Rádio Câmara

Reportagem Especial

Vitamina D: a complementação deve ser feita sob supervisão médica

08/11/2013 - 14h37

  • Vitamina D: a complementação deve ser feita sob supervisão médica

A Rádio Câmara apresenta, nesta semana, uma série especial de cinco reportagens sobre a vitamina D.

Hoje, na última matéria da série, você vai ouvir como a vida urbana moderna tem impedido a população de conseguir os níveis desejados de vitamina D. Também vai perceber que existe uma divergência na classe médica em relação às doses que devem ser prescritas para suprir a falta da substância no organismo. A reportagem é de Renata Tôrres.

Pesquisas internacionais e nacionais confirmam que a maior parte da população dos diversos países está com níveis de Vitamina D considerados deficientes ou insuficientes.

A maior fonte da Vitamina D é o sol - ou seja, tomar sol é necessário para que o corpo sintetize a substância. Por isso, a forma de resolver essa deficiência deveria ser relativamente simples, principalmente no Brasil, um país tropical e ensolarado.

No entanto, cada vez mais, as pessoas ficam menos tempo expostas ao sol, como destaca o neurologista Cícero Coimbra, professor da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, especialista em Vitamina D:

"Não adianta você morar num país tropical, se você vive e trabalha em ambientes confinados: você chega de manhã, quando não tem sol, e sai de noite, quando já desapareceu o sol. E, durante todo esse tempo, você até almoçou no restaurante do próprio local onde você trabalha. As pessoas deixaram de ir a praças, as pessoas deixaram de ir a parques: elas frequentam shopping centers. As crianças não brincam mais de bola no quintal ou no playground do edifício: elas gastam tempo com o videogame. Isso está provocando um problema seríssimo de saúde pública, de uma proporção que não se imaginava há apenas 10 anos atrás."

Cícero Coimbra afirma que a falta da Vitamina D no organismo favorece o surgimento de diversas doenças, como câncer, hipertensão, diabetes, enfartos e derrames, além de distúrbios psiquiátricos, como depressão, esquizofrenia na adolescência e distúrbio bipolar. Sem deixar de mencionar as doenças autoimunes, como esclerose múltipla e lupus.

A exposição das pessoas ao sol também fica prejudicada pelo risco de câncer de pele, principalmente para quem tem pele e olhos claros, já que o uso de qualquer filtro solar impede a absorção de Vitamina D. Então, com tantos empecilhos, como resolver o problema da carência de Vitamina D?

A substância é encontrada em alimentos, mas é quase impossível conseguir quantidades adequadas da Vitamina D a partir de uma dieta. Por isso, é necessária a suplementação medicamentosa. O primeiro passo para saber se o paciente tem suficiência ou não de Vitamina D é fazer um exame de sangue específico para isso. A partir daí, o médico prescreve a dose recomendada.

No Brasil, a Vitamina D normalmente é comercializada em associação com outras substâncias, principalmente polivitamínicos. Também é encontrada em associação com o cálcio e a Vitamina A.

Os produtos que contêm a Vitamina D sozinha só são comercializados com doses de 200 unidades internacionais (UI) por gota ou comprimido. Eles estão registrados no Brasil como suplemento alimentar, não como medicamento. O médico e deputado Walter Feldman, do PSB de São Paulo, considera a dose de 200 unidades muito baixa:

"No mercado tem produtos como o Depura, e uma gota são 200 unidades. Vai ter que tomar muitas gotas para você ter o nível mínimo necessário para atingir a dosagem sanguínea. Nas farmácias americanas, nos supermeracados americanos, você compra, nas prateleiras, Vitamina D de 10 mil unidades. Então, aqueles que não quiserem produzir em farmácias de manipulação, é só importar: você terá a dose que o Brasil deveria ter. A Anvisa proíbe aqui. Medicamento não pode ter a gota acima de 200 unidades, para dar, exatamente, 400 para crianças, 800 para o adulto - o que, na nossa avaliação, é uma dosagem muito baixa."

A Rádio Câmara entrou em contato com a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para que o órgão explicasse o motivo da limitação na comercialização das doses de Vitamina D. Em nota, a assessoria de imprensa do órgão explicou que a Anvisa não proíbe a comercialização de doses mais altas da substância.

Segundo o órgão, é o fabricante do produto quem propõe a dosagem a ser vendida. Ao propor a dose, diz a nota, o fabricante deve justificar, com estudo e dados válidos, que a dosagem tem garantia de eficácia e segurança para o paciente, de acordo com a indicação da bula. Assim, segundo a Anvisa, não existe uma proibição ao registro de Vitamina D com doses acima desse patamar, mas como qualquer medicamento, a dosagem deve ter justificativa técnica.

O maior efeito colateral de doses altas e inadequadas da Vitamina D é uma absorção excessiva de cálcio a partir dos alimentos, a ponto de calcificar os rins e fazer com que parem de funcionar. Se isso acontecer, a pessoa pode chegar ao ponto de ter que fazer hemodiálise. Por isso, a dose medicamentosa da Vitamina D deve ser definida pelo médico.

Entretanto, de acordo com o neurologista Cícero Coimbra, essa intoxicação só acontece com doses elevadíssimas. Segundo ele, existe muita desinformação da classe médica sobre a Vitamina D, o que faz com que os profissionais prescrevam quantidades muito baixas, que não suprem as necessidades do organismo:

"Diversas doenças graves e incapacitantes, como a própria esclerose múltipla, seriam evitadas com uma dose tão simples como 5 mil unidades, que não tem risco nenhum, mas que, por ignorância, a grande maioria - ou por falta de informação, não vou dizer ignorância, mas falta de ter esse ímpeto de buscar informação - a própria classe médica acaba dizendo que é tóxica. Então, existe muita desinformação. O principal vetor dessa desinformação é o fato de que o Instituto de Medicina, Institute of Medicine, dos Estados Unidos recomendou, no final de 2010, outubro de 2010, ao governo norte-americano, não aconselhar aos médicos prescreverem mais do que 400 unidades por dia. Isso é um crime de saúde pública."

Cícero Coimbra também afirma que que a combinação de doses preventivas de Vitamina D com alimentos que contêm cálcio, como leite e derivados, não causa toxicidade:

"A minha filha toma 10 mil unidades de Vitamina D há quatro anos e não faz nenhuma dieta. Então não há porque se preocupar com cálcio nessas doses preventivas que seriam oferecidas a toda a população."

Durante congresso realizado em julho em Houston, nos Estados Unidos, o endocrinologista Fabiano Sandrini apresentou pesquisa que comprova a falta de Vitamina D na maior parte da população do Brasil. Ele trabalha na Dasa, empresa proprietária de 25 laboratórios de análises clínicas localizados em 13 estados.

Fabiano Sandrini destaca que é muito raro, nos exames de sangue, encontrar pessoas com doses de Vitamina D acima do normal, que possam ser consideradas tóxicas:

"Felizmente isso é muito raro, né? Até porque, como deu para ver, a maioria das pessoas estão até faltando Vitamina D. A Vitamina D, para ser tóxica, você tem que estar fazendo uma ingestão muito alta de Vitamina D. O que as Sociedades (Brasileira e Americana de Endocrinologia) recomendam, é você fazer 2 mil unidades por dia, em média, para tratamento. Dez mil? Não há estudos do quão seguro é. A gente sabe que, numa forma menos oficial, que a probabilidade de 10 mil intoxicar não é tão alta. Mas se, ao mesmo tempo, aqui no laboratório a gente viu que era bastante comum a deficiência, e os exames estão sendo pedidos cada vez mais, por outro lado, o número de valores acima de 150, que são considerados tóxicos, também aumentaram."

O endocrinologista Fabiano Sandrini dá a receita para quem acha que tem falta de Vitamina D:

"O tratamento da deficiência de Vitamina D tem que ser feito como o tratamento de qualquer outra doença. É sempre importante fazer uma consulta com seu médico de confiança, para ver se, de repente, é isso realmente que você precisa, para ver se a dose está correta, se o tempo está correto e, principalmente, se é que você realmente precisa da Vitamina D."

Ou seja, nada de automedicação. A suplementação da Vitamina D com medicamentos só deve acontecer com orientação médica.

Da Rádio Câmara, de Brasília, Renata Tôrres

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h