Primeiros Parágrafos
O Braço Direito, de Otto Lara Resende
29/06/2018 - 16h31
-
O Braço Direito, de Otto Lara Resende
"Como diz o padre Bernardino, o hábito é uma segunda natureza. Não adianta me recolher antes da hora. Custei a arranjar no Asilo repleto de crianças órfãs de cabeças raspadas este cantinho para me esconder. Enquanto todo mundo dorme, posso ler e meditar. Ou nem ler. Nem meditar. Posso escrever, o que é inconveniente, sobretudo se escrevo sobre mim, para mim mesmo. A menos que aproveite para fazer um exame de consciência, o que implica riscos que por enquanto não quero correr. Preciso muito mais esquecer do que lembrar.
O isolamento em que vivo me deixa inseguro e inquieto. Acordo no meio da noite e já nem sei quem sou. Tenho de me agarrar à beira do abismo para que a vertigem não me arrebate."
Narração - Luiz Cláudio Canuto