03/12/2014 09:48 - Política
Radioagência
Propina acontece no Brasil inteiro, diz Paulo Roberto Costa à CPMI da Petrobras
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, afirmou nesta terça-feira (2) que o esquema de propina não é exclusividade da estatal.
"Eu passei lá na carceragem em Curitiba seis meses preso. Seis meses dentro da carceragem. Até que resolvi fazer a delação de tudo o que acontecia na Petrobras, e não só na Petrobras; isto está no noticiário: o que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos, nas hidrelétricas! Isso acontece no Brasil inteiro. É só pesquisar."
Costa participou de acareação na CPI Mista da Petrobras com o ex-diretor da Área Internacional da estatal Nestor Cerveró.
A expectativa era que Costa ficaria calado durante a comissão. Apesar de não comentar sobre detalhes ditos na delação premiada acertada com o Ministério Público e a Polícia Federal, o ex-diretor confirmou o conteúdo da delação.
Segundo o ex-diretor, foram 80 depoimentos em mais de duas semanas de delação. Costa ressaltou que, a cada depoimento que deu, apresentou provas para comprovar as informações. Costa disse estar "extremamente arrependido" de ter aceitado a indicação para a diretoria em 2004. O ex-diretor reforçou que as indicações políticas para a Petrobras e outras estatais acontecem desde o governo do ex-presidente José Sarney.
Paulo Roberto Costa denunciou um esquema de propina nas diretorias da estatal para beneficiar partidos políticos com 3% do valor dos contratos com empreiteiras. Cerveró, que comandava uma das diretorias citadas, negou saber e participar de corrupção na Petrobras. De acordo com Cerveró, as denúncias de Costa são ilações.
Para o deputado Afonso Florence, do PT baiano, que atua provisoriamente como relator, só as investigações poderão definir quem mentiu na acareação.
"Os dois têm posições conflitantes, detalharam essas posições, mas mantiveram posições conflitantes. A continuidade da investigação irá apurar se um dos dois, quem dos dois, está mentindo."
O deputado Júlio Delgado, do PSB mineiro, afirmou que o ex-diretor de Abastecimento entregou "pérolas" à CPI Mista na sessão mais importante até hoje.
"Ou o Paulo Roberto vai perder os direitos e os princípios da delação ou o doutor Cerveró vai ter de prestar contas mais caras do que aquelas que ele já está prestando."
Segundo Paulo Roberto Costa, a responsabilidade pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, é do conselho de administração da estatal. A diretoria, de acordo com ele, apenas indica a compra em casos como esse. Para Costa, eximir o conselho pela compra da refinaria é um erro. Ele defendeu a atuação de Nestor Cerveró, que comandava a Diretoria Internacional durante o processo de aquisição.
Cerveró voltou a afirmar que a compra da refinaria foi um bom negócio, feito de acordo com todas as regras de governança da estatal. Em acórdão em julho, o TCU, Tribunal de Contas da União, apontou prejuízo de quase 800 milhões de dólares na compra da refinaria. A corte, porém, isentou de responsabilidade a presidente da República Dilma Rousseff, que comandava o conselho de administração da estatal na época em que o negócio foi aprovado, em 2006.
No final do depoimento, Costa disse, rindo, que "algumas dezenas" de políticos foram citados por ele durante o processo de delação premiada. A declaração de Costa foi em resposta ao deputado Ênio Bacci, do PDT gaúcho, que pediu a acareação.