Rádio Câmara

Reportagem Especial

25 anos do Plano Real

07/08/2019 - 03h00

  • Passados 25 anos de estabilização da moeda, quais são os desafios do Brasil hoje?

A implantação do real exigiu a superação de vários desafios.
Neste período, o país passou por 3 crises internacionais: a do México, em 95; a asiática, em 97; e a russa, em 98.

Com poucas reservas internacionais, o governo aumentava os juros a cada crise.
A taxa Selic chegou a 45% ao ano, em 99, aumentando o endividamento do país.

Outro problema, conta o ex-presidente do Banco Central, Pérsio Arida, era a fragilidade do sistema bancário:

“O Brasil já sofreu um ataque contra as reservas, de partida, por consequência da crise do México, que se tornou uma situação muito tensa, de partida. Outro desafio, que nós sabíamos que teríamos, mas que foi bem encaminhado, é o desafio bancário. Warren Buffet tem aquela frase famosa, que você só sabe quem está nadando pelado quando a maré baixa né? Então, existiam bancos eficientes e bancos ineficientes. Mas os ineficientes se sustentavam por causa dessa receita. Eles eram sócios da inflação. Todos os bancos eram sócios da inflação. E nós sabíamos que todos os bancos sofreriam um baque.”

O Proer, Programa de Reestruturação do Sistema Financeiro, foi criado em 95 para financiar a transferência de bancos quebrados - como o Econômico, o Nacional e o Bamerindus - para outros controladores.

A maior crítica ao programa foi o custo: cerca de 30 bilhões de dólares.
O ex-presidente da CPI do Proer, deputado Gustavo Fruet, do PDT do Paraná, também ressalta a falta de fiscalização e de controle do setor:

“Interessante analisar depois, com o tempo. Havia um descontrole com relação a uma eficiente regulação e a uma eficiente fiscalização. Isto gerou um movimento, considerando ativos, separação da chamada parte ruim da parte boa, fundo garantidor, recursos que foram utilizados num valor superior a 30 bilhões de reais.”

Pérsio Arida cita outro problema: o câmbio, que acabou estourando em 1999, logo após a reeleição de Fernando Henrique:

“O segundo problema que tinha era o que fazer com o câmbio. Aí que houve uma enorme divergência. Eu queria flutuar o câmbio imediatamente. Gustavo Franco queria manter o caminho fixo. No final, a maioria optou por manter o câmbio fixo. E eu resolvi ir embora do Banco Central. Teria sido melhor flutuar em 95? Sim, eu queria montar o tripé macroeconômico já em 95 - e não em 99. Teria sido mais arriscado? Também!”

O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que defendeu a paridade do câmbio, diz que a teoria esbarrou na realidade de um país que não tinha contabilidade pública e cujos governos emitiam títulos da dívida sem o menor controle:

“Possivelmente daqui a vinte anos, a gente vai olhar para as coisas que hoje se fazem sobre orçamento, finanças públicas e vai dizer: puxa! Como é que durante tanto tempo a sociedade se auto enganou, e nós deixamos de adotar o que todo mundo adota e já aprendeu e já está mais do que amadurecido no resto do mundo prá... sei lá por quê!”

A possibilidade de criação de uma moeda única no Mercosul, o peso real, e o crescimento das criptomoedas, como meio de circulação fora do controle do estado, mostram que a estabilização monetária foi apenas um passo na consolidação de uma economia sólida.

É o que destaca o consultor Márcio Nogueira:

“A maior característica que o bitcoin tem é que ninguém mais controla a moeda. Não há nenhum país que seja capaz de controlar, nenhuma instituição, nem mesmo os hackers até hoje tiveram a capacidade de controlar o sistema de funcionamento do bitcoin.”

Mas, passados 25 anos da estabilização da moeda, quais são os desafios hoje?

Para o deputado Vanderlei Macris, vice-líder do PSDB, é o equilíbrio fiscal:

“O plano real foi um plano que teve começo meio e fim. Agora, depende muito de os gestores do país estabelecerem metas importantes para garantir a estabilidade Econômica como, por exemplo, austeridade fiscal. Esse é um processo que a gente está buscando como o caso da reforma da Previdência, que nós estamos agora discutindo aqui no Congresso Nacional.”

Na visão do diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana, o Brasil precisa se inserir mais no mercado globalizado:

“Há uma série de pré-condições de convergência de políticas macroeconômicas, de maior integração, abertura comercial e uniformização de políticas e comerciais etc. Então, acho que temos uma longa avenida enquanto país, pensando, né, o Brasil de se inserir mais na economia Global, abrir sua economia, se tornar mais competitivo, avançar nessa agenda de estabilidade.”

Na opinião de Pérsio Arida, o desafio, agora, é gerar empregos:

“Então, o sistema democrático e o peso que a população dá para a estabilidade de preço são os grandes fiadores do atual sistema. O que pode complicar? Temos o desafio fiscal, enorme! Mas eu acho que hoje o problema não é tanto manter a inflação baixa, o nosso problema hoje se deslocou para outra área: é o baixo crescimento e emprego.”

Já para o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana, garantir a estabilidade da moeda é um desafio permanente:

“Acho que deu certo. Comemorarmos 25 anos é realmente um marco. Acho que é testemunho desse sucesso. A estabilidade macroeconômica é um bem público é algo que beneficia a todos na sociedade. É importante que tenhamos isso em mente para sempre perseguir e zelar pelas instituições que garantem esta estabilidade macroeconômica.”

Pérsio Arida diz que o Real é um plano que deu certo, contra todas as expectativas:

“Nós estamos acostumados no país quando as coisas normalmente dão errado ou frustram. E esse é um caso em que ela não só deu certo como superou qualquer expectativa.”

Aos 25 anos, o Real não é a moeda mais longeva do Brasil, mas é – com certeza – a mais estável. O réis, por exemplo, primeira moeda brasileira, durou 400 anos, mas foi marcada pela instabilidade.

Capítulo 1: Os 25 anos do Plano Real - os tropeços que nos permitiram encontrar o caminho da estabilidade monetária

Capítulo 2: Os 25 anos do Plano Real - a implantação da nova moeda e os desafios dos primeiros anos

Trabalhos técnicos - Ribamar Guimarães
Edição de rádio - Mauro Ceccherini
Reportagem - Cid Queiróz

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h

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