Rádio Câmara

Reportagem Especial

Desafios na geração de emprego: cai desemprego, mas salários ainda são baixos

02/03/2015 - 08h00

  • Desafios na geração de emprego: cai desemprego, mas salários ainda são baixos (bloco 1)

  • Desafios na geração de emprego: a pauta trabalhista na Câmara (bloco 2)

Em tempo de ajuste na economia, especialistas preveem aumento do desemprego em todo o país. Até agora, os índices continuam em queda. Mas o valor médio dos salários, por exemplo, já diminuiu. Os desafios na geração de empregos são o tema da reportagem especial desta semana, em três capítulos.

A taxa de desemprego média do Brasil fechou 2014 em 6,8%, pouco abaixo dos 7,1% de 2013 e inferior aos 7,4% de 2012. Foi o que mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Pnad Contínua substituirá a tradicional Pesquisa Mensal de Emprego, que verifica, a cada mês, a situação do mercado de trabalho em seis regiões metropolitanas do País: Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador.

Segundo a PME, a taxa de desemprego nas regiões metropolitanas vem caindo desde que começou a ser medida, em 2002. Com isso, a taxa média de desemprego do ano passado ficou em 4,8%, marcando o menor nível histórico, abaixo dos 5,4% vistos em 2013.

Mesmo com a diferença entre as taxas apresentadas, o IBGE estuda manter a Pesquisa Mensal de Emprego ainda em 2015.

Os índices foram comemorados durante o discurso de posse da presidente reeleita Dilma Rousseff:

"Nunca tantos brasileiros ascenderam às classes médias. Nunca tantos brasileiros conquistaram tantos empregos com carteira assinada. Nunca o salário mínimo e os demais salários se valorizaram por tanto tempo e com tanto vigor".


De acordo com o levantamento, no entanto, a queda da taxa de desemprego não se deu exclusivamente em razão da criação de novos postos de trabalho – já que a ocupação caiu 0,9% em relação ao mês de dezembro e ficou estável em janeiro – e, sim, pela redução no número de pessoas procurando emprego.
É considerado desempregado quem procura emprego e não encontra.

Segundo pesquisadores, há quatro principais motivos que levam pessoas a desistirem de procurar emprego. O primeiro deles é positivo: o aumento no número de universitários no País, que optam apenas por estudar; em seguida, o aumento no número de pessoas idosas; em terceiro lugar, os beneficiários de programas assistenciais, como o programa Bolsa Família; e, na sequência, aqueles que recebem seguro-desemprego.

De acordo com pesquisa do Sindicato Nacional da Construção Civil (Sinduscon) feita em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a contratação de mão de obra na construção civil caiu 0,14% ao longo de 2014, com corte de 14,8 mil postos de trabalho no período de janeiro a novembro.

O presidente do sindicato no Distrito Federal, Júlio César, aposta em qualificação para melhorar a condição dos trabalhadores que estão perdendo emprego, já que a tendência de desaceleração, segundo ele, começa a mostrar seus primeiros sinais.

"Nós temos que pensar na qualificação e também no processo construtivo, já que a construção civil, por muito tempo, passou a fazer a alvenaria normal, a forma com concreto, e hoje nós temos que dar um salto na parte profissional e de qualificação técnica dessas pessoas e também nos processos construtivos."


A taxa de desemprego no Brasil deve continuar crescendo nos próximos dois anos e atingir 7,1% em 2015 e 7,3% em 2016 e 2017, prevê a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no relatório "Perspectivas para o emprego e o social no mundo – Tendências para 2015".

Quem também concorda com essa perspectiva é o economista e ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo Freitas. Ele faz uma análise não só do emprego, mas de um novo ciclo que só será iniciado em 2017 e que trará novas perspectivas, também, ao mercado de trabalho:

"O ano de 2015 será um ano de ajustes, como todo mundo sabe. De modo que deve ser um ano de sacrifícios, ou seja, algumas despesas e investimentos devem ser adiados e alguns gastos de consumo também. 2016 também deve ser um ano difícil. Então, 2017, podemos olhar uma perspectiva positiva".

As taxas de desemprego previstas em relação ao Brasil em 2015 e nos dois próximos anos se situam acima da média mundial e também dos índices médios na América Latina e Caribe e dos países do G20, grupo que reúne as principais economias do planeta, entre elas o Brasil.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o emprego no Brasil está crescendo de forma quantitativa, com aumento de empregos com carteira assinada e do rendimento real.

Mas o Ipea constata que os brasileiros estão longe de alcançar a situação de pleno emprego. O salário médio foi de R$ 2.129 em outubro do último ano, contra R$ 1.980 em outubro de 2013, por exemplo.

É o que mostra também o relatório da OIT: o subemprego e o emprego informal deverão permanecer elevados nos próximos cinco anos, na maior parte de países emergentes e em desenvolvimento.

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 80% das vagas criadas na economia são remuneradas em até dois salários mínimos. A quantidade de empregados domésticos representa cerca de 7% das ocupações nas regiões metropolitanas.

Para o economista Carlos Eduardo Freitas, a situação só será contornada à medida que o equilíbrio econômico seja recuperado:

"Retomar o equilíbrio macroeconômico, o investimento começa a se recuperar e, nesta medida, o emprego volta, a criação de novos empregos retorna, os salários sobem. A equação fiscal fica mais fácil".

Em comparação com outros países, a taxa de desemprego no Brasil está entre as mais baixas.

Levantamento do site Trading Economics mostra poucos países em situação melhor, como a Suíça (3,2%), o Japão (3,5%) e a China (4,1%). Alguns estão em situação semelhante ou pouco pior, como México (4,7%), Alemanha (4,9%), Rússia (5,1%) e Estados Unidos (5,8%). Os países da Zona do Euro, por outro lado, estão com a taxa de desemprego média de 11,5%. Mas, o índice brasileiro não pode ser considerado tão positivo, já que muitos dos que estão neste último grupo ainda enfrentam um duro recomeço após a crise europeia.

Confira, no segundo capítulo da reportagem: os fatores que influenciam o desemprego já rondam a economia brasileira.

Reportagem – Thyago Marcel
Trabalhos técnicos - Tony Ribeiro
Edição - Mauro Ceccherini

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