Rádio Câmara

Reportagem Especial

Manifestantes na Câmara - Capítulo 4

02/09/2019 - 07h00

  • Capítulo 4: Gastos dos grupos em Brasília

Brasília não é exatamente uma cidade barata e quem vem de fora sente a diferença nos preços - alimentação e hospedagem, por exemplo, têm tarifas que assustam alguns visitantes. A preocupação com os gastos reforça a necessidade de planejamento das viagens dos grupos organizados que saem de vários pontos do país em direção à Câmara dos Deputados. Cada entidade tem suas ferramentas para arrumar recursos e passar um, dois dias - as vezes até uma semana na capital federal. Se os manifestantes já morarem na cidade, os custos diminuem, mas ainda é preciso planejar, porque normalmente os grupos são grandes.

Leonardo Pinho, presidente de uma das mais de 3 mil e 500 cooperativas que formam a Unicopa, revela que a batalha para angariar dinheiro para as viagens é múltipla. A entidade realizou um seminário na Câmara em maio, trouxe 150 delegados de todo o Brasil e precisou de um esforço extra para garantir a logística desta turma.

"A gente teve parceria com projeto da União Europeia, nós buscamos parcerias às vezes com centrais sindicais pra essa questão de logística. E também o próprio financiamento das cooperativas como ator econômico também consegue financiar a vinda dos seus cooperados para fazer a defesa aqui de projetos de lei e a defesa de seus interesses aqui no Congresso Nacional".

Mesmo quem não mobiliza tanta gente vai atrás de estratégias para poder viajar. A ajuda das empresas privadas pode ser uma alternativa. Quem recorre a elas, por exemplo, é Denise Suguitani, da Associação Brasileira de Pais de Bebês Prematuros, que tem sede em Porto Alegre.

"A gente conta com projetos em parceria com a iniciativa privada para poder ter esse recurso, já que somos uma associação e contribuições de pessoas físicas não são significativas. Então a gente tem projetos com parceria com a iniciativa privada onde a gente mostra que realmente o trabalho de políticas públicas também é importante, assim como capacitar equipes de UTI, como falar em prevenção, vir aqui também é importante".

Raul Canal é presidente da AAPV, Associação de Assistência e Proteção Veicular. No Brasil inteiro, 4 mil e 500 entidades fazem parte do chamado mercado mutualista, uma alternativa aos seguros tradicionais de veículos. Raul mostra como as regras de sua atividade são aplicadas também na hora de organizar as viagens dos associados a Brasília.

"O princípio do mutualismo é o rateio. Então num grupo, numa cooperativa, um carro furtado num mês, no final do mês, rateia o prejuízo com o grupo. Da mesma forma é feito nas viagens: a gente rateia as despesas no grupo. A AAPV, o recurso dela é pequeno e a gente usa para fazer uma mídia institucional. Agora, cada um vem com os seus recursos, se hospeda com os seus recursos e rateia com os seus amigos lá no estado".

Planejar bem pode diminuir as despesas com passagens aéreas. Essa é a dica de Claudete Alves, do Sindicato dos Educadores da Infância da cidade de São Paulo.

"Como a gente não pode faltar muito, então a gente vem de avião, que é mais rápido. Aí a gente pede para as escolas ajudarem, se cotizarem. Alguns outros que ficam ajudam, cada um contribui, fazem rifa. Tem uns casos que a pessoa mesmo - eu paguei do meu bolso todo - e todo mundo aqui cada um pagou a sua estadia, a sua alimentação, a sua passagem aérea pra fazer esse trabalho".

As professoras de educação infantil e ensino fundamental se organizaram para conseguir bons preços.

"A gente tem uma pessoa no grupo que faz a pesquisa e a gente opta por horários, o que facilita, porque a gente tem que parcelar inúmeras (vezes), então é assim que a gente faz".

É possível também diminuir os custos com alimentação, estratégia usada pelo grupo de Alisson Tenório, da federação dos trabalhadores nos Correios.

"Geralmente a gente vem na parte da tarde, a gente pega o período da tarde, pós-almoço. Quando a gente precisa fazer algum trabalho a gente chega uma hora, uma e meia, duas horas e fica até... Às vezes tem corrida mesmo, nós vamos visitar os gabinetes dos deputados e tudo o mais".

Economizar na comida também é a solução das professoras de São Paulo para driblar a falta de dinheiro. É a presidente do sindicato da categoria, Claudete Alves, que explica, com muito bom humor.

"A gente já combina; a gente toma café da manhã e faz lanchinho, tá todo mundo com lanchinho. E a gente só janta, porque não dá para almoçar e jantar, o dinheiro não dá. Todo mundo é orientado: toma um bom café da manhã, faz um lanchinho do café da manhã, que já tá incluso, e aí a gente janta, procura um lugar barato e janta".

Guardar o pãozinho do café da manhã do hotel, procurar com antecedência passagens aéreas em promoção, contar com a ajuda de quem acredita na causa que move cada grupo. Os truques são variados, mas o princípio é o mesmo: não esmorecer no contato com os parlamentares e na visibilidade das reivindicações em meio aos trabalhos do Legislativo.

No último capítulo da reportagem especial, saiba como a vinda de grupos da sociedade civil organizada impacta o setor econômico dentro e fora da Câmara

Produção – João Paulo Florêncio

Trabalhos técnicos – Tony Ribeiro

Edição – Marcio Sardi

Reportagem – Cláudio Ferreira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h

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