05/09/2013 15:18 - Saúde
Radioagência
Coordenador do Instituto Baresi diz que falta sensibilidade ao governo com surdocego
Uma em cada 26 mil pessoas nasce surda e cega. Os chamados surdocegos, estima-se, podem chegar a um milhão de pessoas no Brasil. A Comissão de Seguridade Social da Câmara debateu em audiência políticas públicas para esta parcela da população. E, no caso desse grupo, as dificuldades são maiores, pois cada surdocego tem características diferentes que exigem também uma atenção diferenciada.
O surdocego pode nascer assim e, portanto, adquirir um contato com o mundo diferente de quem ficou surdocego por causa de icterícia, sífilis ou meningite. Alguns surdocegos precisam mais de guias-intérpretes e outros interagem mais com leitores de tela.
A coordenadora da Secretaria de Educação Continuada do MEC, Rosana Cipriano, afirma que o Ministério da Educação tem programas de promoção de acessibilidade para pessoas com deficiência, o que inclui os surdocegos. Rosana citou dados que mostram o crescimento do acesso das pessoas com deficiência na educação. Em 1998 eram 337 mil estudantes no ensino básico e hoje são 820 mil matrículas. No ensino superior, o número de alunos com deficiência aumentou de 5 mil para 23 mil matrículas.
"Então o que a gente prioriza e prima é pela atenção às demandas e necessidades que cada pessoa com deficiência apresenta. O Brasil já deu passos largos, já avançou e hoje sentimos muito otimistas, considerando os resultados, as pesquisas, as ações, os fomentos públicos que estão sendo feitos. E acreditamos que a gente, num curto tempo, vai perceber essa acessibilidade sendo promovida de uma forma bem mais ampla, e tendo as pessoas com deficiência saindo cada vez mais da invisibilidade e participando dos processos sociais."
Segundo Rosana, de 2007 a 2013, foram ofertadas 77 mil vagas a professores de pessoas com deficiência e a meta do governo é implementar cursos de libras em todo país, conforme prevê um decreto de 2005.
Com Alex Garcia, a linguagem de libras não serve. Ele é surdocego, não tem guia-intérprete e coordena o núcleo gaúcho do Instituto Baresi, um fórum que reúne associações de pessoas com doenças raras. Ele afirma que falta sensibilidade ao governo especificamente com o surdocego, e cita como exemplo o programa Viver Sem Limite, do governo federal, que prevê centros de treinamento de instrutores de cães-guia para cegos:
"Vão dar para o cego, ótimo. Mas o cego escuta, poxa. As possibilidades de um cego são infinitamente maiores do que de um surdocego. Nós poderíamos ter um amigo de toda hora que nós não temos, poxa. Eu fico pasmo com a inteligência dos criadores dessas questões".
O assessor da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos, Fernando Antônio Ribeiro, respondeu.
"O projeto de centros de treinamento de cães-guia é basicamente para você ter centros de treinadores de cães-guia. O público alvo beneficiário... esse "para cegos" é o reducionismo do lugar-comum que falamos. Mas não está dito que os resultados desses centros de treinamento serão exclusivos para cegos."
A coordenadora da Secretaria de Educação Continuada do MEC adiantou que vai convidar Alex Garcia, do Instituto Baresi, para fazer parte de um grupo de trabalho do MEC para desenvolver políticas públicas para surdocegos.