28/11/2013 16:06 - Direitos Humanos
Radioagência
Indígenas do Amazonas ameaçam entrar em guerra com empresas para evitar exploração de gás na região
Os povos indígenas, principalmente os que habitam o Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, pretendem entrar em guerra com as empresas que iniciarem exploração petrolífera na região. Em audiência na Comissão de Legislação Participativa da Câmara, eles denunciaram danos ambientais que poderão ocorrer caso seja levada adiante, por exemplo, a exploração de gás não-convencional, o chamado gás de xisto, pelo método do fraturamento hidráulico.
Nesta quinta e sexta, a Agência Nacional do Petróleo está leiloando 240 novos blocos de exploração de petróleo e gás, sendo que 110 deles em áreas isoladas, chamadas de "novas fronteiras". Ocorre que a Funai já detectou que alguns destes blocos estão muito próximos de áreas indígenas ou invadem terras em processo de demarcação.
Maria Janete de Carvalho, coordenadora de Licenciamento da Funai, disse que um relatório sobre o assunto foi enviado à agência, mas apenas uma recomendação foi acatada, a de que o Vale do Javari teria que estar 25 quilômetros afastado dos blocos a serem leiloados. Além de contar com uma biodiversidade praticamente intocada, a região teria pelo menos 16 populações indígenas isoladas. Segundo Maria Janete, ninguém pediu uma opinião prévia da Funai, o que já vem se tornando rotina:
"Muitas vezes a consulta é feita, no caso de alguns empreendimentos, muito mais para legitimar uma tomada de decisão que já foi feita. Então é outro desafio nosso também. A intervenção em momentos de planejamento para que este ordenamento territorial realmente seja feito de uma maneira participativa"
A ANP foi convidada, mas não enviou representantes para a audiência. A deputada Janete Capiberibe, do PSB do Amapá, disse que o método previsto para a retirada de gás em alguns blocos vem sendo condenado pelos especialistas:
"A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência já recomendou a moratória a esse tipo de exploração do gás, um gás completamente diferente, que é o gás de xisto, através do método de força hidráulica, que polui os lençóis freáticos, polui o solo. Então é uma questão muito séria"
Os representantes dos povos indígenas afirmaram que não querem a exploração petrolífera na região e já estão mobilizados desde 2003 porque também o Peru vem concedendo licenças na fronteira. Jader Franco, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, explicou que eles já procuraram órgãos como o Itamaraty e o Ministério Público federal:
"Não temos recursos para vir conversar todo dia, ficar insistindo. A gente dá o recado. Se não formos atendidos, nós estamos dizendo que a gente vai para a guerra, a gente vai para a luta. É matar ou morrer"
Os deputados da comissão e os participantes da audiência resolveram encaminhar um documento com as preocupações levantadas para diversas autoridades, entre elas a presidente Dilma Rousseff.
Da Rádio Câmara, de Brasília, Sílvia Mugnatto








