28/04/2015 19:48 - Administração Pública
Radioagência
CPI da Petrobras: depoentes apontam falhas de gestão e perseguição na estatal
Duas pessoas ligadas à Petrobras fizeram pesadas críticas à estatal em depoimentos à CPI que investiga corrupção e superfaturamento na empresa. Mauro Cunha, ex-integrante do Comitê de Auditoria da Petrobras, disse que foi afastado do órgão ao se recusar a aprovar o balanço da estatal e apontou falhas da gestão. Segundo ele, essas falhas e erros dos diretores da empresa provocaram prejuízos de mais de 300 bilhões de dólares.
Mauro Cunha questionou ainda o valor de R$ 6 bilhões que a Petrobras apontou no seu último balanço contábil como resultado de corrupção. Segundo ele, o prejuízo pode ser maior e esse cálculo foi feito apenas com base no depoimento do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Mauro Cunha disse que, na época em que era do Conselho da Petrobras, não desconfiou de corrupção, mas estranhava os valores dos contratos, como o da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
"O que saltava aos olhos, deputado, eram os valores envolvidos. Desde que eu entrei, já estava claro que este era um investimento que superava em larga medida todas as métricas internacionais. Havendo ou não corrupção, houve algo muito errado, que já estava claro naquele momento, em relação a como estes investimentos foram feitos. A corrupção me parece ter sido uma consequência desse problema."
A CPI também ouviu o depoimento do ex-gerente jurídico da Petrobras Fernando de Castro Sá. Ele disse que havia pressões externas da Associação Brasileira de Engenharia Industrial, entidade ligada a empresários, para que a Petrobras alterasse pareceres para beneficiar empreiteiras.
O advogado foi afastado da assessoria jurídica depois que se recusou a assinar os pareceres. Segundo ele, as irregularidades ocorriam na Diretoria de Serviços, comandada na época pelo ex-diretor Renato Duque. Ele contou que Duque o acusou publicamente de criar problemas.
Fernando Sá disse que houve pedidos até de pagamentos por serviços não feitos.
"Houve uma greve em determinado momento na Refinaria Duque de Caxias. E aí eu fui consultado na época sobre efetuar um pagamento antecipado em serviços não realizados porque com a greve a empresa estava com problemas de caixa e a minha área foi taxativa e disse não. Mas o que dizia esse parecer em realidade era diferente. Você fazia na realidade uma fraude. Você media serviços que não tinham sido prestados, considerava que eles tivessem sido para que houvesse o pagamento desses valores."
A CPI da Petrobras também ouviu os depoimentos de dois ex-funcionários da empresa ligados ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj. O ex-presidente do Comperj, Nilo Vieira, e o ex-gerente de Engenharia, Jansen Ferreira da Silva, disseram à CPI que nunca suspeitaram de irregularidades.
O deputado Altineu Cortes, do PR do Rio de Janeiro, um dos sub-relatores da CPI, não ficou satisfeito com os depoimentos.
"Esse último depoimento do ex-gerente geral do Comperj: 38 anos amigo de Renato Duque. O senhor Nilo Vieira, ex-presidente do Comperj, 30 anos de amizade com o senhor Renato Duque, e eles dizem que não sabiam de nada."
O TCU aponta superfaturamento na obra e dois empresários acusados pela Operação Lava Jato disseram que houve pagamento de propina.