Primeiros Parágrafos
Dublinenses, de James Joyce
01/06/2018 - 14h00
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Dublinenses, de James Joyce
“Desta vez não havia esperança para ele: fora o terceiro ataque. Noite após noite, ao passar diante da casa (era tempo de férias), observava o retângulo iluminado da janela e, todas as noites, encontrava-o com a mesma luz pálida e uniforme. Se estivesse morto, pensava, eu veria o reflexo das velas nas cortinas escuras, pois sabia que duas velas devem ser colocadas à cabeceira de um defunto. Dissera-me várias vezes ‘não ficarei muito tempo neste mundo’ e eu julgara vãs suas palavras. Sabia agora que eram verdadeiras. Toda noite, ao olhar a janela, murmurava comigo a palavra paralisia. Ela sempre soara estranha aos meus ouvidos, como a palavra gnômon em Euclides e simonia no catecismo. Agora, porém, soava como o nome de um ente maléfico e pecaminoso. Enchia-me de terror, mas ainda assim ansiava contemplar de perto seu trabalho implacável.”
Narração - Luiz Cláudio Canuto