Rádio Câmara

Reportagem Especial

Manifestantes na Câmara - Capítulo 5

02/09/2019 - 07h00

  • Capítulo 5 - Hospedagem e alimentação em Brasília

Até mil e duzentas pessoas almoçam no restaurante do anexo 3 da Câmara, conhecido popularmente como "bandejão", nos dias de maior movimento. Muitos deputados e servidores já são fregueses cativos, mas os grupos da sociedade civil organizada que passam o dia no Congresso para fazer valer suas reivindicações também comem por lá. A gestora do contrato por parte da empresa que presta serviços à Câmara, Luane Dourado, diz que até 150 pessoas podem usar o restaurante ao mesmo tempo. Mesmo assim, para grupos grandes, a regra é o agendamento prévio, como explica Luane:

"Geralmente eles entram em contato uns 20 dias, 15 dias antes, certo. Eles passam e-mail falando qual é a quantidade de pessoas e a gente passa geralmente um valor médio para que não fiquem na fila, para que não venha aumentar o fluxo de fila. A gente sempre pede para eles comerem com uma comanda separada. Geralmente a comanda do visitante é a comanda  maior, comanda de cor amarela. Então eles vão, se alimentam, nem pesa, é por pessoa. E depois eles já saem, já ficam do lado de fora. Só o coordenador do grupo é que recolhe as comandas e vem acertar com a gente pra poder não atrapalhar na fila".

Para esses grupos que avisam antes, o preço fixado é de 28 reais, incluindo almoço, bebida e sobremesa. Mas não é incomum que, de surpresa, apareçam manifestantes de todas as tendências querendo comer no bandejão. Às terças e quartas-feiras de uma semana cheia de votações e audiências públicas, o restaurante já faz preventivamente o equivalente a 200 refeições extras. Luane Dourado conta como é a chegada dos clientes que não fizeram o agendamento prévio.

"Só avisam na portaria: nós estamos aqui num grupo de 60, num grupo de 100, num grupo de 80. Aí a gente pede para esperar um momento enquanto o restaurante estiver cheio e aí a gente prepara a rampa, geralmente são duas rampas de distribuição, e a gente separa para utilizar só uma para não atrapalhar o fluxo dos colaboradores da Câmara que já comem, né?"

Os dias de pico de movimento do Congresso - terças, quartas e quintas-feiras - fazem bem aos cofres da rede hoteleira de Brasília. Mas o sindicato que reúne os hotéis da cidade não sente o impacto específico dos grupos organizados da sociedade civil, talvez porque a maioria dos filiados sejam hotéis com mais de 3 estrelas. O presidente da entidade, Jael da Silva, confirma, no entanto, que dependendo da mobilização, pode faltar acomodação para todos.

"Os hotéis ficam realmente lotados, tem dia que você passa aperto aqui quando tem esses movimentos".

Ele conta que a Marcha dos Prefeitos, realizada em abril deste ano, foi uma destas mobilizações que mexeu com a rede hoteleira da cidade.

"Teve um problema complexo, porque não tinha vaga nos hotéis. Então o que é que as pessoas fizeram? Foram saindo fora do Plano Piloto".

O sindicato de hotéis, que também engloba bares e restaurantes, montou um esquema também para garantir a alimentação dos prefeitos que vieram a Brasília participar das atividades de mobilização.

"Colocamos à disposição 15 restaurantes para esse grupo de prefeitos. Então mais ou menos foi direcionado para eles: 'Olha, se vocês quiserem, esse aqui está dando 5% de desconto, esse tá dando 10%, esse tá dando 15%. Fizemos assim tipo uma coisa promocional, em conjunto com a Secretaria de Turismo".

Os manifestantes de outros estados procuram alternativas de hospedagem que não pesem muito no bolso das entidades. Leonardo Pinho, um dos dirigentes do grupo de cooperativas que vem frequentemente à Câmara, divide sua estratégia entre a rede hoteleira e acomodações mais simples.

"A gente tem agências de turismo que conseguem com esses volumes, descontos; a gente faz parcerias às vezes com instituições de igrejas aqui também que têm alojamentos, etc".

O presidente da Associação de Assistência e Proteção Veicular, Raul Canal, sempre negocia um abatimento nos preços cobrados pelos hotéis.

"Nós temos três hotéis e hotéis grandes de Brasília que já nos propiciam uma diária diferenciada. Como o pessoal vem com muita frequência, nós temos descontos que vão até 35 por cento sobre a tabela de balcão dos hotéis".

A Fentect, Federação dos Trabalhadores das Empresas dos Correios e Telégrafos e Similares, preferiu uma solução definitiva para a tarefa de acomodar seus filiados que precisam vir a Brasília lutar pelas reivindicações da categoria. Quem explica é Alisson Tenório, dirigente da entidade sindical.

"Foi comprada uma casa, chamada casa da Fentect e essa casa, o pessoal geralmente se hospeda lá. Quando o limite da casa - que dá mais ou menos para umas 20, 25 pessoas - ela ultrapassa, é que vai para um hotel. Mas tem uma casa que serve de apoio para essas atividades nacionais e que fica no Núcleo Bandeirante".

O Núcleo Bandeirante é uma cidade-satélite que fica a menos de 20 quilômetros do Congresso Nacional. Pelo que se vê, os preços cobrados pela hospedagem no Plano Piloto de Brasília assustam muitos grupos da sociedade civil organizada. O jeito é se acomodar mais longe, nas cidades em volta, e utilizar o transporte público ou os aplicativos de mobilidade para chegar ao centro da capital. Seja qual for a rotina de alimentação dos militantes, ou onde quer que durmam, sua jornada geralmente começa cedo porque, independentemente da causa, o corpo a corpo com os parlamentares é fundamental e a atenção deles é muito disputada.

Produção – João Paulo Florêncio

Trabalhos técnicos – Tony Ribeiro

Edição – Marcio Sardi

Reportagem – Cláudio Ferreira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h

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