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Fator de Risco

Surdez na escola

Surdez na escola

05/03/2021 - 17h00

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que 32 milhões de crianças no mundo possuem algum tipo de deficiência auditiva. Essa deficiência tem graus diferentes que podem afetar o rendimento escolar e desestimular o aprendizado, como explica a fonoaudióloga Milkhia Beatriz Taveira Moreira.

Leia a íntegra da entrevista:

Olá, no programa de hoje nós vamos conversar sobre a surdez em um contexto que é a escola. O aluno que fica surdo ou se descobre surdo dentro do processo de aprendizado. E a nossa convidada de hoje é a fonoaudióloga Milkhia Beatriz Taveira Moreira, que vai nos dar umas dicas de como perceber essa situação. Milkhia, tudo bem?
Olá, tudo bem.

Milkhia, tem gente que imagina que essa situação seja uma coisa rara: ter um a criança com deficiência auditiva na escola. Mas eu estava vendo que os dados da OMS citam que seriam 32 milhões de crianças que tem algum tipo de deficiência auditiva, então está longe de ser um fenômeno raro, não é?
Então a audição desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da linguagem, no desenvolvimento cognitivo da criança. E isso desde o nascimento. As crianças estão aprendendo com os sons, os significados da fala, e com os sons do ambiente. Então a criança que nasceu surda, por exemplo, ela vai ter dificuldades no desenvolvimento comunicativo e na fala em si.

Eu imagino que quanto mais nova a criança, mais angustiante deve ser o problema porque ela não tem um repertório, ela não tem uma história, não tem um conhecimento com que ela possa se socorrer, então ela está aprendendo tudo naquele momento e com uma grande dificuldade, não é?
Quanto mais precoce for o diagnóstico da perda auditiva e tratada, maiores serão as chances de progresso na habilitação e reabilitação auditiva da linguagem da criança. Então é importante observar esses sinais desde o nascimento. Tanto que hoje desde 2010, quando foi sancionada uma lei que torna obrigatório o teste da orelhinha, ele deve ser realizado em todos os bebês nascidos nas maternidades. Logo no primeiro dia de vida já pode ser realizado esse teste.

Milkhia, você está falando de um teste, em geral as pessoas lembram do teste do pezinho, mas o teste da orelhinha é muito importante. Como ele é realizado?
Ele é indolor. É realizado por um equipamento e a criança vai estar dormindo. Então não necessita da resposta da criança. Ele pode ser feito na própria maternidade ou então, nas maternidades que não tem o serviço, ele é feito no SUS.

Milkhia, quando a gente fala em deficiência auditiva, a pessoa pensa na perda completa da capacidade auditiva, mas existem graus menores que são de difícil percepção. Às vezes, a criança tem perda leve. Ela ouve, mas fica cansada durante o processo da aprendizado ou na sala de aula. Como é possível perceber que a criança tem uma deficiência auditiva mais leve?
Primeiramente, quando a criança não reage, por exemplo, a barulhos fortes. O pai ou a mãe pode utilizar um instrumento como bater na porta e percebe que a criança não está atendendo àquele sinal. Ou quando a criança pede para aumentar o som da televisão, no caso de crianças maiores se mostra muito desatenta ou na própria escola os professores que a criança está com uma dificuldade de reconhecer alguns sons. Então prefere brincar sozinha, fica muito isolada e muita dificuldade na alfabetização, nesse processo.

E troca na fala. Eu digo isso porque às vezes pode parecer que é algo bonitinho, a criança fazer essas trocas. Mas deve haver uma fase em que essa troca deixou de ser bonitinha e está sendo prejudicial para a criança, não é?
Se ela não escuta bem então não vai aprender os sons de forma adequada. Então pode ter um atraso na aquisição desses sons. Os sons que são os fonemas de nossa língua que têm prazo para cada faixa etária. Se perceber que a criança faz alguma troca, é aconselhável fazer uma avaliação com um fonoaudiólogo, fazer uma audiometria para estar avaliando tem uma conexão com o processamento auditivo.

A gente fica pensando que só fazer o teste da orelhinha resolveu, mas tem criança que tem perda progressiva de audição. Passou nesse teste inicial, mas depois vai apresentando um quadro mais grave.
Principalmente crianças nessa faixa etária escolar, seria importantíssimo realizar a avaliação audiológica de ano em ano para avaliar como está esse processo auditivo. Porque a perda auditiva ela pode surgir de forma tardia, sim. Não ser detectada no momento do teste da orelhinha, por exemplo.

Milkhia, você estava falando de processamento auditivo. Às vezes, a criança tem uma situação diferente, não é uma perda de altura do som, mas a qualidade do processamento dessa informação que ela recebe.
Isso, então, às vezes, a criança recebe o som, mas não de uma forma tão adequada. Então isso vai trazer um atraso no processamento do som. Por isso a gente sempre ressalta a importância da avaliação com o fonoaudiólogo.

Eu estou falando isso, porque eu tive um exemplo em casa. A gente conversava com a minha filha imaginando que a audição dela fosse normal e ela respondia algo que não tinha nada a ver. E a gente achava as respostas muito engraçadas. E na verdade, ela tinha um problema de processamento auditivo central. Ela recebia aquele monte de informação, não conseguia processar, mas ela se sentia angustiada para dar algum tipo de resposta e aí falava uma coisa que não tinha nada a ver. Eu estou dando esse exemplo, porque às vezes as pessoas pensam que é engraçadinho, mas a criança não está querendo ser engraçada mas tem um quadro de dificuldade de receber e processar aquela informação, não é?
Isso, são alterações nas habilidades auditivas que podem estar prejudicas para elas localizarem e memorizar aqueles sons e compreender a fala em diversos ambientes, especialmente em ambiente mais ruidoso. Às vezes a criança apresenta uma dificuldade até na concentração. Então precisa ser diagnosticado.

Milkhia a gente tem uma ideia de que a audição é uma coisa normal , algo padronizado, mas para a criança que tem uma deficiência, isso deve ser um enorme esforço para ela tentar buscar a informação ou captar aquela informação que está com uma altura reduzida ela deve ficar muito cansada e deve dar para perceber esse cansaço na criança, não é?
Isso, principalmente as crianças que tem essa dificuldade auditiva , um distúrbio na capacidade de processamento auditivo, eles escutam os sons mas tem dificuldade de entendê-los. Então há um esforço maior para a compreensão. E tem uma dificuldade de armazenar aquilo que escutou e localizar aquele som também. Então é uma falha no sistema nervoso central.

Eu estou dando o exemplo da minha filha, porque ela teve o atendimento fonoaudiológico e recuperou completamente. Hoje é uma pessoa com todas as habilidades de uma pessoa dita normal. Então é possível investir na recuperação da criança e não aceitar que aquele quadro é irreversível. Porque eu acho que a pior coisa que tem para a criança é a pessoa sentir pena e não ser proativa na busca de uma solução para o problema.
Isso, então é importantíssimo ficar atento aos sinais e aos sintomas pra gente tentar minimizar ou até eliminar essas dificuldades que a criança apresenta através mesmo da terapia fonoaudiológica. Ou, há casos da indicação e do uso do aparelho auditivo também. Se for detectado que tem uma perda auditiva é indicado o uso do aparelho auditivo, que ele vai fazer esse processo de melhoria dos limiares que estão alterados. E aí vai compensar essa questão do processamento do som.

Eu acho importante ressaltar que existe o aparelho, como existe o óculos e tem gente que fica com vergonha de usar ou de estimular o filho a usar. E não tem o menor sentido isso, se você tem como resolver o problema ou, pelo menos, reduzir os impactos daquele problema não tem sentido ficar com preconceito com aparelho auditivo ou óculos.
E hoje os aparelhos estão muito discretos. E eles podem ser adaptados para crianças ou adultos. Então a gente vê hoje as crianças usando fones de ouvido, então o aparelho auditivo, ele se torna algo, tem uma tecnologia muito avançada em questão de uso de aplicativos, melhoria na qualidade de som. Então hoje não tem tanto esse preconceito em usar o aparelho.

Milkhia a gente falou da criança que tem um problema. Eu queria abordar com você agora uma questão que é o uso inapropriado do fone de ouvido e os efeitos que ele pode provocar. A gente vê muito criança com o fone de ouvido colocado no ouvido direto. Isso deve trazer algum risco, não é?
Então em relação ou uso de fones ou a exposição a ruídos muito intensos, isso pode lesar uma área de nosso ouvido que é a cóclea e aí pode trazer uma perda auditiva que se torna irreversível. Então tem que tomar muito cuidado com o uso de fone de ouvido. O que a gente recomenda é usar na metade do volume do aparelho. Não ultrapassar aquele limite que ele normalmente tem e fazer um intervalo de tempo. Não ficar o tempo todo com o fone ligado no seu ouvido, porque aí pode lesar as células do ouvido e ter uma perda irreversível.

Milkhia tem uma armadilha nessa história. A pessoa bota o fone e aí o barulho externo está alto, seja no ônibus ou no recreio das crianças, ela tende a compensar esse barulho externo aumentando o som do fone, não é?
Aí que está o segredo. Aí você pode lesar a sua audição e trazer uma perda que não tem mais solução. Aí o uso do aparelho auditivo, provavelmente, será a solução.

Eu queria agradecer a fonoaudióloga Milkhia Beatriz Taveira Moreira que conversou conosco hoje sobre a surdez ou deficiência auditiva que pode existir na criança em idade escolar. Milkhia, muito obrigado.
Obrigado a vocês.

 

Apresentação – Humberto Martins

Dicas de profissionais da área de saúde sobre doenças, tratamentos e formas de prevenção.

Em 4 horários: sexta, 17h; segunda, 10h; quarta, 22h45; e quinta, 6h.

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