Rádio Câmara

Reportagem Especial

Fake News: o que são

07/05/2018 -

  • Fake News: o que são (bloco 1)

  • Fake News: anonimato na rede (bloco 2)

  • Fake News: projetos em tramitação (bloco 3)

  • Fake News: relação com as eleições (bloco 4)

  • Fake News: como evitar (bloco 5)

Já ouviu falar em fake news? Esse é um termo inglês que quer dizer simplesmente notícia falsa. Não há consenso exatamente sobre o que seriam essas notícias. Passam desde o bom e velho boato, que circula como uma fofoca, até notícias fabricadas propositalmente para atingir um objetivo. E abrange, ainda, o conceito de pós-verdade.

Em 2016, o dicionário Oxford definiu "pós-verdade" como sendo a palavra do ano. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1992, mas ganhou outra dimensão com a expansão da internet. Hoje, uma notícia se espalha em poucos minutos e ganha status de verdade apenas por ter sido compartilhada em uma rede social ou através de um aplicativo de mensagem.

Segundo o dicionário Oxford, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais para moldar a opinião pública. E é utilizando essa característica que são criadas e divulgadas notícias com intenção de obter vantagens econômicas ou políticas. As já citadas fake news.

Em seminário promovido pelo Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, Marcelo Vitorino, professor de marketing político e digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing, destacou que é importante definir o que é exatamente fake news e como agem os replicadores.

Segundo Vitorino, é preciso separar aqueles que criam e divulgam as notícias com o objetivo de causar danos de um mero replicador, que é a pessoa que não teve o trabalho de checar um fato e que simplesmente compartilhou.

Marcelo Vitorino: "Antigamente, tínhamos a parte de impressos que eram os panfletos apócrifos, distribuídos em eleições, geralmente na sexta ou no sábado à noite antes da eleição, e aquilo mudava o resultado eleitoral, porque havia carros de som, rádios piratas e o boca a boca. Com a guerrilha e a fake news, nós entramos em outro universo. Há blog, rede social, e-mail, mensagem instantânea e também os agregadores multimídia, coisa que eu não vi muita gente falando. O YouTube é um agregador multimídia. O YouTube é também uma plataforma de hospedagem de fake news, sim."

Marcelo Vitorino divide o que ele chama de guerrilha para distribuição de notícias falsas em quatro elementos principais. O criador, que pode ser uma agência ou profissionais contratados, cidadãos comuns ativistas e militantes ideológicos. Os hospedeiros são profissionais especializados em hospedar os conteúdos sem deixar rastros. Os disseminadores que, na maioria das vezes, são cidadãos comuns, mas podem ser ativistas também. E há o motivador, que é quem paga a conta. Vitorino explica como é esse funcionamento, a partir de quando um criador recebe uma demanda.

Marcelo Vitorino: "Ele adquire equipamentos no mercado paralelo de forma que não se consegue rastrear o código do aparelho. Ele abre contas em ferramentas e em plataformas. Depois disso, ele pesquisa públicos e canais e desenvolve conteúdos, e desenvolve um ambiente de hospedagem, que é onde, efetivamente, vai colocar a notícia falsa. Ele tem que ter uma casinha, tem que ter um site. Aí há o hospedeiro que vai lá e simplesmente deixa esse conteúdo todo ativo. Ele passa a não ter contato mais com o criador... Isso é como se fosse uma quadrilha. Eu estou deixando isto claro para vocês: isso é uma quadrilha. É como quando os sequestradores passaram a terceirizar quem sequestra, quem mantém no cativeiro. Isso é fake news hoje. Esse é o tipo de fake news que bagunça uma eleição. Não é a do usuário comum. Depois disso, há o disseminador, que é aquele que dissemina o conteúdo usando perfis falsos. Ele impulsiona usando cartão de crédito pré-pago. E ele envia o conteúdo pelo serviço de e-mail e WhatsApp."

O jornalista Rodrigo Flores, diretor de conteúdo do UOL, frisa que fake news não é boato. Para ele, a palavra boato passa a ideia de alguma coisa despretensiosa. Enquanto que, as notícias falsas são estruturadas e pensadas para atingir um objetivo.

Rodrigo Flores: "Fake news, para mim, é um conteúdo deliberadamente falso. Ou seja, não é erro; ninguém errou ali; não foi sem querer. A imprensa erra – erra mais do que deveria, inclusive –, mas é erro. Nós corrigimos os nossos erros: nós temos páginas de errata, nós temos o "erramos". A gente vê com maus olhos o erro; a gente luta para não errar. Esse conteúdo, não. Ele é fabricado para ser errado. Ele é deliberadamente falso. Ele mimetiza a notícia. Então, não estamos falando de veículos estabelecidos. Estamos falando de uma página de internet, ou de uma página de celular, que parece notícia. Só parece; só tem o leiaute; tem o mesmo tipo de letra, fundo branco, e é isso aí. Não é notícia."

Rodrigo Flores acrescentou que só é possível distribuir conteúdo falso porque existe um canal para que ele escoe, através das redes sociais. Para ele, qualquer discussão sobre fake news necessariamente tem que passar pelas redes sociais.

Já a jornalista Bia Barbosa, Secretária-Geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, alerta que o fenômeno das chamadas fake news não se restringe à internet.

Bia Barbosa: "A internet é uma plataforma que, claro, concordando com os que me antecederam, potencializa, aumenta brutalmente a velocidade e o alcance desses conteúdos, mas ela é um ambiente onde esses conteúdos se desenvolvem e não é o único ambiente em que esses conteúdos se desenvolvem. É fundamental a gente lembrar, se a gente está tão preocupado com esse debate porque estamos às vésperas de um processo eleitoral, a gente precisa lembrar também o quanto os meios tradicionais também, historicamente, incidiram em processos eleitorais no Brasil."

Segundo Bia Barbosa, artifícios como manipulação de notícias, desinformação, descontextualização e uma cobertura enviesada dos meios de comunicação sempre existiram, e têm que ser combatidos assim como a propagação das notícias falsas.

No próximo capítulo, vamos saber como o anonimato favorece as fake news.

Reportagem - Mônica Thaty
Edição - Mauro Ceccherini
Produção - Daniela Rubstem
Trabalhos Técnicos - Milton Santos

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h