Rádio Câmara

Papo de Futuro

Pokémon Go – porque ser um pouco idiota não é crime!

16/08/2016 - 09h00

  • Pokémon Go – porque ser um pouco idiota não é crime!

Mas eu disse Google mesmo! Nintendo, Google... o mundo de hoje, real, virtual, ou a tal da realidade aumentada, é tudo bem complexo mesmo!

Eu vou logo avisando que não tenho nenhuma credencial para falar sobre o Pokémon Go, esse jogo que está enlouquecendo, para o bem ou para o mal, os jovens, e aquelas pessoas que cuidam dos jovens. O engraçado é isso: enquanto as mulheres gravam vídeos na internet coroando o Pokémon Go como o grau máximo do “idiotômetro” humano, os rapazes se divertem a valer, ou fazem de conta, nos parques da cidade. Mas o Pokémon Go, para quem sabe, é um vírus novo que atingiu o seu celular, aquele aparelho que hoje em dia é mais importante para você do que a sua carteira de dinheiro.

Então, com ele, você pode sair por aí caçando bonequinhos bem infantis que são projetados na tela do seu celular como se estivem naquele banco da praça. Mas não está!!! Ou seja, Pokémon Go é um prenúncio, uma porta de entrada bem incipiente desse mundo da realidade aumentada ou virtual, que um dia vai chegar para nós. Como?

Vou explicar melhor. Como eu disse, nunca joguei Pokémon Go. Portanto, não pertenço ainda ao lado mais idiota da humanidade. Mas a histeria do jogo até entre especialistas de telecomunicações me fez parar para perguntar: o que é isso, camarada?

O Pokémon Go é mais do que um bonequinho perseguido por “criancinhas” grandes fissuradas, atravessando a rua sem olhar ou caindo de penhascos. Bem, isso já acontece com o WhatsApp, o Facebook, e ninguém quer demonizar essas redes sociais por isso. O fato é que ele é uma prévia, dá um sabor daquela Sociedade da Informação em que estaremos todos clicando em telas de cristal à frente de nós para recebermos informações como se fossem uma cachoeira.

Por hora, essa celebrada sociedade informacional se viraliza com pessoas muito ocupadas tentando fazer alguma coisa mais divertida em suas vidas do que trabalhar: outro dia, no final da tarde, eu passei pelo Parque da Cidade aqui de Brasília, de carro, e achei que houvesse uma conferência, cheio de homens parados no parquinho do foguete, o Ana Lídia, todo mundo olhando o celular!!! Eu achei o máximo poder testemunhar, nas ruas, o que todo mundo está dizendo na net, e fazer essa conexão entre tempo e espaço me fez me sentir mais conectada do que nunca.

O que, de fato, interessa nessa história de Pokémon Go, no meio de tantos vírus e memes e fenômenos que atacam essa nova sociedade é o poder que os celulares estão adquirindo em nossa vida!!! E não há regras para isso, a não ser: não dirija teclando!!!

Não há regras para você saber que, ao permitir que o Pokémon Go acesse seus dados, suas fotos, sua câmera, você está colocando um estranho dentro da sua casa, talvez até na sua cama!

E este estranho pode ser a CIA!!! Não é nada romântico, no mundo virtual, dormir com um espião do seu lado, e a presidente afastada Dilma Rousseff disse isso ao Obama, aos ser espionada pelo serviço de inteligência americano, e o risco não é mais apenas o de você se tornar o consumidor mais customizado do mundo para o Google e as redes sociais te encherem de propaganda dirigida.

Ninguém sabe o que pode acontecer ao certo com essa devassidão de informação que aplicativos como Pokémon Go promovam, ou seja, sua avó, seu cachorro e a boneca inflável, o seu maior segredo, tudo está lá, na sua tela do seu celular, sendo transmitido via GPS para o mundo. Pelo menos foi o que eu ouvi num vídeo hilário e apocalíptico sobre os riscos do Pokémon Go, isso porque os primeiros Pokémons que aparecem estão na sua casa!!! Talvez até dormindo com a sua boneca inflável...

Um colega me dizia que o filho dele vai para a casa da namorada... para caçar Pokémons!!! Isso mostra, principalmente, que uma tela de acrílico é um filtro excelente para essas complexas relações humanas, porque nos oferecem a chance de fazer o que é difícil no face-a-face: deletar alguém. Assim, cada vez mais, nossas relações são relações a três: eu, você e o celular, seja você, o seu chefe, o namorado, a avó ou a boneca inflável!!!

A vida já é bem difícil para crucificarmos o Pokémon Go porque o jogo pode ser apenas uma estratégia para melhorar os mapas do Google ou porque suas preferências de consumo, seus hábitos noturnos e talvez seus segredos mais inconfessáveis estão sendo relevados ali, e mantidos em “segredo” – assim, entre aspas – pelos milionários do mundo virtual ou da realidade aumentada.

Existe toda uma indústria de produtos e serviços por trás do novo aplicativo. Um exemplo: numa notícia que li diz que, no Player Auctions, há mais de 1,5 mil contas de Pokémon Go à venda. Os preços variam de US$ 5 até US$ 11 mil¹. Cada conta é descrita em detalhes, incluindo seu nível, lista de Pokémons Go capturados e a experiência de cada um deles, além da quantidade de alguns recursos importantes para o desenvolvimento do jogo, como stardust e candies.

Enfim, tudo isso é mandarim para mim, mas antes de criticar ferozmente ou aderir cegamente, é importante saber como se divertir sem virar piada para a CIA ou objeto de violação máxima dos seus dados pessoais e do seu direito à privacidade.

Você sabia que pode não habilitar a sua câmera ao jogar? Ou não liberar o acesso aos seus contatos pessoais? Ou não dar uma pausa para viver e não deixar que os Pokémons tenham mais intimidade com você do que a sua mulher?

Para mim, jogar Pokémon é como lavar o carro depois de um dia de trabalho! Você só precisa de uma pausa no cérebro, ou seja, fazer uma coisa idiotizante não quer dizer que você é idiota, mas apenas que você precisa respirar e voltar a ser criança de vez em quando. O mundo adulto é muito, muito chato. E a tecnologia, o smartphone é muito, muito viciante!!!

Em pouco tempo, o mundo se ajusta. Mas, até lá, porque não aproveitarmos o entusiasmo do jogo para acelerar a tramitação do Projeto de Lei 5276 de 2016²  aqui na Câmara dos Deputados, criando a categoria dos dados sensíveis, segundo o qual a Nintendo deve ser bastante cautelosa no tratamento dos dados de seus usuários patetas, digamos assim!!! Seja com fins comerciais, políticos, ideológicos ou o que for, seus dados terão que ser mantidos em sigilo e você terá a quem reclamar, se isso não acontecer, e é assim que deve ser, também, no mundo da realidade aumentada do Pokémon Go.

Mas cuidado, porque a febre da caça aos bichinhos ainda pode aumentar, quando estiver no mercado a versão Pokémon para caçar os torcedores do time de futebol rival. Dizem que, dependendo do time, o nível de dificuldade para achar algum torcedor vai ser altíssimo! Bem, desculpem a brincadeira, afinal, não é de joguinhos e diversão que estamos falando?

Acho que poderiam apenas ter caprichado no visual do bonequinho, criado há mais de 20 anos atrás e que todos achavam que já era um velhinho!!! Talvez Barbie para os meninos, ou Batman para as meninas, fosse mais empolgante!!! Afinal, a gente sabe que criatividade e diversão na Net não têm limites. Cada um que coloque o seu!!!

Eu sou a Beth Veloso e esse é o Papo de Futuro. Mande suas sugestões e conte suas diversões por meio de papodefuturo@camara.leg.br

 

¹ Disponivel em: http://www.mobiletime.com.br/11/08/2016/pokemon-go-venda-de-contas-movimenta-a-web/454387/news.aspx?__akacao=3589342&__akcnt=270ac224&__akvkey=3066&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=MOBILE+TIME+News+-+11%2F08%2F2016+22%3A33. Acessado em: 15.08.2016.

² Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2084378. Acessado em: 15.08.2016.

 

***Poderá haver diferenças entre o texto escrito e a coluna realizada ao vivo no programa "Com a Palavra", da Rádio Câmara***

Roteiro e comentários – Beth Veloso
Apresentação – Elisabel Ferriche e José Carlos Oliveira

Coluna semanal sobre as novas tendências e desafios na comunicação no Brasil e no mundo, da telefonia até a internet, e como isso pode mudar a sua vida.

Terça-feira, às 8h