Rádio Câmara

Reportagem Especial

HIV/Aids - Capítulo 1

16/09/2019 - 07h40

Em maio de 1969, a morte de um jovem de 16 anos em Saint Louis, nos Estados Unidos, chamou a atenção dos médicos. Ele teve pneumonia, estava fraco e tinha lesões de pele, conhecidas como Sarcoma de Kaposi. A causa mortis só foi conhecida 20 anos depois. Robert R, como foi chamado o paciente para preservar sua identidade, teria sido o primeiro caso de infecção pelo vírus HIV. A conclusão é controversa no meio científico, mas o registro desta morte completou meio século.

Desde o início dos anos 80, no entanto, o mundo inteiro convive com o HIV, identificado primeiramente como um vírus que atingia grupos específicos, mas que hoje em dia é considerado o agente de uma epidemia sem alvo certo. Parte dos infectados pelo vírus desenvolve a doença chamada Aids que, infelizmente, ainda hoje, é vista com muito preconceito por parte da população.

Quem já era adulto a partir da década de 80, tomou conhecimento do HIV e da Aids por meio de celebridades que morreram em decorrência da doença. Foi o caso do astro de Hollywood Rock Hudson e dos cantores Freddie Mercury e Cazuza. Os meios de comunicação mostraram muitos destes pacientes famosos definhando fisicamente antes de morrer. E foram criadas expressões bastante preconceituosas, como "doença gay".

Com o passar do tempo, tanto a comunidade científica quanto a população em geral foram mudando a perspectiva sobre o HIV e a Aids. Os exames ficaram mais eficientes, os tratamentos também, e foram desenvolvidos remédios que dão mais qualidade de vida ao paciente. Se as mudanças foram benéficas por um lado, por outro trouxeram uma espécie de "relaxamento" na hora de evitar relações sexuais sem proteção, principal meio de contágio. É o que explica o infectologista Alexandre Cunha.

"A gente sabe que o uso de preservativos caiu muito, pode ser explicado por muitos fatores, mas um dos fatores é essa nova geração nunca ter experimentado a epidemia, a cara feia da Aids, nunca viram pessoas morrendo, pessoas famosas ou amigos e conhecidos. A moçadinha mais nova acha que é uma doença tranquila, que toma um comprimido por dia e resolve e a coisa não é bem assim".

O professor Mário Angelo Silva, coordenador do Pólo DST/Aids do Hospital Universitário de Brasília, diz que os jovens estão muito vulneráveis à contaminação pelo vírus HIV, por causa do início da vida sexual e pela maior possibilidade de uma diversidade de parcerias sexuais. Ele reforça a necessidade do uso de preservativos e da procura dos testes para detectar a presença do vírus.

De 1980 até junho de 2018, o Brasil registrou 926 mil casos de infecção pelo vírus HIV. Mais de 50 por cento dos registros estão na região Sudeste do país. Nos últimos cinco anos, a média anual de 40 mil novos casos vem diminuindo. Em 10 unidades da Federação, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o número de registros está caindo. 65,5 por cento das pessoas infectadas são homens.

De 1980 até 31 de dezembro de 2017, 327 mil pessoas morreram de Aids no Brasil. Mas a taxa de óbito, que era de 5,6 por 100 mil habitantes em 2007, caiu para 4,8 por 100 mil habitantes em 2017.

Apesar de os números serem altos, as pessoas vivendo com o vírus HIV no Brasil de 2019 sobrevivem mais, como salienta o diretor do Departamento de Aids e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Gerson Mendes Pereira.

"Se o doente tomar o medicamento e tiver uma boa adesão ao tratamento, a sobrevida dele fica quase igual à sobrevida de uma pessoa que não é portadora do HIV/Aids. E aí varia de sexo, faixa etária, categoria de exposição, raça, cor, porque isso são determinantes importantes também na sobrevida da pessoa também em relação a acesso a medicamentos, entendeu?"

Para o médico Drauzio Varela, que deu entrevista sobre o assunto ao Ministério da Saúde, uma das providências para diminuir mais ainda os números do HIV/Aids é ensinar às crianças, desde cedo, como se prevenir.

"Às vezes os pais ficam: "Não, mas minha filha tem 10 anos, nem tá pensando em sexo e eu vou ensinar'. Você tem que ensinar, dar as informações antes das crianças e adolescentes iniciarem a vida sexual. Como é que você faz pra ensinar uma criança a atravessar a rua? Você fala: 'Olha, você atravessa umas vezes sozinha e depois eu te ensino?' Não, você pega a criança pela mão, atravessa 1, 2, 10 vezes, até você ter segurança de que ela aprendeu. E aí tudo bem, ela pode ir sozinha. A mesma coisa tem que ser feita com a educação sexual".

Uma consulta ao site da Câmara dos Deputados na internet mostra que há 478 propostas legislativas em tramitação que tratam de HIV e 732 proposições que citam a Aids. A deputada Carmen Zanotto, do Cidadania de Santa Catarina, ressalta a evolução das políticas públicas, principalmente no que diz respeito a informações sobre a doença, diagnóstico precoce e tratamento. Ela lista os principais desafios para que o sucesso do programa brasileiro de combate à Aids continue: a manutenção do financiamento e das informações, principalmente para a população mais jovem.

"Os métodos preventivos precisam estar sendo reforçados, assim como nós precisamos continuar garantindo o acesso em especial aos insumos estratégicos que são os medicamentos".

O deputado Jorge Solla, do PT da Bahia, enfatiza a excelência do tratamento do HIV Aids no Sistema Único de Saúde. Ele lembra, no entanto, que, dependendo de qual for o resultado da Reforma da Previdência, os brasileiros infectados podem ser diretamente afetados.

"As pessoas portadoras de HIV têm direitos específicos assegurados na legislação que demandam e dependem das garantias previdenciárias e do Sistema Único de Assistência Social".

A Frente Parlamentar de Enfrentamento às DSTs, ao HIV e à Aids, que funcionou até o fim do ano passado, ainda não foi recriada nesta legislatura. Mas a Frente Parlamentar Mista da Saúde, formada por deputados e senadores, tem as políticas públicas sobre a doença em pauta, como afirma a coordenadora do grupo, deputada Carmen Zanotto.

No segundo capítulo, saiba como avançaram o diagnóstico e a prevenção do HIV/Aids.

Trabalhos técnicos – Tony Ribeiro

Produção – João Paulo Florêncio

Edição e Reportagem – Cláudio Ferreira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h