06/10/2014 18:20 - Política
Radioagência
Cientistas políticos veem perfil conservador na nova composição da Câmara
Cientistas políticos veem perfil mais conservador na composição da Câmara dos Deputados eleita neste domingo. Segundo eles, haverá reflexos na pauta de propostas analisadas no Congresso e na relação direta do Legislativo com o Executivo, a partir do próximo ano. Um dos aspectos da próxima legislatura da Câmara já detectado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar é a redução da bancada de sincalistas e o aumento da bancada empresarial. Para o analista político do DIAP, Antônio Augusto de Queiroz, esse fato se deve a dois fatores principais.
"O que se explica, em grande medida, pelo conservadorismo, de um lado, e pelo custo muito elevado das campanhas, de outro".
O grande número de deputados eleitos com discurso religioso ou focado em segurança pública também chamou a atenção do advogado e cientista político Rafael Favetti, especialista em relação entre poderes.
"Os discursos da bancada evangélica e da bancada da bala estão num aspecto mais à centro-direita do que o atual Congresso Nacional. Inegavelmente, temos um rumo de prumo um pouco mais à centro-direita do que hoje".
E a tendência é que essa futura configuração do Parlamento tenha reflexos diretos na pauta de projetos a serem discutidos e votados nas comissões temáticas e no Plenário da Câmara, como afirma Antônio Augusto de Queiroz, do DIAP.
"Há muitos eleitos que têm uma visão muito conservadora. Então, essa pauta da (redução da) maioridade penal vai entrar com muito peso na atual legislatura. Aquela preocupação que se tem para manter o Estatuto do Desarmamento: haverá uma pressão no sentido de desmontar esse estatuto, rearmando a população. O pessoal LGBT, por exemplo, terá muita dificuldade para fazer a sua pauta andar. Mesmo tendo o Jean Willys reeleito com uma votação muito significativa, o número de adversários que vêm é proporcionalmente muito superior".
No entanto, outro cientista político, Marco Aurélio Nogueira, acredita que a manutenção de PT, PMDB e PSDB como maiores partidos da Câmara pode não alterar o atual jogo político.
"Também é preciso ver qual vai ser o real poder de fogo dessas bancadas específicas e mais conservadoras. Até o fim do atual governo, muitas dessas bancadas conservadoras estiveram na base parlamentar do governo, que é um governo progressista. Então, pode ser que essas bancadas flutuem um pouco em função da agenda que o Congresso terá de examinar".
Outro aspecto que deve influenciar a pauta de votação da Câmara é o aumento da fragmentação dos deputados, que, a partir da próxima legislatura, estarão distribuídos em 28 partidos, quatro a mais do que hoje. Em função disso, Antônio Queiroz, do DIAP, prevê dificuldades para o futuro governo em torno da Reforma Política.
"Porque, se o sujeito consegue se eleger pelo sistema atual, dificilmente ele vai concordar em alterar a regra, já que o sentimento é de que (a alteração) pode dificultar a sua vida no futuro".
Já Rafael Favetti acredita que eventual mudanças no sistema político-eleitoral, a partir de 2015, só deve vir mesmo por meio de interferência do Judiciário.
"Toda legislatura vem com promessas de mudanças nas eleições. E toda legislatura fracassa. Vendo o mapa do atual Congresso eleito, acreditamos que não há força e motivação suficiente para modificar o atual sistema. Essa força virá de fora, principalmente do Supremo Tribunal Federal".
Favetti cita o exemplo da possível proibição de financiamento de campanhas eleitorais por parte de empresas, que está em análise no STF (ADI 4650).