 a 100 por cento de chance de recuperação total. Nós precisamos de políticas públicas que de fato enfatizem esse trabalho preventivo".
Além das dificuldades no tratamento, há os estereótipos e o preconceito. Pessoas que gaguejam são tidas como ansiosas e inseguras. A escolarização fica prejudicada, assim como a entrada no mercado de trabalho. Luiz Fernando Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Gagueira (Abragagueira), acrescenta que muitas pessoas não falam abertamente sobre o problema.
"Todos esses obstáculos se tornam ainda maiores quando olhamos ao redor e nos sentimos em uma sociedade excludente, em uma sociedade que não nos enxerga, salvo no momento da piada, para fazer chacota"
Durante a audiência pública, foram apresentadas propostas de políticas públicas para as pessoas que gaguejam. Entre elas, um maior tempo em avaliações orais, como bancas de concursos, mestrado e doutorado. Outra reivindicação é realizar campanhas contra o preconceito, porque segundo os participantes do debate, até professores praticam bullying contra estudantes que têm gagueira.
O deputado Glauber Braga, do Psol do Rio de Janeiro, que pediu a realização da audiência pública, sugeriu que os integrantes da sociedade civil organizada façam projetos de lei a serem encaminhados por meio da Comissão de Legislação Participativa. Ele afirmou que esta é uma boa maneira de debater temas que ainda não são consensuais, como a classificação da gagueira como uma deficiência.
"Algumas pessoas dizem que não é o melhor caminho, porque entraria num signo de estigmatização. Outras pessoas, que apresentaram aqui com argumentos sólidos, disseram que não, que é relevante, é importante, como uma garantia de direitos relevantes. Agora, o que é que você tem que fazer? Você tem que na verdade apresentar propostas e fazer com que através da tramitação os assuntos sejam debatidos"
Os representantes das entidades da sociedade civil também querem que o dia 22 de outubro, que já é o Dia Internacional de Atenção à Gagueira, seja oficializado no Brasil.